O Porção para dois traz fotografias em preto e branco compiladas em um vídeo, ao ritmo de Tom Zé. Marcadas por muita textura e contraste, as imagens do projeto dão destaque para o elemento humano e seu entorno.
O trabalho foi realizado por Ana Clara Amato Muner, aluna do 2º ano de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, e seu companheiro Lucas Viana Silva, fotógrafo de Brasília. A dupla viajou pelo Brasil, em julho de 2014, para conhecer comunidades, mostrando e perpetuando por meio de fotografias a mestiçagem do povo brasileiro, seu meio e cultura.
“O Brasil é uma mistura. Queríamos registrar isso e, também, como [as pessoas] fazem para sobreviver e expressar sua cultura. Passamos pela Festa do Divino, em São Paulo e pela Praia do Sono, no Rio de Janeiro. Conhecemos italianos na Venda Nova do Imigrante, no Espírito Santo, a Tribo Pajé, de Brasília, o Quilombo Kalunga, o maior do Brasil, em Goiás e Itacaré e Salvador, na Bahia”, relatou Ana.
O mês de viagem teve financiamento próprio. Para ajudar nos custos, imprimiram cartões postais com as fotos e venderam ao longo do trajeto. Agora, a dupla participa do edital Marc Ferrez, da Funarte, para conseguir patrocínio e viajar de Recife, fotografando bonecos de mamelengo, ao Acre, registrando o plantio de Santo Daime, e também o candomblé, o catolicismo e o maracatu rural.
A outra face
Em alguns momentos, as pessoas responderam à presença dos fotógrafos de forma hostil, seja intimidando com perguntas sobre direitos autorais ou ameaças mais agressivas, em que moradores locais chegaram a avisar a dupla do perigo que corriam, fazendo com que eles tivessem que se realocar às pressas.
Ana explicou que, apesar de não ganharem e não buscarem remuneração pelo trabalho, fotografar algumas comunidades não deixa de ser uma exploração. “É assim que eles [pessoas fotografadas] se sentem. A gente não sabe nem o nome das pessoas que fotografamos e elas não sabem o objetivo da foto e não vão ganhar nada em troca.” Para lidar com a situação, Ana e Lucas fazem uso do diálogo com quem pretendem fotografar, pedindo autorização para captar imagens e disponibilizando-se a mostrar o resultado final. Ainda assim, nem sempre dá certo.
A dupla também procura sair da via documental e tratar o projeto mais como uma forma de arte: “registramos o que a gente enxerga que as pessoas não enxergariam na cena, procurando textura, sempre”, afirmou Ana, “o intuito é fazer o que a gente ama e mostrar o belo das comunidades […] uma tentativa de, em vez de trazer conhecimento de fora, fortalecer o que tem aqui dentro”.