Diferenças sociais e patriarcado são uma realidade; mas telenovelas de gatas borralheiras e filmes como Que horas ela volta? e Roma mostram que é possível se rebelar contra essas barreiras e que pode haver sororidade entre protagonistas de lindas histórias. Costureira de sonhos se passa na Índia, onde a sociedade de castas é algo por demais arraigado à cultura. No filme, a diretora Rohena Gera testa a nossa descrença no respeito entre as pessoas e numa sociedade igualitária. Na porta principal do apartamento de luxo onde vivem, o rico engenheiro Ashwin (na suíte) e Ratna, sua serviçal (no quartinho de empregada), se esbarram e confundem seus papéis: a serviçal abre a porta para o patrão ou o cavalheiro para a dama? Eles se conhecem, afagam suas tristezas em diálogos tímidos e admiram os sonhos alheios. Mas Ratna recusa a paixão do patrão e se vai. Não pode haver nada mais destrutivo do que o autopreconceito.

As cores e a leveza do filme convidam o espectador a entender que seria demais se ela, uma jovem viúva audaciosa que trabalha na cidade para fugir das tradições da vila onde nasceu, superasse com tranquilidade a distância cultural e social entre eles. Apesar de ele ser o homem mais gentil e respeitoso que ela já conheceu, é aceitável que ela não queira ser confundida como prostituta do patrão e zombada pelos colegas. O celular dela toca: é ele. Ratna bem que poderia chamá-lo de Ashwin em lugar de sir