INSCRIÇÕES ABERTAS PARA O VESTIBULAR DE VERÃO 2025 Fechar

Após uma eleição conturbada e com o maior nível de polarização partidária da recente história democrática do Brasil, Jair Bolsonaro foi eleito em 2018 com 55,13% dos votos válidos. Durante as pesquisas de intenção de voto e no decorrer de sua campanha eleitoral, o então candidato encontrou maior apoio entre homens brancos do Centro-Oeste, Sul e Sudeste, com escolaridade e renda altas, mas isso não seria suficiente para tirar seu opositor Fernando Haddad do páreo. Afinal, o perfil de simpatizantes de Haddad era composto pela maioria dos eleitores brasileiros: negros e pardos, mulheres, pessoas de baixa renda, com baixa escolaridade e grande parte do Nordeste. A divisão entre os dois polos foi realmente acentuada, contudo Bolsonaro foi o escolhido pela maioria dos eleitores brasileiros. Como isso foi possível?

Levando em conta o contexto

É necessário analisar o contexto histórico, social e econômico que o país viveu antes das eleições e de que maneira ele influenciou a escolha da maioria do eleitorado. O triunfo do presidente eleito pode ser atribuído aos seguintes fatores: o desgaste de grupos políticos (sobretudo o Partido dos Trabalhadores) após os escândalos de corrupção e de desvio de dinheiro público nos esquemas do Mensalão, do Petrolão e da chamada “corrupção generalizada” no Congresso e no STF; o desencantamento político que vigorava desde 2013 e a aversão à “velha política”, que “demonizou” as instituições democráticas; a estranha “permissão invisível” a um autoritarismo “necessário” após o esgotamento da democracia; a prática de Jair Bolsonaro adotar uma postura messiânica – que o levou a ser tratado como “mito” – sobretudo, após o atentado que sofreu em setembro de 2018; o caráter seletivo do cenário de polarização, alimentado por um intenso clima de antipetismo, antilulismo, antiesquerdismo e anticomunismo; o desgaste econômico e o desmonte das instituições; o despertar da direita “adormecida”, grupo identitário que durante os governos do PT não pôde ser representado; e a massiva quantidade de fake news que impregnaram as redes sociais durante o ano de eleição.
Jair Bolsonaro tornou-se então o 38º presidente do Brasil e, como qualquer outra figura política representativa, é alvo de ataques e de defesas apaixonadas.

Ambiguidades

Por um lado, o presidente flerta constantemente com o discurso autoritário e com o culto à violência. Ele procurar sempre eleger um inimigo comum para atacar (a imprensa, grupos ou partidos de esquerdas, intelectuais, profissionais da saúde, diplomatas), promovendo uma guerra ideológica que compromete as instituições democráticas. Ele também já fez discursos misóginos, racistas e LGBTfóbicos, estimulando uma militância virtual raivosa partidária do obscurantismo. Durante a pandemia, o presidente ainda fez tábula rasa do discurso da ciência, minimizando os efeitos do novo vírus e estimulando as pessoas a ignorarem as medidas de segurança e de isolamento social. Em relação ao cenário internacional, o Brasil tem optado por manter uma posição de isolamento e não-alinhamento às principais causas mundiais.

Por outro lado, Bolsonaro soube comunicar-se muito bem com aquela parte do eleitorado que estava insatisfeita com os governos petistas, explorando em sua plataforma uma acentuada oposição ao ideário defendido pelo PT. Sua pauta se confundiu com a dos eleitores mais conservadores: o impeachment da presidente Dilma Rousseff, a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva; os casos de corrupção envolvendo políticos dos maiores partidos do Brasil.

Embora durante a campanha tenha se comprometido a respeitar a Constituição e as instituições democráticas, anunciando que iria extinguir as formas da “velha política”, o presidente não somente defendeu, no primeiro semestre deste ano, a possibilidade de o Brasil adotar um regime de exceção, como também se aproximou do Centrão, cujas práticas dizia combater.

Jair Bolsonaro é uma figura controversa que, longe de ser algoz ou vítima, a depender do ponto de vista adotado, precisa ser compreendida à luz do projeto de país que o elegeu, cujas reais intenções talvez ainda sejam desconhecidas pela maioria de seus admiradores.