Apesar dos números atuais e de estarmos em 2019, o discurso anti-funk carioca ainda parece fazer parte do imaginário do homem médio. Qualquer argumentação contrária ao estilo acaba sempre sendo uma emboscada. Quando o incômodo está ligado às apologias que o funk promove, cita-se a “falta de atenção” aos demais estilos musicais, que não romantizariam uso de drogas, o adultério e a misoginia. O endeusamento de artistas renomados com a vida pública duvidosa parece causar uma disfunção na criticidade de quem assiste à prisão arbitrária de um DJ. A preocupação com o tráfico aparenta ser um problema de lugares específicos (e o Lollapalooza não é um deles).
Vale sempre lembrar que cultura não é somente aquilo que a elite burguesa acha que é, por pura questão de gosto. E por mais que seja discutido de forma despretensiosa, o discurso anti-funk é mais um braço do racismo institucional, com o apoio incondicional do Estado. O estilo movimenta a economia, oferece perspectiva a jovens periféricos e tem se sobressaído na cena musical brasileira nos últimos anos, apesar das tentativas de proibição dos bailes e da desaprovação de uma parcela significativa da população. Há quem tente usar como exemplos de maestria musical a MPB e o samba ao antagonizá-los ao funk. Esse é só mais um desafinamento cometido: Caetano o aprecia, e o samba já sentiu na pele o mesmo preconceito.