Nova produção da Netflix, a série Coisa mais linda vem causando furor nas redes sociais desde seu lançamento internacional. A trama, que se passa no Rio de Janeiro de 1959 com o início da Bossa Nova, foi precedida por uma campanha de marketing inovadora. Coisa mais linda realiza a tarefa de focar no protagonismo feminino. A iluminação, a direção de arte e a trilha sonora são pontos altos do trabalho.
Mas a série entrega menos do que o prometido: um feminismo midiático e superficial, quase nada representativo. Apesar da proposta de diversidade, a narrativa trabalha com personagens pouquíssimo diversos. Sem a desconstrução de padrões estéticos e heteronormativos, o seriado não dá conta de recortes de classe e raça, dependendo de protagonistas ricos, magros e brancos, à exceção de uma personagem negra e seu par – os únicos também que vivem em uma colorida e alegre favela. Rodeada de amigas brancas vitimadas por seus companheiros, a Adélia, a única negra, são reservadas atitudes adúlteras e mentiras; as quais o roteiro tem pouca preocupação em justificar perante a audiência.
Coisa mais linda propõe discussões urgentes e acerta por seu enredo focado nas mulheres, secundarizando os personagens masculinos. A trama explora problemas complexos como privilégio branco, estupro, violência doméstica e aborto, mas os trata de forma romantizada e superficial. Dar espaço ao protagonismo feminino é uma conquista, mas urge a reflexão: quão impactante é uma narrativa que reflete o racismo – cada vez menos – velado de 2019 e exalta mulheres privilegiadas quase empoderadas?