Se antes ele queria ser Deus, agora Gustavo Pereira Marques, o rapper Djonga, desconstrói os estereótipos raciais e se intitula Ladrão (2019) em seu terceiro álbum. No primeiro disco, Heresia (2017), por meio de um tom de voz gritado, ele apresentava letras antirracistas cujas rimas buscavam justiça social. No segundo, O menino que queria ser Deus (2018), acrescentou elementos de canção ao rap e desenvolveu temas como a paternidade. Neste terceiro disco, Djonga une as duas experiências anteriores, explorando uma mensagem mais direta.
O “menino que queria ser Deus” percebeu que chegou muito perto do céu e resolveu voltar à terra pronto para atacar. Na faixa-título, Djonga faz referências ao pop atual, mesclando ironia e seriedade: “Me diz a fórmula pro tal sucesso, já que talento não garante view/Ao menos seja verdadeiro/O mais perto que ‘cês chegaram do morro é no palco favela do Rock In Rio”.
Ladrão (2019) subverte o rótulo racista imputado aos negros desde crianças, propondo um outro tipo de roubo, ao estilo Robin Hood, isto é, a tomada do poder através da música para devolver à população negra suas próprias origens. As letras exaltam a comunidade e a família, como “Bença” na qual Djonga homenageia a avó: “Teve que costurar um mundo de trauma, abdicação, luta/Pra hoje falar com orgulho que essa família não tem vagabundo”.
No país do racismo, da desigualdade e do preconceito, Djonga nos mostra a cada obra produzida as novas configurações do protesto.