Embalada pela realidade cotidiana, o espetáculo Baixa terapia revela os segredos universais dos casamentos, aparentemente, perfeitos. Em cena, três casais agendam uma sessão de terapia, mas, ao chegarem ao consultório, deparam com um bilhete deixado pela terapeuta, informando-os de sua ausência e orientando o grupo a discutir as próprias relações. A primeira peça do dramaturgo argentino Matías Del Federico garantiu-lhe respectivamente os prêmios do concurso “Contar 1”, em 2015, em seu próprio país, e de melhor comédia, no México, dois anos depois. Montado em dezoito países, incluindo o Brasil, o texto tem atraído a atenção de atores e atrizes bastante experientes.
A montagem brasileira é dirigida por Marcos Antônio Pâmio e conta à frente do elenco com Antônio Fagundes, que divide o palco com Bruno Fagundes, Mara Carvalho, Alexandra Martins, Ilana Kaplan e Fábio Espósito. O cenário evoca uma espécie de sala de estar, na qual se destaca uma garrafa de whisky constantemente consumida pelos personagens. Inverossimilhança à parte, a atmosfera realista predomina, seja nos figurinos, seja na iluminação e sonoplastia.
A trama aborda a violência doméstica contra a mulher de forma sensível e inteligente. O tom humorístico e o clima de suspense prevalecem, mas conduzem a um desfecho impactante, quando o incômodo pela graça das piadas misóginas proferidas até ali se revela uma estratégia emocional das mais acuradas. Assim, a reflexão sobre o comportamento social é inevitável.
Entretanto, não se pode esquecer que se trata de uma peça de teatro, de uma experiência artística, cuja função é levar as pessoas a pensarem diferente e não necessariamente a agir de forma diferente.