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Edição nº 1 – 2014

Conte um pouco do filme.
Então, o filme é a história de um cara que cresce dentro de um lar onde existe muita violência doméstica. O pai bate na criança e abusa sexualmente da mãe. Eu quis mostrar as dificuldades do que é certo ou errado quando a criança cresce e forma realmente o seu caráter. O que é certo? O que a sociedade realmente imprime como certo? Ou o que ele vê em casa? O exemplo que ele tem dentro de casa?
O Henrique é o personagem principal e cresce dentro desse lar, assim durante o tempo ele vai lembrando de fatos do passado e vai entendendo porque ele tem tanto medo de uma figura paterna. Os medos que ele tem.
Ele na verdade quando era criança acabou matando o próprio pai, mas esqueceu. Esqueceu completamente, porque a mãe fica catatônica. Aí durante a vida ele vai tendo flashes de momentos que vão recordando o que aconteceu no passado.

Qual foi sua função no filme além de interpretar o papel de Henrique?
Eu escrevi o texto, na verdade a história é minha. Quando a gente começou a roteirizar eu fiz com o diretor, que é o Vinicius Vasconcellos. Ele veio, começou comigo, depois o dono da produtora também deu uns pitacos, então a gente acaba assinando o roteiro os três: eu, o Vinicius Vasconcellos, e o Daniel Picolo.
Aí eu produzi também junto com a produtora, a Dream Box Studio. Então eu estou no roteiro, na produção executiva e faço o personagem principal que é o Henrique.

Como foi feita a captação de recursos para a realização do filme?
A gente teve a lei do ProAC* e foi a campo em busca de patrocínio. O ProAC tem duas leis. Em uma eles aprovam o projeto através de um edital e a verba é concedida. Você faz o orçamento e eles aprovam ou não. E tem a lei que eles aprovam para você captar através da isenção de ICMS dos patrocinadores. O ProAC existe também só em São Paulo, então você tem que ir atrás de empresas daqui.

E como foi esse orçamento?
Ah, orçamento a gente sempre chuta para alto né. Infelizmente a gente não consegue trabalhar com o ideal, ainda mais em curta metragem que é pouco retorno para a empresa, né.
O curta-metragem vai para festival, ele não entra em circuito, ele não entra em salas de cinema, não é exibido e tal, então para empresa é muito ruim. É muito difícil você conseguir juntar verba para fazer um curta metragem.
A gente começou com um orçamento que achamos justo para poder fazer o filme e depois foi reduzindo. O legal do ProAC é que ele te dá a opção de poder trabalhar com até 30% do que era para ser captado.

Como foi que o filme chegou a Cannes?
Em Cannes são dois festivais. É o da premiação e o short film corner. O filme da premiação é cheio de regras, tem que estar bem certinho para a banca aprovar. Esse a gente não foi, esse, aliás, nenhum filme brasileiro, nem de longa metragem, nem de curta metragem, foi aprovado. A gente foi para o short film corner, onde tinha 34 filmes brasileiros, de sei lá quantos filmes que tinha e a gente estava lá.
É um festival legal que movimenta mesmo, serve para fazer um networking. Convidar as pessoas para assistir o seu filme. As salas são pequenas, justamente para criar um clima íntimo. Conversar com as pessoas depois, sair de lá e tomar um café.
Conseguimos exibir para todas as pessoas que a gente queria ter esse contato, esse feedback, para outras produções rolarem…
A gente finalizou o filme e falamos: agora podemos começar as inscrições para os festivais. O primeiro que a gente escreveu foi Cannes. E foi o primeiro aprovado, porque a maioria dos festivais são agora no segundo semestre. Faz as inscrições no primeiro semestre, aprova no meio do ano e começa tudo no segundo semestre.
É o primeiro festival que o filme participa.

Quando vocês se inscreveram? Acreditavam que iam ser selecionados?
Não, não, são sei lá, noventa festivais que tem pelo mundo a gente se inscreveu em todos e falou: vamos esperar. Sabe, foi muito na ingenuidade, não imaginávamos que Cannes ia responder para a gente…

Houve aplausos no fim da exibição?
Não, não é assim não. Acho que isso de repente pode acontecer se a sala de exibição for grande, tipo no mínimo cem pessoas. As salas eram pequenas, de dez pessoas, bem íntimo mesmo. É como se eu convidasse as pessoas para assistir em casa.

Ele é legendado?
Sim. Tem legenda em inglês e em francês para Cannes, no caso.

O filme se pagou ou você colocou dinheiro nele?
Não, o filme foi feito com o dinheiro que a gente captou. Com o dinheiro da produtora… Tirar do meu dinheiro não rolou. Assim, por ser produtor executivo, teve oportunidade que a verba não tinha entrado, então você coloca algum, mas depois volta, assim… Se for olhar num todo; ah eu coloquei dinheiro meu. A gente gastou mais de cinquenta e menos de 100 mil reais (risos).

E qual a expectativa do Catarse agora? Ele vai ser exibido em outros festivais?
As inscrições estão sendo feitas, mas a maioria é para o segundo semestre. A gente vai fazer uma exibição aqui em São Paulo para convidados, amigos, imprensa. Acredito que logo depois da Copa do Mundo, porque precisamos de um tempo hábil, tem atores do Rio de Janeiro.
E temos a vontade de participar cada vez mais de festivais. A gente precisa e quer estar presente em todos que o filme for exibido. Tem festivais incríveis por ai, nos Estados Unidos e Europa, mas estamos também focados nos que rolam por aqui.

Você tem vontade de se dedicar mais ao cinema ou o teatro ainda é a sua paixão?
Cada vez mais eu estou gostando do cinema, a parte de produção, tudo me encanta muito, mas o teatro é o teatro, para quem é ator, o teatro resume tudo, né. O teatro é a casa do ator, é onde ele se renova, onde ele aprende, onde ele precisa estar sempre. Eu inclusive vou começar agora produção de uma peça, porque eu acho que é onde você começa a se reciclar. Eu não posso deixar de lado, não adianta, se eu fizer muita novela, muito cinema, eu preciso do teatro. Invariavelmente eu vou ter que ir para o palco.
 

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