O espetáculo começa com os atores cantando ao redor do leito de um homem hipocondríaco. O roteiro é baseado na peça O doente imaginário, de Molière, que a Cia. d’Alma adaptou para a contemporaneidade. Para atualiazar o homem hipocondríaco do século XVII, houve pesquisas e estudos de doenças modernas, como afirma a diretora do espetáculo, Sandra Corveloni:
“A ideia de Doente nasceu da primeira montagem da companhia, L’illustre Molière. O doente imaginário foi a ultima peça que Jean-Baptiste Poquelin (1622-1673), vulgo Molière, escreveu e na qual atuou fazendo o papel de Argan. Aliás, o comediante morreu em cena, interpretando o personagem. Em homenagem a ele, a Cia D’Alma, fundada em 2010, quis dar continuidade à obra de Molière. Estudamos as doenças modernas, as manias de as pessoas quererem tomar remédio para tudo e aí chegamos ao denominador comum: todos estão com a cabeça cheia, esgotados de tudo, com depressão. Aprofundamos os estudos e surgiu o espetáculo Doente”.
A Cia D’Alma – formada a partir da reunião de ex-integrantes do grupo Tapa – obteve com L’illustre Molière, grande sucesso de público (20 mil espectadores) e de crítica (três categorias vencedoras no premio Shell: melhor ator, Guilherme Sant’Anna; figurino, Zé Henrique de Paula e música, Fernanda Maia). Sandra Corveloni destaca o segredo do sucesso:
“Quando a gente começa estudar uma obra e vai fazer uma montagem, tudo tem que falar a mesma língua. Não trabalhamos com a 4° parede; falamos diretamente com o público. Nossa busca é a de um teatro popular, que chegue até as pessoas, que seja inteligente e que faça rir, pensar, emocionar, por meio de uma comunicação mais direta”.
O humor no teatro está sendo profundamente influenciado pelo humor da televisão, popularesco, apelativo, irresponsável. Sandra Corveloni ressalta que a comédia exige um exercício que vai muito além da obtenção do riso:
“Eu como diretora e atores como Guilherme Sant’Anna – um grande intérprete cômico – procuramos fazer um tipo de comédia que não seja apelativa. É muito difícil, já que fazer comédia não é simplesmente contar piada. Fazer humor é desafiar a inteligência. No teatro é mais complexo. Às vezes um som é engraçado; uma risada é engraçada; a cumplicidade com a plateia é engraçada. O grande desafio do ator é manter o ritmo da comédia, obtido com muito treinamento “.
O hipocondríaco isolado do século XVII encontra paralelos com os tempos atuais, nos quais muitas vezes o apego excessivo à tecnologia acaba por apartar o homem do convívio social:
“O que há na peça já é suficiente para falar das relações importantes. O amor é importante; cuidar de você é importante… Nosso desejo é o de que as pessoas gostem e saiam daqui melhores do que entraram. É preciso viver a cada dia de verdade como se fosse o único. O ator deve estar presente plenamente naquele momento, contando aquela história sem deixar que sua cabeça vá parar em outro lugar. Atores e espectadores têm que estar disposto a jogar, já que o teatro é um jogo. É voltar a ser criança e aprender a brincar.”
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