Nos anos 2000, São Paulo tornou-se o grande polo do forró devido ao sucesso que a banda Falamansa, paulistana, fez ao escolher o ritmo nordestino, que foi disseminado na década de 1940 por Luiz Gonzaga. A banda, que vendeu 1 milhão e 800 mil discos em seu primeiro cd, colocou o forró de raiz ao alcance do público novamente, na mesma época em que a extinta ONG chamada Espaço Cultural Projeto Equilíbrio trabalhava com o objetivo de mostrar para a juventude a obra do autor de Asa Branca. Após quase 15 anos da última explosão do forró, como anda esse cenário na cidade de São Paulo atualmente?
Existem hoje na capital duas casas que são referência e que se dedicam totalmente ao gênero: o Remelexo Brasil e o Canto da Ema, ambas localizadas na região de Pinheiros. Realidade diferente da que se via no início dos anos 2000, quando era possível enumerar oito casas. Embora o auge do forró tenha passado, o público manteve-se fiel a ele. Prova disso é que as casas do gênero estão sempre cheias, em qualquer dia da semana.
Para Paulinho Rosa, empresário e proprietário do Canto da Ema, o público já vem se formando desde o início dos anos 1990. O sucesso de seu estabelecimento se deve ao fato de ele ter focado em um nicho, apresentar shows de artistas mais importantes e talvez ter tido um pouco de “sorte ou competência”.
Ao ser questionado se o gênero ainda é rentável em São Paulo, ele diz que sim. “Apesar de o forró ser mais barato, temos de ganhar na rotatividade de pessoas. O giro é bacana. Recebemos uma média de 400 pessoas por dia, cerca de 7000 por mês. Nesse sentido, acaba sendo rentável. Mas é um limite tênue. Se ocorre de vir menos pessoas, por ser barato o ingresso, perco todo o lucro e trabalho quase que para pagar as contas”. O valor para aproveitar uma noite de forró aos fins de semana na casa é de 30 reais para homens e 23 reais para mulheres.
“A gente recebe aqui todas as classes. Eu já vi filha de dono de tredding internacional dançando com guardador de carro. Filho de ministro com manicure. Jovens de 18 anos dançando com pessoas de 50, 60 anos”, diz o empresário, tentando definir o público de sua casa noturna, que em sua maioria é composto por moças e rapazes na faixa entre 22 e 35 anos. Não, necessariamente, migrantes e/ou descentes de nordestinos, mas também eles.
Curiosamente, muitas bandas paulistanas estão aparecendo no cenário forrozeiro, apesar de não ser o ritmo do momento. Como a banda Ó do Forró, formada entre idas e vindas há 14 anos e que hoje é a revelação do gênero, lotando as casas em seus shows.
Para Sivaldo Fernando, vocalista da banda, o público jovem ainda se interessa pelo forró, mas as poucas casas com matinês dificultam a criação de novos seguidores: “Geralmente o que acontece é: a irmã mais velha gosta de forró, e a mais nova conhece através dela. Ou, um amigo gosta e apresenta o forró para outros amigos. Se houvesse as matinês, existiria a opção para o menor poder curtir e o público no forró nunca ‘envelhecer’ ou não limitar”.
Com a recém-reeleição da presidente Dilma Houssef e a mentalidade preconceituosa de alguns brasileiros em relação aos nordestinos, o cantor fez questão de frisar: “Na nossa cultura, não tem nordeste, nem sul, tem Brasil. Há preconceito, mas não nos prendemos a isso. Como diz a letra de uma de nossas canções: ‘Sou de São Paulo e tenho orgulho do que sou, e faço forró por que faço por amor. E do nordeste eu tenho um pouco de lá, sou da terra do meu velho ‘mestre Lua’ (Luiz Gonzaga), faço forró até no meio da rua. Tudo para a vida melhorar”, conclui.
A banda Ó do Forró faz em média dez shows por mês somente em São Paulo. Usando uma linguagem mais urbana em suas canções, Sivaldo acredita que a banda consegue alcançar mais pessoas, a fim de fazer o movimento voltar a crescer.
Feliz com o interesse de músicos jovens em dar sequência ao legado de Gonzagão, Enok Virgulino, de 56 de idade e 46 anos de forró, vocalista e sanfoneiro do Trio Virgulino, com mais de 32 anos de existência, acredita que a a vontade das novas gerações de fazer forró despertou porque, além de ser raiz, é um ritmo feito do amor. “A gente faz com muito carinho e tudo o que é feito com carinho tem um sabor melhor. A gente vai trabalhando o forró, vê que tem alguém de outro gênero, por exemplo, do rock. Misturamos os ritmos para atrair essas pessoas”.
Os frequentadores das noites paulistanas de forró definem o ambiente como bastante “democrático e eclético”. O forró pé de serra em São Paulo hoje existe em um meio “underground”, mas tem os seus adeptos e está sempre em evidência porque é raiz. Como define Enok: “Quem vem ao forró o perigo é gostar e, se gostar, nunca mais sai!”.
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