A força dos hábitos e das instituições muitas vezes nos leva a repetir modelos sem a necessária reflexão, mesmo quando as transformações do contexto clamam por mudanças. No caso das instituições de ensino, a força inercial da tradição é particularmente relevante e preocupante. Não são poucos os educadores que criticam o modelo atual de ensino, com suas salas de aula hierarquizadas e disciplinas estanques, seguindo as noções de autoridade e produtividade típicas do modelo fabril. Mas perceber a defasagem do modelo não implica a capacidade de atualizá-lo.
O caso das publicações acadêmicas segue a mesma lógica. O modelo tipográfico impresso ainda impõe-se como “necessário” à disseminação do conhecimento produzido pelos pesquisadores, muito embora disponhamos de meios mais eficientes, mais baratos e de maior abrangência. Na divulgação científica, o “texto” não precisa coincidir com o “livro”, ou seja, o conhecimento não precisa confundir-se com seu suporte.
O caso é ainda mais grave em relação aos periódicos. Por princípio, uma revista acadêmica deve conter o estado da arte mais atualizado de seu campo, na forma de artigos, ensaios, relatos de pesquisas, resenhas e outros formatos de menor envergadura. A revista acadêmica é um espaço privilegiado de divulgação de pesquisas em andamento, levadas a público para suscitar a discussão entre pares para, assim, receber (ou não) a validação pertinente em cada campo do saber. As grandes discussões, resultado de pesquisas de médio e longo prazo, são mais adequadas à estabilidade dos livros do que à dinâmica das revistas.
A revista em papel, portanto, acaba por limitar a própria utilidade do periódico e contradizer suas finalidades. Seu “tempo técnico” de produção e circulação é longo e o alcance atingido, restrito pela natureza física do suporte. Poucas instituições têm recursos “sobrando” para investir em grandes tiragens e em complexos meios de distribuição.
Para o meio acadêmico, a revista eletrônica é “um peixe na água”. A Internet, que, lembremos, surgiu exatamente com o propósito de interligar centros de pesquisa americanos para integrá-los em trabalhos colaborativos, é o meio mais adequado para a circulação do conhecimento produzido na Universidade.
Mas, para aproveitar esse potencial em sua plenitude, são necessários dois pontos: a) os editores devem buscar outros fluxos de produção e outras linguagens, mais adequados às características técnicas do meio digital. Restrições no número de páginas, periodicidade, número de artigos e outros recursos criados para o meio impresso precisam ser revistas e, em muitos casos, simplesmente abandonadas; b) as instituições que avaliam o trabalho acadêmico devem ser sensibilizadas para a relevância das revistas eletrônicas. O formato digital, desde que gratuito e aberto, possui vantagens evidentes no cumprimento das metas de atuação social das instituições de pesquisa, e os critérios de avaliação devem refletir essas vantagens e incentivar a produção eletrônica. No meio acadêmico, a publicação gratuita, aberta, de circulação livre e irrestrita, deve ser a regra e não a exceção.
A partir do próxima edição (primeiro semestre de 2013), a Revista Eletrônica CoMtempo embarca nessa aventura e coloca na mesa a discussão sobre o aproveitamento pleno do potencial dos meios eletrônicos na academia.
Você é o nosso convidado.
Edilson Cazeloto
Simonetta Persichetti
Editores
Revista CoMtempo
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