Denise Melo é Casperiana, formada na primeira turma do curso de Rádio e TV da Faculdade Cásper Líbero, em 2005. Após trabalhar em algumas rádios brasileiras foi morar na China e, atualmente, trabalha em uma rádio Chinesa: a Rádio Internacional da China.
A radialista nos contou melhor sobre a experiência de morar longe e vivenciar outra cultura em meio à profissão, ou seja, como é para ela morar no Oriente e trabalhar em uma rádio chinesa (em um programa em português).
Marcela Schiavon: No que a Cásper Líbero contribuiu para a sua formação?
Denise Melo: A Cásper foi muito importante. A instituição é muito bem conceituada no mercado de comunicação, nunca tive problemas para conseguir um emprego e, na época da faculdade, tive várias propostas de estágio.
MS: Você sempre quis trabalhar com programas de rádio?
DM: Não exatamente. Eu trabalhei muito mais com televisão do que com rádio, mas gosto de ambos (…) Você acaba indo para vários ramos e aprendendo muita coisa! É claro que o rádio tem seu charme e eu sempre tive um carinho muito especial. Lembro que estagiei na rádio América e a relação com os ouvintes era algo mágico: eles me escreviam cartas, mandavam-me presentes de Natal e agendavam visitas para conhecer o locutor e eu.
MS: Os hábitos locais fazem com que a grade de programação de uma rádio oriental seja diferente de uma ocidental?
DM: Não necessariamente. Nossos ouvintes não são os chineses, mas sim os falantes de português. Portanto, a programação tem um toque ocidental. Já tivemos algumas discussões sobre o que era interessante ou não, já que, culturalmente, existe um abismo entre nós, brasileiros e chineses. Por exemplo, eles queriam falar sobre poesias chinesas e a maioria delas são muito complicadas de traduzir, então (muitas vezes) o significado não faz sentido para nós. Por vezes, os chineses não compreendem isso.
MS: Quais as diferenças entre uma rádio brasileira e uma rádio chinesa?
DM: O sistema de rádio e televisão na China é estatal, tudo comandado pelo partido comunista da China. Portanto, muito mais do que trabalhar para rádio, eu era funcionária do governo chinês, assim como muitos estrangeiros.
Cada um ficava em seu departamento, já que a Rádio Internacional da China transmite em mais de 60 idiomas. Lá, tínhamos que divulgar a China e os feitos do partido comunista para o resto do mundo (claro, além disso tinha música, cultura, etc..); Então, não sei dizer se no Brasil temos algo parecido, mas só o fato de trabalhar em uma sala com 20 chineses que falam sua língua e querem compartilhar a cultura deles com a sua, já valeu a experiência.
MS: O que você aprendeu com essa experiência de morar e trabalhar na China?
DM: Aprendi muita coisa. Primeiro, a China é outro mundo. Então, você precisa ser muito mais flexível e mente aberta e isso é um tipo de exercício que ajuda na evolução de qualquer pessoa. Por ser uma cultura muito dissonante da nossa, todo dia você aprende coisas novas, seja por mal ou por bem. E no trabalho é muito interessante ter que mesclar o estilo de comunicação e o jornalismo brasileiro com o chinês. Nós, brasileiros, temos uma lógica bem diferente da deles e isso reflete na língua e no conteúdo, por isso estar lá sempre traz novos desafios e isso é muito estimulante.
MS: Você já viveu algum fato engraçado morando fora do Brasil?
DM: Todos os dias vivo algo engraçado, porque a China é um eterno `”Lost in translation”, ou seja, você vai pedir comida pela foto e vem algo completamente diferente! Se acha que vai comer arroz com ovo, vem carne de burro (…). No trabalho, eu tinha que lidar com muitos encontros sérios e existe toda uma formalidade chinesa na qual eu sempre me perdia. Eles são fissurados por cartão de visitas: todo mundo tem um, sempre querem te entregar e você tem que pegar com as duas mãos!
MS: Por ser mulher, há algum tipo de preconceito no local onde trabalha?
DM: Nunca, mas talvez por ser estrangeira. Os estrangeiros lá na rádio eram bem “protegidos”, mas nem as chinesas sofriam, porque no meu departamento tinham muitas mulheres e ninguém mexia com a gente (…). Só que isso não quer dizer que a China não seja machista.
MS: Você é adepta do budismo. Isso te ajuda em alguma coisa em relação ao trabalho?
DM: Sim. Ajuda e ajudaria qualquer outra pessoa em qualquer outro lugar do mundo, pois se você respeita o próximo, se impota com a felicidade dele e preza pela harmonia como prega o budismo, então isso é muito bom para o seu ambiente de trabalho.
Os chineses não são muito religiosos e eu sou adepta do budismo tibetano, adoro o Dalai Lama. Esse é um assunto delicado na China, mas eles sempre respeitaram.
MS: Quais são as dicas que você pode proporcionar a quem quer trabalhar fora do Brasil?
DM: Ser pontual, gentil, prestativo, mente aberta, ter um espírito de coletividade, querer sempre aprender, saber a hora de falar e de ouvir, ser curioso e flexível. Acho que é só, mas isso vale para dentro do Brasil também! (Risos).