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Edição nº 2 – Dezembro de 2014

Cabelos penteados, bonés coloridos, maquiagens, vestidos, salto alto ou sneakers. Suingue, afinação, flow, rimas pesadas e dispostas a militar. São essas as características das mulheres que fazem parte da cultura hip hop brasileira atualmente. Se antes apenas os homens tinham espaço no rap, hoje muitas mulheres se aventuram por esse universo.

“De um tempo pra cá tudo mudou, principalmente as pessoas que escutam. Hoje em dia o rap é mais leve, musical e trata de temas generalizados, não apenas da realidade dura do povo sofrido da favela. Isso trouxe uma evolução muito grande para a cena”, comenta Barbara Sweet, 28 anos, natural de Belo Horizonte. Ela, que se apaixonou pelo hip hop na adolescência, começou a fazer rap com 15 anos apenas por diversão.

Flora Matos, Karol Concá, Lurdez da Luz, Carol de Souza. Esses são os nomes que se destacam no cenário nacional. Muitas meninas apostaram na carreira musical após ver Dina Di [que morreu em 2010] cantar. Antes as mulheres se vestiam como homem, com calças e blusas largas. A ideia era não se mostrar em um ambiente exclusivamente masculino, mas chamar atenção por rimar bem. “Hoje em dia temos mais espaço para sermos mulher dentro do hip hop. Deixou aquela coisa de ser um homem feminino”, diz Sweet.

Geralmente o conteúdo das letras desenvolvidas pelos homens é diferente do das músicas feitas por elas. As mulheres costumam tratar de assuntos mais próximos do universo feminino, como amor e festas com as amigas. Mas também têm aquelas que falam sobre política e protestos sociais. “Eu gosto de evidenciar a luta feminista de resistência. Minhas composições têm uma posição bem anarquista”, afirma Issa Paz, 22 anos, integrante do grupo Rimologia.

O exercício da leitura é fundamental para a rapper paulista na hora de produzir suas canções. “Sempre leio algo que possa me acrescentar. Gosto de filosofia política e do segmento de Nietzsche e Schopenhauer. Por exemplo, “Magia negra” foi escrita depois de ler um romance sobre bruxaria, já “Pangeia” é baseada em um livro que era uma instrução para um golpe de estado”, conta. Issa conheceu o rap fazendo pesquisas sobre poesia, seu gênero literário favorito.

Espaço e preconceito – Desde que a cultura hip hop se iniciou no Brasil, nos anos 1980, as mulheres sempre lutaram para conquistar seu espaço na cena. Hoje em dia elas afirmam não sofrer tanta repressão igual a antigamente, mas sentem uma segregação no cenário musical. “Existe muito separatismo, mas não tem que encarar isso como dificuldade e sim como parte da missão de romper barreiras e mostrar que a música não faz distinção de sexo, cor ou nação”, declara a rapper Brisa Flow, 29 anos.

Atualmente os shows e duelos são exclusivos de mulheres. Segundo Issa Paz, é muito raro ver festivais mistos, ou em que as MC’s estejam em número maior ou igual. Em São Paulo, poucas garotas duelam freestyle contra homens. “Se a gente começar a crescer e ocupar as [batalhas] que já existem, seria muito legal ter um duelo do conhecimento com temas do universo feminino. Aí sim acho que valeria a pena um evento exclusivo. Com certeza seria divertido para nós”, comenta Brisa Flow.

Além de ser uma cena segmentada, as rappers ainda têm de lutar contra o preconceito presente no movimento. “Existe um machismo muito forte, que é da sociedade, mas no rap ele está bem enraizado, porque as músicas desde o começo sempre foram bem sexistas”, destaca Issa. Para ela, há uma dificuldade por parte dos homens do movimento em entender que mesmo aceitando as mulheres no hip hop, suas letras as oprimem.

Projetos sociais são criados para difundir o rap feminino

Fundada em 2010, a Frente Nacional das Mulheres no Hip Hop surgiu dentro do I Fórum Nacional de Mulheres no Hip Hop, que aconteceu em Carapicuíba e está representada em mais de 15 estados brasileiros. O projeto tem como objetivo destacar a importância da participação feminina na sociedade, por meio de atividades temáticas voltadas a cultura, política e cidadania. Elas fazem debates, oficinas, shows, workshops e elaboração de projetos sociais e culturais.

Participam da FNMH2 simpatizantes do hip hop e mulheres que o utilizam como ferramenta de mudanças. “Viajo pelo Brasil incentivando meninas a conhecerem essa cultura. Recentemente estive na Franca, Espanha e Israel. Estou lançando o livro Perifeminas em várias cidades do estado de São Paulo, para dar mais visibilidade aos trabalhos femininos e lutar por políticas públicas para as mulheres”, conta Lunna Rabetti, fundadora da Frente.

Outros movimentos também estão surgindo pelo país para disseminar o rap feminino. Em Minas Gerais um grupo de MC`s criou o coletivo Mina no Mic, elas fazem apresentações em universidades, com o objetivo de divulgar as cantoras da cultura hip hop. Além disso, as rappers têm feito páginas em redes sociais para mostrar seu trabalho e de outras artistas da cena. “A Frente é um movimento muito importante para nós, mas acho que devia ter uma maior abrangência. Fica um negócio muito institucional e a militância em si deve ser feita por cada uma das mulheres”, afirma Issa Paz.

 

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