A sala dos professores no quinto andar estava cheia. Ventiladores faziam barulho. Um celular tocava. E, na última mesa da sala, estava sentado sozinho o professor Nino Dastre. Sua fisionomia era séria. Numa tentativa de descontração, pergunto se ele teria alguma história engraçada que aconteceu durante as aulas para compartilhar. “Não tenho nenhum caso em particular. Eu peço certo comprometimento para não perder o rumo”.
Depois de uma pausa, “Eu que sempre solto uma piada para descontrair”. Se num primeiro momento mostrou-se sério, apresentou-se em seguida mais como uma pessoa preocupada. Preocupado, principalmente, com os alunos. Para ele, os estudantes precisam ter uma experiência agradável e proveitosa. Deseja que o tempo que passam juntos seja agradável.
Paixão, dedicação pelos estudos e gentileza. Assim Nino, com sua fala firme, aconselha seus alunos. Paixão é preciso para que eles se identifiquem com os projetos. Dedicação, para realizarem tecnicamente bem seus trabalhos. E gentileza, para estabelecer uma convivência harmônica entre os companheiros.
Professor de Laboratório de Comunicação Visual II para os alunos do quarto ano do curso de Relações Públicas, ele explica que sua matéria consiste na interpretação da linguagem visual, trabalhando com aspectos mais práticos da área para elaboração do TCC, como a utilização de softwares gráficos. Aliás, essa é sua especialidade, já que além de lecionar, trabalha como designer gráfico.
“Os alunos são muito vibrantes”. Essa é a sensação na sala de aula do professor, que é ex-aluno da Faculdade Cásper Líbero, curso de Propaganda e Publicidade na turma de 1987. Conta que as aulas eram apenas no quinto andar e estudou numa época em que “não havia sequer o computador e fazíamos o trabalho a mão com canetinha colorida, pincel e tudo”. É enfático ao afirmar que essa prática garantiu uma boa base na hora de migrar para o computador.
Com o diploma na mão, Nino percebeu que só a graduação não bastava. Cursou pós-graduação em Marketing Internacional na Universidade Paulista em 1994 e, mais tarde, fez o Mestrado em Comunicação e Cultura Midiática pela Universidade Paulista também (2007), tendo recebido um “dez com louvor”. O trabalho terminou publicado na forma de livro com o título “Ficção e Realidade na Narrativa Televisual”. Com a titulação necessária e experiência no mercado de trabalho, a opção pela carreira acadêmica foi natural. “Por que não compartilhar meu conhecimento?”. Desde 2000, então, é professor universitário, tendo lecionado disciplinas como Redação Publicitária e Arte Publicitária na área de Comunicação Social.
Questionado sobre como foi retornar à faculdade depois da graduação, responde: “Emocionante, porque a Cásper é um lugar especial e quem passa por aqui leva alguma coisa. Não sei direito o que é. Se é a localização na emblemática Avenida Paulista, a história, a tradição, a qualidade. Ninguém passa por aqui impune. É transformador”.
O professor nasceu em uma pequena cidade do interior mineiro, Itajubá. Um choque cultural poderia ser previsto nessa transição, mas seu pai e toda a família eram italianos de São Paulo. “Aqui, sempre foi seu lugar de férias”. Nino aproveitou uma oportunidade oferecida para dar aulas de inglês e mudou-se para a cidade com 22 anos. Sua rotina de trabalho começava de manhã e só terminava à noite.
Sua cidade de origem deixou algumas marcas, entre elas um grande exemplo para a vida, Maria Isabel. Era uma mulher de fibra que não parava diante às dificuldades, considerada por ele “uma mestra para a vida”. Após sua morte, em 2007, Nino foi procurado pela filha de Maria Isabel para escrever a biografia da mãe. Foi então que escreveu e publicou “A casa de Maria Isabel” em 2009, após dois anos de entrevistas e pesquisas.
Biografias são uma de suas paixões e um dos formatos de livro mais lidos por ele. Recentemente, leu sobre duas grandes figuras que lhe inspiram. A vida do médico e psicoterapeuta Wilhelm Reich (“Fury on Earth”, de Myron Sharaf), um dos primeiros fazer trabalhos corporais em seus pacientes, e a história de Clarice Lispector (“Clarice”, de Benjamin Moser), pela qual sua admiração ultrapassa o aspecto poético e se concentra na trajetória da mulher.
“Pensando bem toda história de vida daria um romance”. Essa é uma das frases da biografia de Maria Isabel. Se a vida de Nino fosse um romance, ela seria a história de um sobrevivente. Em 1998, uma doença renal gravíssima gerou sérias complicações de saúde. Se não fosse o rim que recebeu de seu irmão, dificilmente teria sobrevivido. Ainda assim, quando se recuperava do transplante e sua vida começava a voltar ao normal, descobriu um câncer no trato intestinal. E recomeçou a rotina de médicos, medicamentos e hospitais para se curar. “Mas eu escolhi viver”.
A batalha foi difícil, mas olhando para trás e refletindo sobre o presente, pensa: “Encontrei hoje um ponto de equilíbrio na minha vida entre a família, o trabalho e o lazer”. Stella, sua filha de 14 anos é a grande razão de sua vida. Gosta de acompanhar seu desenvolvimento, conversam muito e eles têm liberdade para falar sobre todos os assuntos. “Só não deixo passarem erros de português.”.
Nino tem realmente um carinho pelas letras. Além do português, fala inglês, italiano e, mais recentemente, vem se dedicando ao estudo do idioma sueco. Seu interesse pela língua vem do poeta ganhador do Nobel, Tomas Tranströmer, morto recentemente. “Não gosto de poesia traduzida. O poema precisa ser na língua original”. Para lê-lo começou a se aventurar nesse novo idioma.
Sobre aprender um novo idioma: “É uma batalha que me fascina, um projeto que nunca acaba”. Para ele, o grande erro de quem estuda idioma por obrigação é pensar em quanto tempo precisa para dominar o novo idioma, porque esse é um estudo para toda a vida.
Ao final da entrevista, pergunto se ele teria um último recado para seus alunos. De forma brincalhona responde: “Não atendam o celular durante a aula”.