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Edição nº 7 – 2018

A diversidade cultural sempre foi uma característica marcante da cidade de São Paulo, e a arte ocupa as ruas da cidade há muito tempo. As primeiras manifestações de arte de rua na metrópole foram o hip-hop e o grafite na década de 1980, tornando-se formas de expressão e fonte de renda para muitos artistas. A maior concentração dessas manifestações hoje acontece na praça da Sé, no viaduto do Chá, no largo de São Bento, na avenida Paulista e nas ruas 25 de Março e Santa Ifigênia. O barulho da agitação dos carros é amenizado com o som de um solo de violão, os traços da paisagem urbana são gravados na tela do pintor e os problemas da cidade são esquecidos por instantes nos truques do mágico. As intervenções artísticas são carregadas de criatividade por quem faz da rua seu palco e do público seu contratante.

No toque da zabumba, nos passos da dança, na performance circense, na leitura do poema ou do conto, a variedade de atrações culturais da cidade está reunida no site artistasnarua.com.br. São 750 pessoas catalogadas à disposição de quem quiser prestigiá-los nas ruas de São Paulo. Presentes em grandes cidades do mundo, os artistas de rua ainda sofrem muito preconceito. A liberdade de expressão artística é uma garantia da Constituição Federal brasileira, conforme o artigo 5º, que diz que todo cidadão é livre para se manifestar artisticamente. Mas só recentemente, com a sanção da lei municipal nº 15.776, de maio de 2013, foram criadas regras e garantias para os indivíduos que se apresentam nas ruas. Antes de existir uma legislação específica, muitos deles eram impedidos de realizar suas apresentações por serem confundidos com pedintes ou por aglomerarem muitas pessoas. O mágico Wellington Kem se apresenta há 25 anos nas ruas de São Paulo e se lembra de como era a repressão sofrida antes da legislação municipal. ”A arte de rua em São Paulo nem sempre foi bem vista como é hoje. Quando eu comecei, vivíamos correndo dos guardas municipais. O pior era quando nossos equipamentos eram apreendidos, porque ficávamos sem nosso material de trabalho e ainda éramos multados. Muitos comerciantes não queriam que a gente se apresentasse, porque atraíamos muitas pessoas e eles ficavam com medo de assalto”, conta o ilusionista. Mesmo com a atividade regulamentada, a lei ainda deixa brechas. Os artistas de rua podem receber doações, podem doar discos, mas não podem vendê-los, por exemplo.

Pesquisa realizada pela São Paulo Turismo – SPTuris mostra que 62% dos artistas entrevistados têm outra ocupação para complementar a renda. Não é o caso de José Ivo da Silva, mais conhecido como Fumaça, que aos 80 anos vive exclusivamente do que ganha tocando caixa de guerra na banda Xupisco. “Tem gente que não gosta muito do que nós tocamos, mas tem também quem dá uma caixinha boa, que cobre o nosso dia de trabalho. Já nos deram uma vez R$ 200 reais”, afirma.

A avenida Paulista recebe milhares de pessoas todos os domingos e feriados, quando é fechada para a circulação de carros e se transforma em um verdadeiro festival cultural a céu aberto, cada vez mais apreciado por moradores e turistas. Além de artistas de outros estados do país, muitos estrangeiros mostram sua criatividade não somente na Paulista, mas também em outras ruas e praças de São Paulo. Segundo ainda a pesquisa da SP Turis, 18% dos artistas que se apresentam em São Paulo não são brasileiros. ”Essa concentração de atrações culturais e a diversidade de apresentações criaram o hábito nos paulistanos de estarem nas ruas e prestigiarem o nosso trabalho. Coisa que ainda não acontece com tanta efervescência em meu país. Além da vontade de conhecer o Brasil, esse movimento que se criou aqui foi o motivo que me fez querer me apresentar em São Paulo”, afirma o músico francês Napo Zonda, integrante da banda Dr. Swing.

Alguns artistas usam apenas seus instrumentos básicos de trabalho, outros se preocupam com o cenários e figurinos. Muitas vezes as apresentações correspondem a sonhos que estão sendo concretizados. Como conta Gaginho do Acordeom, pernambucano de 62 anos que toca forró ao lado dos dois filhos.  ”Eu cheguei aqui em São Paulo em 1984 e meu sonho era tocar na Praça da Sé, mas meu primeiro show foi na 25 de Março, junto de um conterrâneo meu. Um pouco depois a gente se separou, e foi aí que eu tive a ideia de colocar meus filhos para tocarem comigo. A gente sempre vem vestido com alguma coisa que faz lembrar o Nordeste. É uma forma de não deixar a cultura do meu estado morrer”.

Na busca por oportunidades, reconhecimento, sustento e crítica social, os artistas vão às ruas. Homens e mulheres, brasileiros e estrangeiros que ocupam a cidade, alegrando-a. Quando eles mostram seu talento quem ganha é a sociedade.