Foto: arquivo pessoal

Um fenômeno dos massively multiplayer online games, World of Warcraft, ou simplesmente WoW, é o tema da dissertação do casperiano Ulisses Gustavo Pena, defendida no dia 20 de setembro e que, sob orientação do Prof. Dr. José Eugênio Menezes, discute o lugar do corpo nas práticas cotidianas do jogo. Gustavo afirma que vivemos um processo irreversível de “descorporificação”.

“Nos transformamos numa imagem. Não são raros os exemplos de corpos negligenciados para viver uma imagem: o culto ao corpo da revista e a negação de suas características para se transformar num outro são cotidianos”.

As imagens, comandadas pelas máquinas, invadem a nossa existência e substituem os corpos. Não como em Matrix, alerta Gustavo, mas amplificando todo o poder da tecnologia para a potência máxima. É nesse ponto que entra o game: WoW, na análise do casperiano, faz com que as margens entre online e off-line se borrem, para usar uma expressão de Norval Baitello. Desde a criação de personagens, a escolha da facção, raça, classe e profissão, há uma incorporação de elementos ao passo que nos preparamos para um ambiente que exige a criação de uma identidade. Vestimos, assim, o personagem. Como nas nossas vidas.

A busca de status dentro do jogo está diretamente ligada à evolução do personagem, ou seja, quanto mais objetivos e conquistas obtidos, mais rapidamente o nível alto é alcançado e o personagem respeitado. Gustavo explica que é nesse ponto que o jogo apresenta uma de suas características mais positivas, porque se torna imprescindível que os usuários/personagens atuem em conjunto.

Mas, ao mesmo tempo em que não adianta ser forte sozinho, já que “você tem que ser forte com seu grupo”, por outro lado, essa fase expõe comportamentos facilmente encontrados em sociedade off-line, como o preconceito. “Não é raro vermos dentro do jogo preconceito contra outros grupos de ‘atores’, como anões, gnomos ou qualquer personagem que não se ‘encaixe’ propriamente na narrativa dominante”, diz o mestrando.

Como proposto por Platão, talvez sejamos almas vagando de corpo em corpo; mas esse corpo não é mais um invólucro fixo da alma, e sim uma forma transitória de vida e realidades. Mas, qual o lugar do corpo em WoW? Para Gustavo, é a superfície. Seja ela qual for.

 

A Finlândia

Gustavo estudou, em agosto deste ano, o lugar da tecnologia na contemporaneidade, na University of Tampere, na Finlândia. Para ele, o grande contraste foi que, apesar da tecnologia ser muito presente, ela não domina as relações. As universidades não são fechadas com portões, são abertas à comunidade. Gustavo conviveu com pesquisadores de tecnologia que estudam jogos das tribos no Monte Kilimnjaro. Um outro estudante analisa a percepção dos jogos em pessoas com degeneração cognitiva. “Há um intercâmbio educacional riquíssimo propiciado pela abertura da universidade em atrair diversos olhares num mesmo local”. Mas, para o casperiano, o que mais surpreendeu foi o que veio para além da tecnologia:

“A educação não é vista como um produto. É um meio. Os fins são benefícios que a sociedade inteira colhe”.