Homenagem: Franco Nero, que estrelou Django nos anos 80, tem uma pontinha
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Ano após ano, filmes de grande orçamento tratando do preconceito racial estreiam: Histórias Cruzadas, Preciosa, Um Sonho Possível, A Cor Púrpura. O passado escravista é, para dizer o mínimo, um assunto delicado nos Estados Unidos. Na verdade, chega a ser admirável que um país que há cem anos tinha bebedouros separados por cor de pele hoje seja governado por um presidente negro. Talvez esse seja um dos fatores que dá a Quentin Tarantino a coragem necessária para filmar Django Livre.

O Django do título é um escravo que acaba se tornando parceiro do misterioso Dr. King Schultz, um caçador de recompensas que precisa de sua ajuda pra localizar seus três próximos alvos. Django só tem um objetivo: libertar sua esposa, uma improvável escrava fluente em alemão chamada Brunhilde Von Schaft. Os dois se ajudam em seus respectivos objetivos e o resultado é um divertidíssimo banho de sangue tipicamente tarantinesco. Ele até tem coragem o bastante para por uma breve cena de clara provocação à Ku Klux Klan.

Ousado, extravagante e longe de qualquer zona de segurança, Django Livre é um candidato improvável a levar a estatueta de Melhor Filme na noite deste domingo – o que não diminui seus méritos. Parte da força do filme vem de seu roteiro, é verdade – outra parte, dos atores. É quase impossível reconhecer Jamie Foxx, tão diferente que está de outros papeis que marcaram sua carreira, como Ray e O Solista: a transformação no sisudo ex-escravo é impressionante. Christoph Waltz, de quem tanto era esperado depois de sua espetacular estreia internacional em Bastardos Inglórios, é a linha condutora do longa e entrega mais uma performance memorável. E a maior injustiça do ano: que o encantador e estúpido vilão de DiCaprio não esteja indicado a Melhor Ator Coadjuvante.

Talvez o maior triunfo do diretor seja ter encontrado uma identidade estética que é tão reconhecível quanto é renovável. Estamos falando de Tarantino, então é bastante improvável que não haja alguma referência a algum filme B dos anos 60. Mas, ao contrário de Tim Burton, que parece estar fazendo o mesmo filme há anos, há sempre surpresa. A essa altura o diretor já fez filmes de máfia (Pulp Fiction), suspense (Cães de Aluguel), samurai (Kill Bill 1), épico (Bastardos Inglórios) e, agora, um bangue bangue. Mais uma vez, ele comprova: é incapaz de fazer um filme mediano.