Pouco antes de completar metade do mandato da Presidência da República, Dilma Rousseff, aos 65 anos, recebeu no dia 16 de Dezembro a pesquisa Datafolha de que seria reeleita se as eleições presidenciais fossem no final de 2012. Seu predecessor, Luís Inácio Lula da Silva, também ganharia com folga. Embora cedo para cantar a provável vitória de 2014, Dilma pôde encerrar o ano comemorando sua aprovação pessoal de 78%, segundo Ibope, e a de seu governo com recorde de 62% dos entrevistados que o consideram “bom” ou “ótimo”. Capa da revista Forbes, que a considerou a 3ª mulher mais poderosa do mundo, a primeira presidenta do Brasil já se tornou uma das personagens mais marcantes da história brasileira. A sua trajetória até o discurso da vitória em 2010 prova que seu sucesso não veio ao acaso.
O título da biografia de Dilma, A Vida Quer é Coragem, escrita por Ricardo Batista Amaral (ex-assessor de Rousseff), faz referência a um trecho de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, lido no discurso da posse. De fato, encaixa-se perfeitamente com o enredo repleto de desafios que compõe sua vida: a morte do pai quando tinha 15 anos, a resistência à ditadura, a tortura, os mais de dois anos na prisão, a fundação do PDT, os oito anos no governo Lula, o câncer, uma ficha falsa publicada na Folha de São Paulo e a vitoriosa corrida eleitoral.
Amaral apresenta um panorama bem detalhado da trajetória da Presidenta, que aos 21 anos já tinha “mergulhado na clandestinidade”, perseguida pelo regime militar. Mas a narrativa do autor não se limita à vida de Dilma Rousseff: ao explicar o envolvimento dela com a política em todas as fases de sua vida, o livro se torna uma verdadeira aula sobre o passado e o presente do Brasil, que cobre do segundo governo de Vargas até a vitória nas eleições de 2010. Chega ao ponto de o leitor ter a sensação de que não está lendo uma biografia e sim um livro de história. Dilma viveu episódios marcantes que compõe esse período de perto, permitindo à obra uma aproximação de todos os desafios e consequências diretas que os acontecimentos históricos tiveram para a mineira.
Saber que Dilma, quando criança, rasgou ao meio uma nota para dividir com um menino pobre, ou que aos 13 anos, participando de um coletivo da Igreja para ajudar numa favela, falou que achava que a iniciativa era boa “mas não vai levar a lugar nenhum. Não resolve os problemas reais”, pode ajudar a compreender ainda mais quem, hoje, ocupa o maior cargo do Brasil. A descrição do caminho até ser ministra de Minas e Energia, que passa pelo corajoso enredo da ditadura, também explica muito das atitudes e a personalidade de Dilma nos governos, mas talvez seja durante a apuração dos dois mandatos de Lula que está o mais importante da biografia. Amaral explica em miúdos a importância do trabalho de Rousseff na articulação interna da presidência e todos os desafios de governar. Qual foi, afinal, o papel de Dilma em seus oito anos no governo federal? Como, e por que, ela foi a escolhida para suceder o presidente mais popular da história?
Dilma aprendeu na marra “a vida não é fácil”. Sua história de luta, resistência, estudos e trabalho duro começou cedo, muito cedo. A vida quer é coragem detalha os caminhos que a levaram à Presidência da República e mostra ao leitor o quão absurdas são as declarações da imprensa de que ela seria apenas um “poste” do presidente Lula. O livro é leitura necessária não só para entender de fato a mulher, seu governo e os do antecessor, ou a história dos anos de chumbo pela visão de uma das opositoras duramente reprimidas, mas para que se tenha claro a impossibilidade de reduzir ou desmerecer uma personagem tão forte e tão importante quanto Dilma Rousseff.