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O Grande Gatsby é uma adaptação pós-moderna do romance modernista de F. Scott Fitzgerald, escrito em 1925 na ‘Era do Jazz‘. Essa não é a primeira tentativa de se adaptar um clássico da literatura com um viés contemporâneo, e não é a primeira a falhar. Este filme, dirigido pelo australiano Baz Lurhmann, é uma vulgar, releitura de um dos maiores livros da história da literatura, sem razão nem propósito.
Procure imaginar o tom de O Curioso Caso de Benjamin Button (outro filme baseado em uma história de Fitzgerald) com o movimento e as cores de Moulin Rouge (outro filme de Lurhmann) e você terá uma ideia. As coisas simplesmente não batem. Lurhmann substituiu a poesia melancólica de Fitzgerald por uma histeria melodramática. Reconstituindo a Nova York dos anos 20 em um oceano de computação gráfica e uma trilha sonora produzida pelo rapper Jay-Z – tudo filmado em 3D porque é bonito e está na moda – ele privou a obra do caráter irônico e triste pretendido por Fitzgerald.
Falando em moda, as únicas coisas que funcionam em todo O Grande Gatsby são o design de produção e os figurinos criados por Catherine Martin, esposa do diretor. São centenas e mais centenas de ternos, vestidos, perucas e adereços criados individualmente para cada um dos personagens, e, provavelmente, é o único aspecto de todo o filme que se aproxima de algo com ‘personalidade’.
Nick Carraway (Tobey Maguire) é um jovem contador que trabalha em Wall Street às vésperas da crise de 1929. Ele mora em uma casa à beira da baía de West Egg em Long Island ao lado da mansão de um excêntrico milionário de passado desconhecido chamado Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio). O milionário um dia o convida para participar de uma de suas festas de arromba – às quais ele próprio jamais comparecia – onde Nick é apresentado a um deslumbrante mundo colorido e regado a bebida, fantasioso e belo, cheio de pessoas diferentes e interessantes.
Essa beleza é só uma fachada, que esconde algo tão obscuro quanto o passado do próprio Gatsby. Ele sabe que Nick é primo de uma bela jovem chamada Daisy (Carey Mulligan), que é casada com um rico arrogante chamado Tom Buchanan (Joel Edgerton). Ele quer rever Daisy, pois, aparentemente, os dois haviam sido namorados há alguns anos, antes de Gatsby ir para a guerra. Um amor impossível, um marido invejoso, um caso infiel e um carro amarelo são os elementos para transformar o mundo de Gatsby e de Nick em um inferno.
Diretor e roteirista tomam certas liberdades artísticas em O Grande Gatsby que são um pouco preocupantes, ao transformarem Nick em um alcoólatra internado em um hospício enquanto escreve o romance – coisa que não existe no livro – que conta sua história. Nick é inteligente e forte demais para sucumbir dessa forma. Ele é o agente observador e o narrador da história. Pelo seu ponto de vista é que o conto de amor de Gatsby é transmitido. Ele também representa tudo o que é mais perceptivo e íntegro no próprio F. Scott Fitzgerald.
Gatsby, em toda sua ingênua perseverança, transformou-se em uma pessoa completamente diferente, criou uma fortuna, por meios lícitos e ilícitos, para impressionar a garota que ele amava. De fato, Fitzgerald, não muito diferentemente, se apaixonou por uma mulher que estava destinada a afundá-lo, como seu amigo Ernest Hemingway lhe avisou. Não foi o bastante, pois Fitzgerald, assim como seu protagonista, era movido por uma força maior: uma luz verde que ficava no cais do outro lado da baía, em frente à casa de Daisy, a qual Gatsby observava com esperança.
Porém, autor e personagem falharam em perceber – ou perceberam mas não foram capazes de alterar – é que Daisy e seu marido, Tom, eram descuidados, e “destruíam coisas e pessoas e, depois, se refugiavam em seu dinheiro ou em sua indiferença, e deixavam que os outros resolvessem as trapalhadas que haviam feito”, como o próprio livro diz.
E o que o diretor Baz Lurhmann falhou em perceber é que esta é uma história de um sonho perdido. Os elementos que compõem sua obra não se unem. Os atores estão bem (especialmente Maguire), mas não DiCaprio, cujo melancólico personagem foi transformado em um bufão, arrogante e infantil. É verdade que o filme melhora conforme se aproxima do final, pois é uma história boa demais para ser estragada por um diretor que confundiu ousadia com arrogância. É fato também que Fitzgerald eventualmente morreu acreditando ser um fracasso. Mas ele não era. O filme, no entanto…
O Grande Gatsby é uma adaptação pós-moderna do romance modernista de F. Scott Fitzgerald, escrito em 1925, na ‘Era do Jazz‘. Essa não é a primeira tentativa de se adaptar um clássico da literatura com um viés contemporâneo, e não é a primeira a falhar. Este filme, dirigido pelo australiano Baz Lurhmann, é uma vulgar, releitura de um dos maiores livros da história da literatura, sem razão nem propósito.
Procure imaginar o tom de O Curioso Caso de Benjamin Button (outro filme baseado em uma história de Fitzgerald) com o movimento e as cores de Moulin Rouge (outro filme de Lurhmann) e você terá uma ideia. As coisas simplesmente não batem. Lurhmann substituiu a poesia melancólica de Fitzgerald por uma histeria melodramática. Reconstituindo a Nova York dos anos 20 em um oceano de computação gráfica e uma trilha sonora produzida pelo rapper Jay-Z – tudo filmado em 3D porque é bonito e está na moda – ele privou a obra do caráter irônico e triste pretendido por Fitzgerald.
Falando em moda, as únicas coisas que funcionam em todo O Grande Gatsby são o design de produção e os figurinos criados por Catherine Martin, esposa do diretor. São centenas e mais centenas de ternos, vestidos, perucas e adereços criados individualmente para cada um dos personagens, e, provavelmente, é o único aspecto de todo o filme que se aproxima de algo com ‘personalidade’.
Nick Carraway (Tobey Maguire) é um jovem contador que trabalha em Wall Street às vésperas da crise de 1929. Ele mora em uma casa à beira da baía de West Egg em Long Island ao lado da mansão de um excêntrico milionário de passado desconhecido chamado Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio). O milionário um dia o convida para participar de uma de suas festas de arromba – às quais ele próprio jamais comparecia – onde Nick é apresentado a um deslumbrante mundo colorido e regado a bebida, fantasioso e belo, cheio de pessoas diferentes e interessantes.
Essa beleza é só uma fachada, que esconde algo tão obscuro quanto o passado do próprio Gatsby. Ele sabe que Nick é primo de uma bela jovem chamada Daisy (Carey Mulligan), que é casada com um rico arrogante chamado Tom Buchanan (Joel Edgerton). Ele quer rever Daisy, pois, aparentemente, os dois haviam sido namorados há alguns anos, antes de Gatsby ir para a guerra. Um amor impossível, um marido invejoso, um caso infiel e um carro amarelo são os elementos para transformar o mundo de Gatsby e de Nick em um inferno.
Diretor e roteirista tomam certas liberdades artísticas em O Grande Gatsby que são um pouco preocupantes, ao transformarem Nick em um alcoólatra internado em um hospício enquanto escreve o romance – coisa que não existe no livro – que conta sua história. Nick é inteligente e forte demais para sucumbir dessa forma. Ele é o agente observador e o narrador da história. Pelo seu ponto de vista é que o conto de amor de Gatsby é transmitido. Ele também representa tudo o que é mais perceptivo e íntegro no próprio F. Scott Fitzgerald.
Gatsby, em toda sua ingênua perseverança, transformou-se em uma pessoa completamente diferente, criou uma fortuna, por meios lícitos e ilícitos, para impressionar a garota que ele amava. De fato, Fitzgerald, não muito diferentemente, se apaixonou por uma mulher que estava destinada a afundá-lo, como seu amigo Ernest Hemingway lhe avisou. Não foi o bastante, pois Fitzgerald, assim como seu protagonista, era movido por uma força maior: uma luz verde que ficava no cais do outro lado da baía, em frente à casa de Daisy, a qual Gatsby observava com esperança.
Porém, autor e personagem falharam em perceber – ou perceberam mas não foram capazes de alterar – é que Daisy e seu marido, Tom, eram descuidados, e “destruíam coisas e pessoas e, depois, se refugiavam em seu dinheiro ou em sua indiferença, e deixavam que os outros resolvessem as trapalhadas que haviam feito”, como o próprio livro diz.
E o que o diretor Baz Lurhmann falhou em perceber é que esta é uma história de um sonho perdido. Os elementos que compõem sua obra não se unem. Os atores estão bem (especialmente Maguire), mas não DiCaprio, cujo melancólico personagem foi transformado em um bufão, arrogante e infantil. É verdade que o filme melhora conforme se aproxima do final, pois é uma história boa demais para ser estragada por um diretor que confundiu ousadia com arrogância. É fato também que Fitzgerald eventualmente morreu acreditando ser um fracasso. Mas ele não era. O filme, no entanto…