John Logan (Hugh Jackman) começa sua jornada em Wolverine: Imortal (The Wolverine, EUA, 2013) como um Ronin, um samurai sem mestre, até que, pouco a pouco reencontra seu caminho e suas aptidões heroicas no que é o melhor filme da franquia X-Men, desde X-Men 2, dirigido por Bryan Singer em 2003.
Nos últimos dez anos, a série perdeu sua força em um turbilhão de computação gráfica e ação desmedida, apesar de contar com bons elencos. Evidências podem ser encontradas nos abismais X-Men O Confronto Final (2006) e X-Men Origens: Wolverine (2009) e no decepcionante X-Men First Class (2011).
Wolverine era para ter sido dirigido por Darren Aronofsky depois do fiasco dos últimos filmes em que o personagem teve papel de destaque. No entanto, de acordo com especulações, o diretor de Cisne Negro injetou sexo e violência em doses excessivas demais para que o estúdio fosse em frente com o projeto. James Mangold foi contratado em seu lugar e, contrárias às expectativas, conseguiu fazer um bom trabalho.
Dois anos após os acontecimentos de X-Men: O Confronto Final, John Logan lamenta *spoiler* a morte de sua amada Jean Gray. Isolado no Alasca ele se desentende com um grupo de caçadores, mas é impedido de fazer alguma besteira pela jovem e excêntrica Yukio (Rila Fukushima) uma extraordinária espadachim que ainda possui a capacidade de ver relances do futuro, uma habilidade que pode muito ajudar John Logan em sua jornada.
Ela o contata para viajar até Tóquio e se reencontrar com um homem chamado Yashida. Muitos anos antes, Logan foi mantido prisioneiro em um campo de concentração japonês em Nagasaki. No momento do bombardeio nuclear, ele viu Yashida, na época um guarda militar, libertar prisioneiros norte-americanos para que eles tivessem uma chance de sobrevivência. Não tinham, mas naquele momento, Logan deve ter visto algo em Yashida que valia à pena ser preservado e o salvou, protegendo-o com seu corpo, do calor da explosão.
Se Logan foi sábio em sua escolha, não cabe a mim dizer a você, leitor, neste momento. No entanto, mais de seis décadas depois, Yashida construiu para si um império da tecnologia e se tornou um dos homens mais poderosos do Japão. No entanto, como qualquer homem, ele não escapa à morte. Moribundo, seu último desejo é agradecer Logan oferecendo-lhe algo que ele não possui: mortalidade.
Há mais escondido nas tramas e subtramas de Wolverine: Imortal que se desenrolam a partir desse encontro entre os dois personagens. Logan conhece o filho de Yashida, Shingen (o sensacional Hiroyuki Sanada) um exímio, mas arrogante espadachim e empresário, cuja ganância e desejo de assumir os negócios do pai após sua morte serão cruciais para o desenvolvimento da narrativa. E sua filha, neta de Yashida, Mariko (Tao Okamoto) com que Logan terá seu primeiro interesse romântico após a morte de sua amada.
Logan, assim como o filme, está em busca de significado. Suas perturbações internas, seus dilemas morais, seus atos heroicos se perderam nos últimos filmes. Em Wolverine: Imortal, eles são resgatados. Mesmo que o filme sirva somente como um interlúdio entre X-Men: O Confronto Final e X-Men: Days of Future Past, a obra atua de forma convincente para criar novos níveis de profundidade no personagem mais popular do grupo de mutantes.
James Mangold injeta violência na media certa e suas cenas de ação são bem orquestradas e mais coerentes que nos filmes anteriores, servindo a um propósito narrativo, com começos, meios e fins bem delineados. É certo que Wolverine: Imortal descarrilha na última meia hora, quando a Computação Gráfica ataca, e que é um filme da franquia X-Men um tanto pessimista com relação à trajetória moral de seus antagonistas. No entanto, parece ser uma obra que finalmente tem algo a dizer e, antes tarde do que nunca, capaz de resgatar algo de humano que havia sido perdido em algum momento da jornada de seu herói.