Cinéfilos sabem como é difícil assistir a um dos filmes de Stanley Kubrick e não ser impactado por alguma cena ou diálogo particularmente chocante. Quem passou a duvidar de computadores após conhecer HAL ou riu assistindo Kong montar na bomba atômica entenderá do que estou falando.
Tais admiradores e curiosos sobre o cineasta americano irão se deleitar com Stanley Kubrick, em cartaz até janeiro de 2014 no Museu de Imagem e Som (MIS), em São Paulo. A mostra itinerária, que já marcou presença em cidades como Zurique, Paris, Amsterdã e Roma, chega pela primeira vez à América Latina e já atraiu centenas de visitantes logo no seu primeiro fim de semana na capital paulista.
O percurso pelas 16 salas da exposição é organizado em ordem cronológica, com o intuito de que o espectador aprenda sobre cada uma das produções na sequência em que foram lançadas – sequência essa indicada em uma linha do tempo logo na entrada do local. Começando por títulos menos conhecidos, como os três primeiros e únicos curtas-metragens de Kubrick Flying Padre (1951), Day Of The Fight (1951) e The Seafarers (1953), os ambientes são repletos de objetos originais dos períodos de filmagem, como pôsteres, correspondências, fotos de bastidores, cadernos de edição, relatórios, esboços de roteiros, peças de figurino, etc. Em seguida, o caminho direciona para o início da carreira do diretor no campo da ficção, gênero que o consagrou como uma das maiores lendas do cinema ocidental. E depois da imersão em Medo e Desejo (1953), A Morte Passou Por Perto (1954) e O Grande Golpe (1956), começa a melhor parte.
O grande triunfo da exposição são seus espaços decorados de acordo com os grandes sucessos de Kubrick. O resultado é a facilidade com que se é transportado para a época, cenário e clima dos filmes originais. Destaca-se em especial a assustadora imitação dos corredores do hotel de O Iluminado (1980). Nela, todos os artigos são brilhantemente escondidos atrás das portas de quartos fictícios, garantindo o nervosismo do público ao abrir cada uma delas – além da sensação de que, a qualquer momento, Danny passará pedalando ao seu lado. A reluzente e circular sala de 2001 – Uma Odisséia no Espaço (1986), assim como as paredes pretas e neons coloridos no estilo do Korova Milk Bar de Laranja Mecânica (1971) também merecem elogios.
A trajetória é por fim concluída com informações sobre películas iniciadas pelo artista, mas que ele nunca teve chance de terminar. Napoleão começou a ser desenvolvido logo depois da estreia de 2001, enquanto A.I. – Inteligência Artificial foi somente concebido pelo americano, quem acreditava não possuir tecnologia suficiente em seu tempo para executar a narrativa da maneira que imaginara. Explicações sobre as escolhas características de Kubrick para suas trilhas sonoras e documentários sobre sua vida e obra complementam ainda mais a experiência vivida dentro do MIS.
O que o museu está oferecendo quando abre suas portas para uma atração como essa são, não só relíquias ou conhecimento sobre uma fração importantíssima do cinema internacional – valorizada ainda mais por uma curadoria tão precisa e apaixonada -, mas também a chance de ver um gênio das telonas ganhar o coração dos brasileiros por várias gerações.