Por Marli dos Santos e André Ribeiro
O nome dela é Fernanda dos Santos Soubhia. Como ela mesma diz o “‘aga’ no meio confunde todo mundo, né?”. No dia 18 de junho de 2024, ela completa 32 anos. É geminiana. No seu Instagram, ela faz várias declarações de amor ao São Paulo Futebol Clube, uma delas chamou a atenção:
“Assumo que sou uma torcedora visceral, vivo o São Paulo. Talvez a psicologia explique isso. Eu, como são-paulina fanática, não tenho essa pretensão enquanto escrevo. Choro um choro de alegria, de alívio, de orgulho. Está aqui a minha maior paixão e, como tudo, a paixão é inexplicável, irracional e desmedida. O amor pelo São Paulo é um sentimento que não se mensura.”
Nessa entrevista, Fernanda fala da sua trajetória profissional, da sua dedicação aos estudos e ao Direito, destacando a importância da especialização em Jornalismo Esportivo na Cásper para a sua atuação hoje como assessora de comunicação do São Paulo.
A paixão pelo futebol veio aos 6 anos, após ter assistido a um jogo entre São Paulo e Corinthians em 1998. Quem a levou ao estádio foi o pai. Naquele jogo, o Corinthians ganhou do São Paulo por dois gols a um. Na rampa de saída do estádio, a menina olha para o pai e diz: “Eu vou ser corinthiana”. O pai, torcedor do São Paulo, calmamente respondeu: “Se você for corinthiana eu nunca mais te trago ao estádio”.
Foi o suficiente para Fernanda decidir nunca mais falar do time adversário, porque teria que deixar de frequentar os estádios e assistir aos jogos do São Paulo. “Nunca, nunca mais falei de Corinthians”. E foi assim até atingir idade suficiente para que ela mesma assumisse o compromisso de levar o pai aos jogos nos estádios do Morumbi e Pacaembu. Às vezes ia sozinha durante a semana, atravessava a cidade para chegar ao Morumbi e curtir o futebol e seu time.
Aos 8 anos, espelhando-se na família, decidiu que seria advogada.
“Minha família toda é do Direito, então, acompanhava minha família e gostava (…) sempre quis ser juíza, não pensava em outras possibilidades, desde os 8 anos”.
E foi com essa vivência familiar que se formou em direito pela PUC de São Paulo, tornando-se advogada trabalhista. Depois resolveu fazer uma outra pós-graduação em Direito e Processo do Trabalho pela mesma instituição. Mas ela não parou por aí, viajou para Portugal para focar ainda mais na área do Direito trabalhista na Universidade de Lisboa. Já de volta ao Brasil, em 2021, outra pós-graduação, dessa vez em Direito Desportivo pela Faculdade Cers.
Mas desde o mestrado Fernanda não estava tão convicta de que deveria seguir no mesmo caminho traçado desde menina.
“Tudo partiu de uma pergunta do meu irmão quando eu ainda estava no Brasil (antes do mestrado em Portugal). Meu irmão, ele é muito evoluído e maduro. Ele falou assim: ‘Fê, você quer ser juíza ou você quer ser igual ao papai?’. Putz, foi uma pergunta que, assim, das poucas perguntas para as quais eu não tive resposta”.
O questionamento do irmão a fez pensar sobre a sua carreira, de alguma maneira já consolidada na advocacia.
“Como eu ia desistir de um sonho que eu tive por 20 anos? Eu falo brincando, tal, mas realmente foi isso”.
Mas longe do Brasil, ao cursar as disciplinas do mestrado em Portugal, Fernanda tomou uma decisão:
“Eu falei, tá bom, acho que não é mais o meu sonho! Eu quero ser jornalista esportiva.”
O que ela fez, ao voltar para o Brasil, antes de qualquer mudança, foi se preparar muito para isso. Ninguém botou muita fé quando ela revelou que queria buscar outro sonho: “Vai querer mudar de profissão, tá doida?”. É o que todos diziam. “Eu vou, acabou!”.
A grande questão foi: como começar? Fernanda não sabia os caminhos para o jornalismo. “Eu fiquei bem preocupada”. Em abril de 2021 se deparou com a divulgação do lançamento do curso de Jornalismo Esportivo na Faculdade Cásper Líbero, mas, por conta da pandemia, o curso só começaria em agosto do mesmo ano e em formato remoto:
“A hora que eu vi isso [o anúncio do curso], eu falei, gente, é um sinal! A Cásper tá abrindo a primeira pós em Jornalismo Esportivo, não, não é à toa. Eu lembro que eu falava isso, aí eu falava: ‘Pai, foi Deus!’, aí meu pai falava assim: ‘Fê, eu acho que Deus tem coisa mais importante pra se preocupar'”.
Como o curso só aconteceria meses depois, Fernanda decidiu cursar uma especialização em Direito Desportivo. “Ah, vou, por que não?”. Nessa transição de carreira, ela não largou a advocacia de uma vez.
“É muito bonito falar de transição de carreira, mas a gente tem que se preparar para uma transição. A gente tem que ter uma segurança. Do nada, largar tudo, desistir? Até porque eu tinha cliente. Eu sou autônoma, então, o que eu faria com os meus clientes?”
Fernanda não confiou a ninguém a tarefa de cuidar dos seus compromissos profissionais, conciliando tudo até o final.
“Minha mãe sempre falou isso: ‘Parece que o seu dia tem 48 horas porque você consegue fazer muita coisa'”.
Ela se matriculou e cursou Jornalismo Esportivo na Cásper. Foi se apaixonando cada vez mais pela área e se encontrou:
“Amava as aulas, voltava de todas as aulas (…) encantada e super inspirada, falava, bom, eu quero ser igual a esses caras, é assim”.
E concluiu:
“O curso realmente foi o divisor de águas”.
As suas dúvidas sobre o futuro logo desapareceram. Além da felicidade em estar cursando Jornalismo Esportivo, um professor do curso de Direito desportivo a convidou para trabalhar no São Paulo FC, como advogada da base, fazendo contrato de atleta da base. “A sorte encontra quem tá preparado, né?”
Pouco mais de um ano depois, surgiu uma vaga na assessoria de comunicação do clube. Ela pediu transferência para trabalhar no setor. E foi. Na atividade da assessoria de comunicação, ela usa os conhecimentos adquiridos na especialização em Jornalismo Esportivo, mas também muito o que aprendeu como advogada, inclusive no Direito desportivo. Um campo de conhecimento complementa o outro. Para Fernanda, tudo o que se aprende é importante na formação e na prática profissional. O seu lado advogada requer uma certa formalidade, mas não muda o seu jeito de ser porque está em uma área ou outra. Ela é espontânea, carismática, comunicadora e isso é cativante na sua personalidade.
Sobre a sua chegada ao setor de comunicação do São Paulo, ela fala da emoção:
“Eu acho que eu nem acreditava, eu sentava na minha cama, eu falava: ‘cara, cara, eu vou chorar’. Eu me emocionei quando entrei no São Paulo, me emocionei quando fui pra comunicação. E hoje eu acho que eu tenho uma clareza maior, assim, de como é essa junção das áreas (…) as duas se completam perfeitamente”.
“É dinâmico, porque eu, além do futebol, todo mundo faz meio tudo, é uma equipe grande e no geral todo mundo faz tudo. Eu faço futebol, basquete nas redes sociais, todas as redes, conteúdo, site. Eles sabem que eu gosto bastante de escrever. Assim, eu relato os jogos e depois o vestiário, que é o texto que a gente faz com as aspas do técnico e dos jogadores. E aí tem outros textos, né?”
Nenhum dia é igual ao outro, na equipe de 25 pessoas dentro da assessoria do SPFC. Não há monotonia nas atividades que Fernanda executa no seu trabalho:
“Tem todas as redes sociais, tem site, tem o vídeo do basquete, o boletim, eu que faço também”.
O sonho de Fernanda no jornalismo esportivo é ser apresentadora. Apresentar o boletim do basquete acaba sendo uma experiência e tanto. Foi ela mesma quem pediu ao chefe uma chance e se deu bem. É uma das coisas que mais gosta de fazer:
“A gente vai vendo no que a gente tem mais aptidão. O autoconhecimento é bom por isso também”.
Tudo tem horário no seu dia a dia na assessoria. As postagens, os textos a serem produzidos, a gravação do boletim. Tem horário de entrada e saída. Os dias de jogos e os de pós-jogos são os momentos mais movimentados.
“Tem que ver se perdeu, se ganhou, qual vai ser o tom nas redes. Tudo isso a gente se preocupa.”
Fim de semana não tem folga, é momento em que o futebol é destaque. Os dias livres acontecem durante a semana, a menos que tenha algum compromisso excepcional.
Como nem sempre a torcida está satisfeita com os resultados do time, enfrenta dias ruins, como todo mundo. É quando o “conteúdo é mais frio”. Também se preocupa em preservar o atleta, porque é preciso ver antes o lado humano:
“É que, às vezes, a cobrança extrapola todos os limites de respeito, de bom senso, tudo. Então, é um jogador, puxa, jogou mal, mas às vezes tem um motivo, vamos preservar o cara, então, a gente não expõe o cara nas redes”.
O trabalho desenvolvido na assessoria é muito bem planejado, segundo Fernanda:
“A gente tem que antever sempre, a gente tem que olhar o problema e falar: ‘então, espera aí, deixa eu recuar, deixa eu mudar a estratégia’. É por isso que eu acho que é a mesma coisa: o que eu faço no Direito, é o que eu faço na comunicação, eu prevejo problemas”.
Fernanda ainda ressalta o momento difícil que estamos vivendo com as polarizações nas redes e como é importante a ética no seu trabalho.
Com os jornalistas de redação, nunca teve problema. “Hoje eu estou desse lado, amanhã eu posso estar do outro…”. Com a profissionalização da comunicação nos clubes, muitas coisas que aconteciam antigamente, como o acesso dos repórteres aos jogadores e aos vestiários, isso não acontece mais. Na vivência diária, acha que o respeito entre os profissionais é básico para manter uma boa relação com os jornalistas de redação, mesmo que um dos lados fique um pouco insatisfeito.
“Eu sempre tento falar de um jeito mais tranquilo (…) nunca virá de mim antipatia, grosseria (…), por isso que eu não tenho problemas, eu não tenho embates, não tenho brigas. A relação é diplomática, porque cada um está tentando fazer o seu trabalho (…) A gente também tem que entender as limitações do outro lado”.
“Só me ajuda. Se não fosse a minha paixão, eu não estaria no São Paulo. Eu estou porque eu sou apaixonada, né? É causa e consequência. (…) trabalhar em clube de futebol, sobretudo quando você é torcedor daquele clube, tem o aspecto da paixão. Eu sempre fui movida pelas minhas paixões.”
Para Fernanda, a paixão é um caminho para o foco no seu trabalho. Sempre tenta resgatar, mesmo trabalhando diariamente no clube, o “frio na barriga antes de cada jogo, o brilho no olhar”. Porque para ela o São Paulo é mais que futebol, é um clube de futebol no qual ela atua intensamente.
Ser torcedora apaixonada ajuda na inspiração que tem para os conteúdos que elabora para o site, redes sociais e boletins.
“Eu adorava ver bastidores, o que os jogadores fazem quando não estão com o uniforme do São Paulo, quando não estão jogando, como que eles são com a família.”
Por isso, ela conclui que a paixão só a ajuda.
Aos pós-graduandos de jornalismo esportivo da Cásper Fernanda recomenda que estudem muito. Isso vale não só para o conhecimento presente nos livros mas também pelos professores. O relacionamento com os colegas também é fundamental.
“Olha a oportunidade que eles têm! A hora que você senta ali na cadeira, você fala: ‘nossa, olha com quem que eu tô, olha quem é o convidado, olha com quem que eu tô, puxa, mas via na TV!'”.
Ela conclui que as experiências e as outras leituras também contribuem para o repertório profissional. “A gente consegue ter tantas ideias, absorvendo tudo que está a nossa volta e também sem perder o lado torcedor.”
“Tenho o maior orgulho, assim de verdade, de ter de ter sido aluna da Cásper, de falar pra todo Cásper com a boca cheia assim, sabe? Orgulho mesmo, porque eu tenho certeza que é a melhor faculdade de comunicação (…) Eu sei que eu só alcancei muitos lugares porque eu fui aluna da Cásper, com certeza.”
No final, ela canta envergonhada o hino do clube: “Salve o tricolor Paulista, amado clube brasileiro tu és, tu és grande. Dentre os grandes, é o primeiro….”
Este conteúdo faz parte da Newsletter Pós na Cásper, uma iniciativa dos cursos de Pós-Graduação lato sensu da Faculdade Cásper Líbero, que informa e divulga as produções realizadas pelos estudantes que desejam aplicar o conhecimento adquirido em suas atividades profissionais nas organizações, ou querem realizar novos projetos, como transição de carreira ou inovação nas funções que já exercem. Iniciativas e perfis de docentes, além de agenda sobre eventos (como aulas magnas e abertas, mesas-redondas, oficinas, rodas de conversa, entre outros) também são o foco da publicação.
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