Jean Eduardo Nicolau é diretor jurídico da Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo (ACEESP), jornalista pela Faculdade Cásper Líbero e formado em direito pela Universidade de São Paulo. Realizou mestrado e doutorado na França, antes de se especializar em direito desportivo pela Escola Superior de Advocacia da OAB/SP. Além disso, é professor da disciplina Ética, Legislação e Direito Desportivo na pós-graduação em Jornalismo Esportivo da Cásper.
Na conversa com os pós-graduandos em Jornalismo Esportivo, Jean abordou pontos importantes para o mundo da comunicação e do jornalismo esportivo. Entre as questões trazidas pelo especialista, ele mencionou a capacidade da imprensa em tratar com precisão temas relacionados ao direito, a importância do direito desportivo e as questões jurídico-esportivas mais palpitantes da atualidade. Confira os principais destaques da entrevista, que foram editados em formato de perguntas e respostas, após a gravação do podcast produzido, apresentado e editado pelos pós-graduandos Filipe Saochuk, Gabriel Assis, Giovanni Panatto e Ulisses Belluzzo.
A partir da Lei Pelé, o que acontece? O vínculo federativo passa a ser acessório ao vínculo trabalhista. Aí o clube precisa ter um advogado para redigir bons contratos de trabalho. Você tem um advogado para buscar a renovação do contrato antes desse contrato chegar próximo do final, para ter poder de barganha.
O processo de desenvolvimento do direito desportivo teve outro marco com os primeiros cursos na década de 2010. Para além da importância prática do setor esportivo, a consolidação dessa área como segmento relevante da advocacia representa um campo de trabalho a mais para apaixonados por esporte.
O esporte desperta paixão e as pessoas tentam profissionalizar seus hobbies. A gente tenta se aproximar daquilo que a gente ama de alguma forma.
Não só a imprensa esportiva, a imprensa de maneira geral tem dificuldade. Não chama a atenção, porque o direito é uma área muito hermética, de difícil explicação.
Apesar da compreensão demonstrada para com a imprensa, Jean ressalta a responsabilidade dos jornalistas em aperfeiçoar a o conhecimento e a linguagem para transmitir informações relacionadas ao direito.
Acredito que seja possível melhor a comunicação. Essa é a função do bom jornalista: conseguir entender, mesmo que de maneira superficial, e transmitir a verdade.
Eu nunca vi nenhum caso parecido, mas dá para dizer que, caso realmente a Wada entendesse que houve fraude por parte de uma das agências reconhecidas pelo sistema internacional de dopagem, essa agência poderia ser descredenciada. E, naturalmente, sendo a agência americana, seria muito ruim para o esporte internacional de maneira geral.
Isso porque a Wada é fruto de uma convenção internacional ratificada por mais de cem países. A convenção prevê a criação de uma entidade privada, que faz parte do movimento esportivo internacional, com a missão de realmente observar os acontecimentos mundo afora.
Como aquele indivíduo que nasceu socialmente considerado como homem pode disputar a competição feminina? Quais são as regras hoje? Dependendo de cada modalidade, você vai precisar criar critérios objetivos para fazer essa distinção.
Vai ser cada vez mais difícil restringir a participação de um atleta trans em uma competição. Para justificar uma eventual restrição ou uma exclusão, você vai ter que apresentar argumentos muito sólidos devido a um maior clamor da opinião pública pela integração de atletas trans, pela diversidade e pelo respeito ao próximo.
Você deve admitir que o esporte de alto rendimento pressupõe o fato de que todos os competidores não são iguais. São iguais em dignidade e em direitos. Respeito é devido a todos, mas admiração no campo esportivo não é devida, só àqueles que fazem por merecer. Para isso, você precisa ter regras que controlam o que garantem o que se chama de princípio de paridade de armas.
O Fair Play Financeiro tem diversos significados. Tem um que se refere só ao aspecto tributário, um play que se refere a questões trabalhistas, salariais…
As primeiras regras de equilíbrio financeiro criadas pela UEFA foram idealizadas por Michel Platini, ex-presidente da organização. O modelo impede que dinheiro de fora do futebol e, principalmente, investimentos estrangeiros, sejam aportados para o esporte de forma desregulada. Os clubes, portanto, só poderiam gastar parte do que arrecadam sem a injeção artificial de dinheiro de um fundo não relacionado ao jogo.
O clube tinha que provar para um comitê de gestão da UEFA (União das Associações Europeias de Futebol) que tinha capacidade de produzir, de gerar aquele valor com a sua atividade esportiva. Quer dizer, eu tinha que provar que o meu espaço de patrocínio de camisa vale 100 milhões de euros para poder receber um patrocínio de 100 milhões de euros. Eu não posso receber o patrocínio de 2 bilhões de euros de forma aleatória, sem provar que aquele é o valor real da minha camisa.
Além de impedir esse crescimento artificial e desenfreado de clubes com donos bilionários, a medida também tinha como objetivo impedir que o futebol se tornasse meio de lavagem de dinheiro ou evasão de divisas.
Por outro lado, isto acaba sendo um impeditivo para novos clubes terem a oportunidade de competir com os grandes já consagrados. Clubes de menor peso histórico, cujo objetivo é se colocar na prateleira mais alta do futebol europeu, como Manchester City, Paris Saint-Germain, Tottenham, podem ter crescimentos contidos pelo fair play. E esse conflito de interesses também ocorre no futebol brasileiro.
Os times até então dominantes dizem: “Precisamos fazer alguma coisa, porque tem um novo peixe grande neste tanque!”
Quer dizer que estar adquirindo dívidas milionárias ao longo de décadas e ter sido sustentado em boa parte por empresas públicas ou de economia mista é moralmente aceito. Mas ver um rival que estava em decadência se reconstruir a partir de capital vindo do estrangeiro é moralmente contestável?
Você tem autoridade no Brasil também para controlar a origem do capital que é trazido para o Brasil por empresas estrangeiras? A partir do momento que o capital chega e é limpo, não vejo nenhum problema.
Acho que tem outras preocupações (antes do SAFs). Primeiro a divisão, a criação de liga ou, no mínimo, uma divisão mais igualitária dos direitos de TV.
Assista à entrevista na íntegra:
Este conteúdo faz parte da Newsletter Pós na Cásper, uma iniciativa dos cursos de Pós-Graduação lato sensu da Faculdade Cásper Líbero, que informa e divulga as produções realizadas pelos estudantes que desejam aplicar o conhecimento adquirido em suas atividades profissionais nas organizações, ou querem realizar novos projetos, como transição de carreira ou inovação nas funções que já exercem. Iniciativas e perfis de docentes, além de agenda sobre eventos (como aulas magnas e abertas, mesas-redondas, oficinas, rodas de conversa, entre outros) também são o foco da publicação.
Para sugerir pautas para a newsletter, envie um e-mail para [email protected]. Para receber o boletim mensal, inscreva-se pelo formulário abaixo: