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Crédito: Letícia Dias

Crédito: Letícia Dias

Um golpe que abalou o Brasil tirando vidas inocentes. Pessoas procuram até hoje seus amigos e familiares. É justamente com essa questão que a Comissão da Verdade se preocupa – em resolver os mistérios de um passado cruel e fazer justiça.
Esse foi o tema foi abordado pelos convidados Ana Lúcia Marchione, Maria Amélia Teles e Valério Arcary na noite de 4 de abril no Teatro Cásper Líbero, em um debate mediado por Maria Genilda Alves de Souza, professora de Comunicação Comparada em Rádio e TV e Estatística em Publicidade e Propaganda.
Valério Arcary é jornalista, mas formou-se em matemática e ciências sociais pela USP. Na década de 70, foi editor da Revista Etno Latino Américo Versos. Começou a atuar como professor da rede pública de São Paulo e participava de centros acadêmicos contra a ditadura. Foi obrigado a se exilar no Chile por 8 anos, pois sua namorada sofreu forte perseguição por ajudar um amigo, procurado pelos militares. Teve sua anistia em dezembro de 2013, mas deixa claro que a ditadura não acabou. Durante seu discurso, lamentou as injustiças sociais e a indiferença das pessoas perante a isso e pediu ajuda dos jovens para mudar essa realidade.
Maria Amélia Teles (Amelinha) é natural de Minas Gerais e conta que o golpe começou antes lá, com o comando do General Olimpio. Fez parte de partidos que usavam da luta armada para combater a ditadura. Trabalhou na imprensa clandestina por oito anos, cuidando de vários meios de comunicação. Fez parte de movimentos feministas, onde atua até hoje, pois sofreu muito com o machismo, até mesmo dentro da resistência. Foi anistiada em 1979, e desde então tem como objetivo procurar os corpos dos desaparecidos políticos da época. Conta fatos marcantes, como ter sido fortemente torturada e presa por cerca de seis meses. Ingressou na Comissão da Verdade em 2010 e ganhou uma ação contra um grande coronel torturador. Em suas últimas palavras sobre o que viveu, mostrou que o golpe trouxe uma violência de Estado, estruturado até hoje.
Ana Lúcia Marchione foi advogada de todos os torturados e perseguidos daquela época e seu papel foi fundamental para tentar preservar os direitos básicos de todos aqueles que foram. Trabalha no Grupo de Trabalho Treze, que auxilia a Comissão da Verdade, e conta que até hoje é difícil se conseguir os arquivos referentes àquela época. Em muitos desses documentos, conta que descobriu que a preparação do golpe foi muito antes, com base em muitos relatórios dos Estados Unidos. Seu empenho nos dias de hoje é descobrir os torturados daquela época, e quem assistiu a essas torturas, buscando por empresas e pessoas financiaram o golpe. Com isso, sofre certa perseguição. Assim como os outros dois entrevistados, busca a verdade.
Com o debate, a plateia teve contato com a realidade daquela época, que, infelizmente, continua até hoje, mesmo que mais fraca. Temos hoje um compromisso com aqueles que lutaram pela liberdade, em não deixar que nos tirem tal direito, e procurar a verdade ainda oculta.