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Crédito: José Adorno

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O cinema foi um dos temas debatidos durante a semana de reflexão sobre o Golpe Militar de 1964 provida pela Faculdade Cásper Líbero. Na manhã de quinta-feira, 3 de abril, a palestra mediada pela Profª. Drª. Sabina Anzuategui contou com a participação da Profª. Drª. Monica Brincalepe Campo; Prof. Me. Ninho Moraes; Frank Ferreira e Caio T. P. Lamas para o debate: “Cinema nos Tempos da Ditadura”.
Nascida durante o Regime Militar, Monica Brincalepe relatou que “para quem nasceu no pós-64, havia uma ausência de compreensão desses 21 anos”. O sentimento era claro: medo, mas não se sabia muito bem do quê. “Havia várias questões sem respostas: que caminho vamos seguir? Que Brasil vamos construir? A luta armada é a solução?”
Em seu mestrado, a ex-professora da Cásper Líbero se identificou-se com Marcelo, personagem do filme O desafio, de Paulo César Saraceni, que também vivia esses dilemas. A obra tenta compreender o que estava acontecendo na época e, segundo Monica, faz parte de um período em que a produção cultural objetivava o desenvolvimento social através da conscientização.
Caio Lamas revelou um tipo de produção cinematográfica bem diferente: o da Boca, isto é, a pornochanchada, filmes eróticos de baixo orçamento e lucro altíssimo. O questionamento principal de Caio é por que a censura do Regime Militar tolerou produções desse tipo. Entre vários motivos, ele destacou a autocensura por parte dos produtores e a ausência de “diretores marcados”, isto é, já perseguidos pela realização de obras anteriores.
O professor Ninho Moraes descreveu esse momento de reflexão como uma “viagem no tempo” e, desapontado, revela que muito dessa história será perdida devido à falta de preservação dos filmes da Cinemateca Brasileira, maior acervo de imagens em movimento da América Latina. Frank Ferreira contou um pouco sobre o embrião dessa instituição, o Clube de Cinema de São Paulo fundado em 1940. Ele relatou que foi um grande frequentador e que os filmes apresentados muitas vezes ainda não tinham passado pela censura.
Monica Brincalepe citou os quatro pilares da ditadura: censura, espionagem, propaganda e polícia política. Porém, como afirmou Sabina Anzuategui, a censura “não foi uma invenção do período militar” e já estava presente mesmo durante o governo democrático. Além disso, segundo Frank, “o surgimento do cinema vem acompanhado da censura”. A diferença é que, antes do Regime Militar, a ação repreensiva observava apenas a área da moral e do costume e, após esse período, ela se estendeu e atingiu o campo da política. Da plateia, o professor de filosofia Fabrício Tavares participou do debate dizendo que hoje há um modo muito sofisticado de censura: a má distribuição de filmes autorais para o grande público. Hoje, muitas vezes, o censor é a imprensa.