Quando anunciaram que Regina Spektor ia voltar ao Brasil e que seu show em São Paulo seria no Credicard Hall, parecia que, mais uma vez, tinham errado feio. Quando ela veio pela primeira vez, em 2010, o erro foi claro: o festival SWU, ao ar livre e com mais de dez mil pessoas, não era lugar para uma banda piano-e-voz. Praticamente qualquer um que não estivesse muito perto não conseguia nem ver nem ouvi-la, famosa pelos seus shows intimistas.
Os produtores correram riscos de um novo desastre. É improvável que Spektor conseguisse encher as centenas de cadeiras do Credicard Hall em qualquer circunstância. Numa quarta-feira, e num mês em que teve que disputar público com o Lollapalooza e o The Cure, a chance de sobrarem lugares era ainda maior.
Mas Spektor foi impressionante: preencheu o enorme local com uma voz poderosa e repleta de arabescos, seus longos vocalizes claros e precisos. Em termos visuais, o show foi um espetáculo de luzes coloridas que acompanhavam as melodias, movimentando-se da forma que Spektor, sentada o piano, não podia.
O começo foi uma surpresa. Spektor cantou Ain’t No Cover, canção acapella que nunca gravou em estúdio – um momento “íntimo” com seus fãs antigos. Depois, partiu para as músicas mais recentes: a segunda foi The Calculation, abertura do CD de 2009: Far.
O tour, que tem o intuito de divulgar seu novo CD, What We Saw From the Cheap Seats (O Que Nós Vimos dos Assentos Baratos), teve mais agradáveis surpresas do passado, como Ode To Divorce, Sailor Song e a bela The Flowers, as três lançadas em 2004.
Findados os aplausos de Ballad of a Politician (Você vai nos fazer gritar um dia/você vai nos fazer chorar), deu um aviso com um sorriso tímido: “Essa música é de ainda mais longe de casa que o Brasil. É de Nárnia” e, sob aplausos, começou as primeiras notas de The Call, canção de encerramento do filme As Crônicas de Nárnia: Príncipe Caspian.
No meio do show, entretanto, a cantora repentinamente se ausentou, dizendo que havia dificuldades técnicas. Ela voltou em alguns minutos e prosseguiu, mas o mistério permaneceu. Após a última música, The Party, o público chamou o “bis”. Ela retornou e começou a tocar Us. O Cradicard Hall foi tomado por um breve momento de anarquia: todos se levantaram de seus lugares e se aglomeraram em torno do palco, cantando em uníssono.
A cantora não parava de sorrir deste acolhimento caloroso, mas ao final comentou apenas “uau!” e saiu.
Um post no facebook de Spektor, na madrugada de ontem, esclarece: “Queridíssimos amigos de São Paulo! Vocês foram uma plateia incrível – fizeram meu coração doer de um jeito bom! Me desculpem por terminar o show mais cedo, mas uma corda que segurava um cano no teto caiu no meu engenheiro de som (felizmente ele está bem!) e ninguém mais estava seguro no palco porque as luzes podiam ter caído de 24 metros. Todos estão bem, mas sentimos falta de tocar mais três músicas para vocês.”
Essas foram as “dificuldades técnicas” que fizeram com que ela se ausentasse brevemente – e ainda voltou para tocar 45 minutos. Sobre o incidente, A Tickets For Fun se manifestou: “o show teve uma rápida interrupção e diminuição no seu bis, quando a cantora detectou uma suposta queda de cabo. Tão logo o show foi encerrado, ficou esclarecido que se tratava de uma corda leve de sisal usualmente utilizada para prender a cortina e que não oferece nenhum risco”. Ainda não ficou claro o que de fato aconteceu – o fato é que a plateia deixou de ouvir Fidelity, Hotel Song e Samson.
Mas um mérito tem que ser dado ao Credicard: como sobraram muitos lugares, a plateia superior foi fechada e os ocupantes dos “assentos baratos” foram realocados para poltronas do setor 1, melhores e mais próximas. O objetivo da medida era criar uma ilusão de casa cheia.
Deu certo, e Spektor está de parabéns: os assentos baratos tinham uma visão incrível.