A TV Gazeta, fundada em janeiro de 1970, foi pioneira na transmissão a cores no Brasil, inovou em formatos de programas e incentivou a produção independente. Criou talentos e marcou a história da comunicação, não apenas a da televisão. Sempre teve os melhores equipamentos e definiu alguns padrões que seriam seguidos por outras emissoras. Apesar de tudo isso, costuma ser apresentada em papel secundário quando se relembra as primeiras décadas da televisão no país, com canais de maior visibilidade à frente.

Quem reuniu e contou toda a história da Gazeta pelo lado dos bastidores, e não da audiência, foi Elmo Francfort, coordenador do Centro de Memória Cásper Líbero, no livro Av. Paulista, 900 – A história da TV Gazeta. O autor também faz parte da Associação dos Pioneiros, Profissionais e Incentivadores da Televisão no Brasil, a Pró-TV, que visa criar um museu da televisão. Essa associação tem parceria com a Imprensa Oficial, por meio da Coleção Aplauso, série de livros remontando a história de emissoras brasileiras e produzindo biografias de grandes nomes.

Elmo recebeu o convite para escrever algo inédito do então coordenador da Coleção Aplauso, Rubens Ewald Filho. Lembrou-se das histórias que seu tio Luiz Francfort, diretor-adjunto à época da direção de Marco Aurélio Rodrigues da Costa, contava para a família. “Meu tio é um dos pioneiros da TV Gazeta, fez parte da equipe que implantou a TV em cores no Brasil e na TV Gazeta, que possuía os equipamentos mais modernos. Ele também foi um dos coordenadores da transmissão a cores da primeira Fórmula 1 no Autódromo de Interlagos, transmitida pela TV Gazeta e retransmitida pela Rede Globo para o país inteiro”.

Elmo ouvia as histórias e pensava que alguém precisava “fazer justiça” com a TV Gazeta, que nunca visou ser líder de audiência, mas uma opção diferenciada. Depois de dois anos e meio e mais de cem depoimentos, Elmo publicou o livro com título que ressalta o projeto da emissora em ser voltada para a cidade de São Paulo.

Pioneirismo ofuscado

Sob as diretrizes de Marco Aurélio, Elmo ressaltou que não era prioridade ter nomes importantes na equipe, porque a ideia era formar profissionais, bem como fazer programas com novos formatos e propostas; ser um diferencial em relação a outras emissoras.

O autor contou que, em 14 de março de 1972, o programa semanal da Gazeta, Vida em Movimento, foi escolhido pelo então Ministro das Comunicações, Hygino Corsetti, para testar as melhores regulagens do sinal em cores, que seriam utilizadas por canais de todo o país na transmissão oficial, no dia 31 do mesmo mês. “Vida Alves era a apresentadora do programa […] e disse que não foi feito tanto barulho sobre essa transmissão, a mais importante, como outras emissoras fizeram”.

A Gazeta também foi uma das primeiras emissoras a utilizar fitas VHS e câmeras portáteis. Vários programas viraram marcas da TV Gazeta e foram se transformando e se adaptando até chegar ao que hoje são o Mulheres e o Mesa Redonda. “E tinha o Paulista 900, um programa de entrevistas que influenciou talk shows, inclusive o do Jô Soares. As vídeo-reportagens, feitas pelos chamados repórteres-abelha, nasceram aqui, onde também foram formados grandes nomes como Fernando Meirelles, Marcelo Tas, Serginho Groisman, Astrid Fontenelle, Faustão, Flávio Prado, Heródoto Barbeiro e Amaury Jr.”.

Já hoje, Elmo chama a atenção para a importância que a cidade tem para o canal, cujos objetivos são informar, trazer cultura, debater, fazer algo que seja uma lição de cidadania. Uma TV a serviço da cidade, com programas como Revista da Cidade, Espelhos e Cidade que não dorme.

Elo com a Faculdade Cásper Líbero

À época da direção de Albino Castro, a TV Gazeta começou a estreitar seu relacionamento com a Faculdade, contratando alunos para estagiar e doando fitas e equipamentos para estimular o aprendizado por meio da prática e da produção independente. “O livro também é importante porque permite conhecer melhor a instituição em que se estuda, saber que os objetivos da Fundação são de ser pioneira, inovar e formar. Percebendo que o passado não é obsoleto, podemos descobrir coisas e aprender com os erros, pegar o que tem de prático já realizado e ver o que é possível criar”, observou Elmo.

Em 2011, surgia o Núcleo de Criação, área que aproxima os alunos e egressos da TV, com o intuito de desenvolver programas para um público mais jovem, como A Máquina, Eu Nunca e O Mochileiro. “Nenhuma árvore pode dar frutos se ela não tiver uma raiz, como é o caso do próprio Cásper Líbero, ele criava e treinava profissionais na própria casa. Muitos surgiram começando como entregador de jornal”, disse Elmo Francfort.