No dia 10 de março, os alunos do período noturno do curso de Rádio e TV da Faculdade Cásper Líbero tiveram a oportunidade de conhecer mais sobre o trabalho de dois roteiristas brasileiros durante a Aula Magna, no Teatro Cásper Líbero.
Na abertura do evento, o professor e coordenador do curso, Roberto D’Ugo, ressaltou a importância do exercício da narrativa nos dias de hoje. Essa ideia foi reforçada por Marcos Lazarini, um dos convidados da noite, que já trabalhou em roteiros de novelas, minisséries e programas para emissoras como Rede Bandeirantes, Record e SBT: “Vivemos em um tempo que remete a algumas ideias de intolerância e brutalidade e eu acredito no poder da fabulação para quebrar com isso”.
Sua carreira começou em um momento em que a profissionalização do roteirista era muito mais difícil. Marcos relembrou a experiência que teve com Walter Durst. “Ele foi decisivo para a minha evolução na profissão.” A década de 1970, na visão de Lazarini, foi “a idade de ouro da TV brasileira”, pelo espaço concedido à experimentação. “As novelas que passavam naquela época, principalmente as do horário das 22h, jamais iriam ao ar hoje em dia.”
Thiago Dottori, o outro palestrante da noite, é formado em cinema pela FAAP e em Letras pela USP. O seu currículo inclui uma passagem pela O2 – uma das maiores e mais importantes produtoras do Brasil –, na qual teve a oportunidade de trabalhar com grandes nomes da cena nacional, como Fernando Meirelles e Bráulio Mantovani.
Com Mantovani, Dottori desenvolveu o roteiro que deu origem ao filme “VIPs”, estrelado por Wagner Moura. Dottori também enfatizou a importância do roteiro dentro de qualquer produção: “É o roteiro que vai dar unidade a um projeto, dar liga a tudo aquilo”.
Dottori se destacou por seu trabalho em séries de televisão, principalmente. Para ele, a TV se apropriou da linguagem cinematográfica: “O abismo entre as plataformas está muito menor, em termos de elaboração de roteiro, fotografia e outras coisas”.
Juntamente com Cao Hamburguer e Teo Poppovic, Thiago Dottori trabalhou na série “Pedro e Bianca”, da TV Cultura, ganhadora do Emmy International Kids Award. A série tem 52 episódios fechados – a história é concluída em cada um dos capítulos, sem uma continuidade entre um capítulo e outro: “Isso foi bem difícil. Criar uma nova história 52 vezes e manter a qualidade não é simples”. Um dos blocos da série foi exibido aos alunos durante a Aula Magna.
A professora Sabina Regiani Anzuategui, mediadora do debate, questionou os dois roteiristas sobre como eles lidam com a frustração. “Existe uma inevitável frustração entre o que se escreve e o que se assiste, sempre”, reconheceu Dottori. Para ter mais controle sobre essa disparidade, tem-se recorrido à figura do showrun – profissional híbrido (misto de roteirista, diretor e produtor). “A frustração faz parte da nossa profissão. Saber lidar com ela deve ser uma virtude, apesar disso parecer um pouco masoquista”, completou Lazarini.