Altino de Melo Prazeres Junior, 47 anos, além de condutor dos trens da Linha 1-Azul do Metrô, é presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo. Ele é o mediador de todas as negociações entre a categoria e o Metrô e entre a categoria e o governo do Estado. A seguir, entrevista com Altino sobre a greve dos metroviários, que acabou parando a capital paulista por 5 dias além de desencadear uma série de passeatas, “catracaços” e que, por fim, resultou na demissão de 42 grevistas.
Ana Cano: Hoje, dia 30 de maio, ocorreu mais uma das reuniões de negociação entre a categoria dos metroviários e o Metrô. Vocês conquistaram as reivindicações ou a greve continua agendada para o dia 5 de junho?
Altino Prazeres: A greve continua para o dia 5. Hoje discutimos bastante os temas da campanha salarial: desde o reajuste até vale refeição, vale alimentação, plano de carreira e outros itens da campanha. Porém, concretamente, o Metrô não avançou em nada e, por isso, a proposta de greve continua. Nós teremos mais duas rodadas de negociação no Tribunal na segunda e na quarta-feira, há expectativas por parte da categoria, mas, por enquanto, a empresa não avançou na negociação.
AC: A última proposta da empresa foi reajuste de 7,8%. No entanto, vocês reivindicam 35,47%. Qual a explicação para esse número e por que um salto tão grande entre as propostas?
AP: Os 35,47% são uma composição da inflação do IGPM (Índice Geral de Preços do Mercado) com um estudo encomendado por nós, feito pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), para calcular a produtividade dos metroviários. Daí o índice de 35,47%.
AC: Vocês propuseram em vez de entrar em greve – não trabalhar – liberar as catracas para a população, o que, na verdade, prejudicaria menos a economia da cidade. Ainda assim, a empresa e o governador Geraldo Alckmin optaram pela greve. Qual foi a justificativa dada por eles e o que o senhor acha disso?
AP: Desde 2011 colocamos como alternativa, como desafio, liberar as catracas em vez de declarar estado de greve. É uma forma de pressão sobre o governo, que, dessa forma, perderia dinheiro. No entanto, o Metrô nunca aceitava essa proposta. Antigamente o governo do Estado, ainda com o secretário dos Transportes Jurandir Fernandes, argumentava que o problema era de segurança. Agora o argumento mudou: o problema é financeiro. O que mostra que o governo não está muito preocupado com a população, que está preocupado, na verdade, em manter a lucratividade da empresa em cima dos trabalhadores.
AC: Para a greve ter resultado, toda a categoria precisa aderir e participar do movimento. Todos estão de acordo com a greve ou há opiniões divergentes, o que complicou, por exemplo, a greve dos motoristas e cobradores da semana passada?
AP: A nossa categoria é muito unida, muito coesa. Mas sempre há diferenças de opiniões. Antigamente quem dirigia o sindicato era a CTB e a CUT, hoje, quem dirige são os setores, de certo modo, mais à esquerda, que são ligados à CSP-Conlutas, independentes. Dessa forma, o sindicato, hoje, não é filiado a nenhuma central, mas possui opiniões variadas. Mas, mesmo assim, há uma unidade: todos, particularmente na base da categoria, sabem que quando formos à luta vamos todos juntos. Quem acaba furando a greve da categoria são os supervisores, chefes e encarregados, mas a maioria da base vai junta para a greve e, por isso, é uma greve muito forte. O Metrô vai tentar funcionar parcialmente, mas, basicamente, com supervisores.
AC: Nós estamos a duas semanas da Copa. Vocês entrarão em estado de greve no dia 5 de junho e pretendem assim permanecer até quando? O sindicato não corre o risco de ser multado?
AP: Se, de fato, houver a greve – o que depende das próximas negociações –, ela continuará por tempo indeterminado até resolvermos o nosso problema. Corremos o risco de levar multa, receber pressões de todos os tipos, mas estamos firmes e convictos na luta.
AC: O prefeito Haddad definiu, anteontem, algumas das greves que vêm ocorrendo como “oportunistas” devido à proximidade com a data da Copa. Entre elas, está a greve dos professores da rede pública. Você concorda com ele?
AP: Estas são greves válidas, não é oportunismo. Por exemplo, nós fizemos uma greve em 2012 exatamente no dia 5 de junho, a mesma data da greve da semana que vem. Isso não é oportunismo. O que existiu foi uma coincidência entre as datas da nossa campanha salarial com a Copa. Mas a questão vai além, tem a ver com a realidade política do país: desde as manifestações de junho do ano passado há uma sensibilidade da população e, particularmente, dos trabalhadores, em acreditar que dá para alcançar objetivos lutando. Nem todos pensavam assim antes. Daí então, o maior número de greves: a dos garis do Rio de Janeiro, dos rodoviários aqui em São Paulo, dos terceirizados de Cubatão, dos operários do monotrilho também aqui. O que os trabalhadores estão percebendo? Que todos estão ganhando dinheiro – inclusive no período da Copa –, que os empresários estão aumentando os preços dos produtos: tudo o que você imaginar está mais caro por causa da Copa. Nós, trabalhadores, perdemos poder de compra. A inflação também subiu. Então, por que os trabalhadores também não podem pedir por seus direitos? O problema é que os governos sempre veem como oportunismo quando a coisa não está a favor deles.