Assistir a Breaking Bad, Game of Thrones, House of Cards, Walking Dead, ser corintiano roxo, praticante de Muay Thai e gostar de Criolo e Ra cionais são algumas das características do professor Alex Hilsenbeck, cujas preferências culturais são bem parecidas às de seus alunos universitários. Atualmente, Alex ministra aulas de Ciência Política para os cursos de Relações Públicas e de Publicidade e Propaganda da Faculdade Cásper Líbero.
Não faz muito tempo que Alexander deixou de ser aluno, afinal seu doutorado foi concluído em 2013, mas agora, como professor, ele tenta se aproximar da visão que os estudantes têm sobre uma aula. Mais importante do que saber a história dos autores e suas teorias, material necessário para uma aula de Ciência Política, ele busca conectar os assuntos com a atualidade.
Natural de Pedro Leopoldo, Minas Gerais, e filho caçula de alemão com maranhense, Alexander Maximilian Hilsenbeck Filho veio para São Paulo com apenas 2 anos, sendo criado no bairro de Santa Cecília. Começou a trabalhar cedo, aos 14 anos, como office-boy. Estudou a vida toda em escolas públicas, onde teve pouco incentivo para chegar à vida universitária. Ele conta que os colegas e professores não costumavam falar sobre isso, tratando essa possibilidade como algo distante. Porém, quando teve notícias de um amigo que passou no vestibular de uma faculdade e este lhe contou sobre a vida de calouro, Alex decidiu investir em sua formação. Desde o início sabia que sua vocação era para a área de ciências humanas; por isso, prestou vestibular e passou na Unesp de Marília, cidade para onde se mudou afim de estudar Ciências Sociais. A graduação foi realizada entre 2000 e 2003. O docente lembra que teve dificuldade de adaptação no início, porém, começou a namorar e a fazer amizades, logo se acostumando com a cidade.
Hoje em dia, analisando seu percurso, conclui que seguiu essa área por influência dos pais, que não puderem se formar no Ensino Superior, apesar da relação muito próxima com o social. Seu pai, de mesmo nome, nascido na Alemanha, veio para o Brasil fugindo da Segunda Guerra. Era autodidata, escreveu livros, fez esculturas, tinha um pensamento crítico, e o influenciou no hábito da leitura. Já sua mãe, Maria Eulina, veio do Maranhão fugindo do pai autoritário, que era fazendeiro. Ao chegar em São Paulo, ele conta emocionado que a mãe passou por muita dificuldade financeiras e morou na rua por 1 ano e 7 meses. Isso a tornou uma grande defensora das causas sociais. Maria Eulina se incomodava principalmente com a desigualdade e com as pessoas passando fome e frio.
Ela conheceu seu atual marido, o pai de Alexander, com quem teve três filhos. O marido sempre a incentivou com os estudos, pagava a faculdade, porém descobriu que, em vez disso, Maria preferia fazer trabalhos sociais em comunidades. Dessa forma, ele passou a apoiá-la, e em seguida criaram uma ONG, onde servem diariamente 250 refeições no Castelinho, pitoresco prédio localizado na esquina da Avenida São João com a Rua Apa.
Alex foi criado em um meio propício para a caridade. “Ás vezes eu procurava um brinquedo e não achava, tinha sido minha mãe, que havia dado para alguém que estava precisando mais do que eu”, conta. Ele revela que quando criança não entendia muito bem a realidade em que vivia, pois era um modelo contrário ao da família burguesa típica. Seu pai cozinhava, ajudava na lição de casa, levava na escola, e a mãe saía para fazer trabalhos sociais. “Conforme fui crescendo, tudo começou a fazer mais sentido, entrei na faculdade para tentar resolver esse conflito que vivia desde criança e entender melhor o mundo do qual eu fazia parte.”
Começou a vida de docente dando aulas na Fatec de São Paulo em 2007, mesmo ano de conclusão do mestrado, também na UNESP. Sua dissertação para obtenção do título de mestre em Ciências Sociais foi “Abaixo e à esquerda: Uma análise histórico-social da práxis do Exército Zapatista de Libertação Nacional”. Logo no ano seguinte, em 2008, Alexander iniciou o doutorado em Ciência Política na Universidade de Campinas (Unicamp), ao mesmo tempo em que trabalhava na UEM-Universidade Estadual de Maringá -, no Paraná. Ali lecionou por um ano.
Questionado sobre a diferença entre dar aulas no Paraná e em São Paulo, Alex responde que a principal alteração não são os alunos, mas sim a estrutura das faculdades. Em seu retorno para São Paulo, Alex lecionou na Unicamp, enquanto completava o doutorado. Em 2014 foi aprovado no processo seletivo da Cásper Líbero. Desde 2010, o professor participa do Clacso (Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales), entidade que reúne profissionais de diversos países e realiza encontros anuais, com apresentação de pesquisas e estudos sobre a situação politica e social da América Latina.