Jornalismo Lento é o tema da pesquisa da professora Michelle Prazeres, docente da Cásper Líbero e pesquisadora do CIP. Mas afinal, o que significa esse termo?
Michelle defende que o “jornalismo lento” não é uma metodologia, mas sim um diagrama de possibilidades e características que apontam um outro jeito de fazer jornalismo, em outro tempo. Recentemente, a professora apresentou o trabalho na Conferência International Association of Media Management.
“Existe um consenso de que a velocidade é intrínseca ao jornalismo, como algo natural. O que eu estou me propondo a pesquisar, na verdade, é se é possível fazer um jornalismo reflexivo, profundo e investigativo dentro dos ambientes digitais, plataformas onde justamente a velocidade é uma questão naturalizada.” – Michelle Prazeres em entrevista para a Rádio Gazeta AM explica sobre seu trabalho.
Segundo a pesquisadora, o jornalismo lento diz respeito tanto ao processo de produção, quanto ao processo de receber essa notícia de forma lenta. O termo engloba um conjunto de características que vem sendo pesquisadas sob o guarda-chuva do Slow Media. O movimento slow, que cresce no mundo a cada dia, é um movimento de contraposição à aceleração das coisas.
O diagrama abaixo, desenvolvido pela professora Michelle Prazeres, sugere uma contraposição da velocidade ao mundo do jornalismo e da comunicação, buscando características de vínculo afetivo e de compreensão na mensagem que será transmitida. “Para o jornalista é um diagrama de novas formas de se trabalhar; para as empresas de comunicação pode ser um novo jeito de enxergar o fazer jornalístico; para os empreendedores, pode ser um novo jeito de pensar em projetos de mídia (…)”, defende a professora.
Produção | Produto | Recepção |
OBJETIVIDADE E IMPARCIALIDADE
Transparência (Le Masurier) |
FORMATO
LongForm (Le Masurier) Aposta no poder da narrativa (Le Masurier) StoryTelling (Le Masurier) São mídias sociais (Manifesto) |
ENGAJAMENTO / CONEXÃO
Relevância a uma comunidade (Le Masurier) Distribuídas por recomendações não-publicitárias (Manifesto) |
TEMPO
Tempo para encontrar informações (Le Masurier) São atemporais (Manifesto) Jornalismo do presente (Maria Margarida de A Silva) |
CONTEÚDO
Histórias de interesse humano (Le Masurier) Busca histórias não contadas (Le Masurier) |
RELACIONAMENTO
Compreensão (Le Masurier) São discursivos e dialógicos (Manifesto) |
QUALIDADE X VELOCIDADE
Privilegia o contexto, a qualidade, a exatidão, a precisão e a investigação (Le Masurier) Visa a perfeição e torna a qualidade palpável (Manifesto) Abre mão do fetiche do furo (Le Masurier) Reflexividade (Maria Margarida de A Silva) |
COLABORAÇÃO
Enxerga a audiência como colaboradores (Le Masurier) Ativa prosumers (Manifesto) |
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QUEM FAZ? Funciona com colaboração (Le Masurier)Inteligência coletivaPromove monotarefas (Manifesto) |
CREDIBILIDADE
Se apoia na credibilidade (Le Masurier) Respeito aos usuários (Manifesto) Aposta na confiança e na credibilidade (Manifesto) Emanam uma aura especial (Manifesto) |
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ORIENTAÇÃO POLÍTICA
Contribuição para a sustentabilidade (Manifesto) São progressistas e não reacionários (Manifesto) Independente e alternativo (Le Masurier) |
RELEVÂNCIA
Foco no local (Le Masurier) Pequena escala (Le Masurier) Ethos de comensalidade (Le Masurier) |
Como aplicar a teoria na correria do dia a dia?
A pergunta é recorrente quando a professora apresenta seu objeto de pesquisa. Para Michelle, a aplicação é possível apurando uma matéria sem pressa, produzindo a pauta em outro tempo. “É um jornalismo de profundidade que pode ser feito na TV, no impresso, no rádio, no digital. Eu estou pesquisando em como fazer isso no digital, e me parece que existem vários exemplos de processos lentos de como fazer um jornalismo mais investigativo, que vai a campo, encontra personagens, conta histórias humanas, histórias do local, que contextualiza”.
Se por um lado, o “furo de reportagem”, ou seja, dar a notícia em primeira mão, continua sendo um grande estigma do jornalismo, por outro, com o digital, a notícia pode ser dada por outros meios, como um Tweet. Michelle defende que, nesse contexto de velocidade da informação, o papel do jornalista passa a ser o de contextualizar e aprofundar essa notícia que já está circulando nas redes sociais digitais. “Estamos falando de um campo inteiro de fazer jornalístico revisitando o que é um jornalismo mais denso, profundo, contextualizado, com histórias de pessoas e lugares, é disso que estou falando na aplicação prática”.