Por Ana Luiza Sanfilippo, estagiária do Núcleo de Mídias Digitais
No geral, os nichos black podem ser utilizados para descrever a ilegalidade no marketing. Venda de produtos falsos ou ilegais, ferramentas de hacking, pirataria e outros produtos que podem causar danos ou violam a lei que são veiculados pela internet podem ser classificados como nicho black.
O nicho black, em uma analogia simplificada, é a Deep Web do marketing. Conversando com o professor Wesley Moreira Pinheiro, profissional de inteligência de dados, comunicação e marketing, ele nos dá uma explicação e enfatiza como as redes sociais disseminam esse conteúdo facilmente:
Em tese são produtos que violam direitos autorais, causam danos ao usuário como roubo de dados ou mesmo induz a compra de produtos falsificados. Mas, mesmo com tudo que se tem de regras nas plataformas digitais para inibir esse tipo de mercado, sempre é possível encontrar denúncias de que plataformas como Google e Instagram, por exemplo, fazendo anúncios desses tipos de produtos.
Principalmente com essa onda de shows de artistas estrangeiros no Brasil, o marketing do cambista se classifica como estatégia ilegal. Primeiro porque a empresa que está promovendo o evento é a única que tem a permissão de vender os ingressos. O segundo ponto, e mais comum, é que muitos dos ingressos vendidos são falsos, o que resulta em um grande problema para o consumidor que ofereceu seus dados e dinheiro em troca de um produto falso.
O professor menciona também a questão da pirataria em diversos aspectos, como o acesso a artigos acadêmicos de forma gratuita e falsificação de marca:
Existe no mundo acadêmico, o site Sci-Hub, que faz downloads de uma série de artigos científicos que são vendidos em dólar, de forma gratuita, destravando o código de autenticação das revistas científicas. Outro grande exemplo são anúncios no Instagram de produtos vendidos por lojas falsas que apenas vendem falsificações, mas tudo parece ser legal e original. Aconteceu muito com os tenis Vert (agora Veja), que a média do preço é de R$ 700,00, com vários anúncios vendendo a R$ 199,00.
Os famosos remédios milagrosos também se enquadram como nicho black. Com frequência aparecem anúncios de remédios emagrecedores em redes sociais que, ou não fazem efeito ou causam danos à saúde. Além de viagens inexistentes, Airbnbs falsos e uma série de outras possibilidades.
Infelizmente, esse tipo de anúncio tem muito público. No final de 2020, cerca de 33,5% dos brasileiros com internet estavam consumindo pirataria, sendo o 5° país do mundo que mais acessa produtos piratas. Desde o século passado a pirataria ganhou força no Brasil, principalmente se tratando de moda e beleza. Então era muito comum o contrabando de perfumes, tênis ou demais produtos desse nicho sendo utilizado pelos brasileiros.
Hoje em dia, com o avanço da internet, nichos black como livros e filmes são pirateados com frequência com o auxílio do próprio Google. O professor complementa:
Ele funciona por meio de uma rede de consumo de produtos ilegais, ou porque as pessoas não querem pagar uma licença de um programa ou até mesmo o acesso de uma plataforma. Há uma demanda muito grande nesse mercado. E não é uma demanda apenas de aquisição de usuário, mas também de empresas e hackers que disponibilizam programas falsos, links falsos para obter dados, roubar acessos, criar contas falsas.
A busca por produtos mais baratos acabam financiando esse mercado, ou seja, ele existe por que há procura.
Ao pesquisar esse assunto na internet nos deparamos mais com tutoriais de como fazer do que textos falando sobre e explicando o seu malefício para os internautas. A resposta é porque esse tipo de conteúdo gera tráfego e engajamento, como explica Wesley Pinheiro:
Ele tem pouca visibilidade porque ele afeta bigtechs como Google e Meta Business, que acabam lucrando também com esse mercado. Uma vez que essas empresas se alimentam financeiramente de tráfego e engajamento.
O PL2630/2020 é uma das propostas que está em análise para impedir que o nicho black possa fazer seu marketing livremente na internet. Resumidamente, o projeto de lei institui a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet e tem como objetivo reiterar a regulamentação e fiscalização sobre os conteúdos veiculados nas redes sociais.
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