Escrever sobre si mesma é quase um pesadelo para quem gosta e está acostumada a contar as histórias dos outros. Mas dizer não ao site de Jornalismo da Cásper foi quase tão difícil quanto resistir à vontade de intitular este texto de “a boa filha à casa torna”.
Em 2006, quando comecei um período de dois anos como monitora do site de Jornalismo da Cásper Líbero, tinha 19 anos, gostava de internet e escrevia em blogs, mas pensava que ser jornalista era trabalhar em jornal. E só.
Mais do que a oportunidade de aprender a apurar, reportar, pautar e editar, a experiência no site da faculdade me ajudou a abrir a cabeça. No início, quando o professor e então editor Caio Túlio Costa me pedia para escrever sobre anúncios, celulares e tablets, pensava que nada daquilo tinha a ver com jornalismo. Depois, não só percebi que a profissão que eu começava a exercer estava passando por transformações, como acabei sendo conquistada pelo online.
No quarto ano comecei a trabalhar no portal iG, primeiro como repórter de Internacional e desde 2012 em Cultura. Como no jornalismo impresso, os sites de notícias também passam por um momento difícil, de redução de equipes e de investimentos, e também quebra a cabeça para saber qual é seu lugar em um mundo cada vez mais impactado por todas aquelas coisas “sem importância” que eu noticiava no site da Cásper.
De minha parte, acho que a internet tem de buscar o diferente. Numa imensidão de notícias, sites, blogs e redes sociais, acredito que só se destaca o que sai do comum.
Um exemplo prático: em 2010, participei da cobertura do resgate dos 33 trabalhadores presos em uma mina no
deserto do Atacama, no Chile. Durante os 12 dias que fiquei por lá, busquei seguir uma regra básica: fazer o que as agências de notícia não faziam. Dava, portanto, menos importância às entrevistas coletivas e aos dados sobre quantos metros tinham sido perfurados, e mais ao universo ao meu redor – os parentes esperando, as condições do acampamento, o clima daquela prolongada espera.
Aproveitei (e tento sempre aproveitar) duas das grandes vantagens do jornalismo online: o espaço e a leveza. Sem a restrição do papel, podia produzir muitas notícias. Sem a necessidade de focar apenas no “hard news”, procurava as pequenas histórias: a escola provisória instalada no apartamento, as crianças acampadas, a equipe da cozinha. Contei ao leitor tudo o que eu tinha curiosidade em saber quando lia sobre os mineiros: aquele ponto do deserto era bonito? Era quente? Ficava perto da cidade? Dava para ir de carro? Tinha banheiro? São detalhes, mas detalhes ajudam a contar histórias.
Confesso que hesitei antes de decidir trocar a cobertura Internacional por Cultura, movida principalmente pela paixão pelo cinema. Desde cedo sentimos a pressão por um foco, por fugir do temido rótulo de “especialista em generalidades”, e mudar de área parecia começar do zero. Até agora, porém, venho sentindo o contrário: que o conhecimento sobre política internacional me ajuda muito em Cultura, seja na hora de pensar em pautas, seja ao resenhar um filme ou entrevistar alguém. E acho que a regra valeria se fizesse o caminho contrário. Saber ligar os pontos e relacionar diferentes conhecimentos é qualidade, não defeito.
Meu conselho aos atuais casperianos, se posso dar um, é que tenham calma, mas estejam sempre em movimento. Não se apressem em querer definir tudo, mas experimentem bastante – façam cursos, freelas, blogs, projetos, leiam e assistam a tudo o que puderem. E estejam abertos ao que é novo – aos 27, ainda acho que é por aí.
Luísa Pécora foi monitora do site de Jornalismo na Cásper, colaborou com as revistas Cult, Getulio e Diálogos&Debates. Desde 2008 é repórter do portal iG. Em 2011, foi selecionada para o International Visitor Leadership Program, participando de um curso sobre política externa patrocinado pelo Departamento de Estado do governo dos Estados Unidos. Desde dezembro de 2012 está na editoria de Cultura, cobrindo principalmente cinema.