Não é possível discutir a degradação dos rios sem considerar seus impactos na saúde dos oceanos, especialmente no contexto das mudanças climáticas. Esse alerta foi feito esta manhã, no pavilhão francês da Conferência do Clima (COP 23), durante o painel “A saúde dos rios é a saúde do mundo”.
Para um dos painelistas, Bertrant Porquet, secretário-geral da Iniciativas para o Futuro de Grandes Rios, instituição francesa do terceiro setor, o problema e a solução estão no mesmo lugar. “Cidades têm a capacidade de transformar a situação das mudanças climáticas e também a da água, então é muito importante que metrópoles como São Paulo integrem iniciativas de preservação de rios às suas políticas de mudanças climáticas”.
Porquet reconhece que as sociedades desconsideram o impacto da poluição dos rios nos oceanos, principalmente quando não convivem diretamente com esse problema. “Pessoas que vivem na foz dos rios enfrentam as consequências desse problema, então elas conhecem bem essa realidade, mas alguém de Paris, por exemplo, não entenderia tão bem essa relação”.
A alguns metros do pavilhão francês, a gerente de ações da WWF (Fundo Mundial para a Natureza) para questões marítimas, Carol Phua, explicou que a má administração dos rios realmente pode ser catastrófica, lembrando que 80% da poluição dos oceanos chega pelos rios e córregos. “As pessoas, a sociedade em geral, precisam entender que os rios fazem uma linha de vida com o oceano. A poluição iniciada no rio pode, em algum momento, chegar no mar”.
Em grandes cidades, os córregos e cursos d’água são canalizados no subsolo ou têm seu fluxo contido por muros e barreiras, como acontece com os rios Tietê e Pinheiros, em São Paulo. Segundo a especialista, essa é mais uma medida de urbanização equivocada, uma vez que a canalização dos rios aumenta a chances de enchentes e problemas de infraestrutura em grandes cidades, além de deixar os córregos mais vulneráveis à poluição.
Um grande problema é ver os rios como entidades separadas, sem entender que na realidade eles fazem parte de um enorme conjunto que está conectado com os oceanos e com a qualidade de vida marítima e terrestre. É importante entender esse ciclo para criar uma base educacional e promover a conscientização da população sobre esse assunto.