A comunicação nas empresas está em rápida evolução com as tecnologias digitais, ainda mais com clientes que mudaram seus hábitos de consumo, estando mais exigentes na hora de escolher determinado serviço ou produto. Com a criação e implementação de tecnologias digitais e aplicações de inteligência artificial (IA) fica cada vez mais difícil acompanhar as novidades.
Profissionais de comunicação de diferentes gerações manifestam receios quanto ao futuro do trabalho, mas também acham que as tecnologias podem ser uma oportunidade de aprender e melhorar. O professor de pós-graduação Pedro Arthur Nogueira e a ex-aluna do curso de Comunicação Organizacional, Letícia Ferro, ambos da Cásper, opinam sobre o tema a partir das suas vivências.
“Na época que eu me formei, a área de comunicação não era do tamanho que ela é hoje”, relembra Pedro Arthur Nogueira, que além de docente é profissional da área de comunicação e marketing há mais de 10 anos.
“Não tinha tanta diversidade de agências para trabalhar, então, trabalhava com treinamento. Eu usava a comunicação, mas eu trabalhava dentro de uma empresa em que fazia treinamentos. Então, aprendia, ensinava para as pessoas as coisas. O que eu acho que muda a relação hoje é a questão da evolução do digital, principalmente a oferta no mercado de trabalho. Hoje a gente tem muita opção de agência para trabalhar e nas próprias empresas.”
Já Letícia Ferro, analista de comunicação interna da Ingredion Corporate (empresa global na área de processamento e refino de alimentos) e pós-graduada no curso de Comunicação Organizacional, embora com experiência mais recente na área, sente as mudanças:
“O que mais me chamou a atenção quando comecei a trabalhar na área de comunicação, um pouco antes da pandemia de Covid-19 explodir, foi a quantidade de trocas sociais e eventos presenciais que fazíamos. (…) Grande parte do nosso trabalho era garantir o relacionamento com a imprensa, clientes, etc. Hoje em dia percebo que a necessidade de nutrir esse relacionamento continua existindo, mas a diferença é que trocamos, na maioria das vezes, o presencial pelo online. A tecnologia nos deu ferramentas importantes de trabalho e veio para ficar”.
Por isso, a atualização constante dos profissionais que atuam em comunicação tornou-se fundamental. E atualizar-se significa estar conectado o tempo inteiro. Para Pedro Nogueira, essa situação tem dois lados:
“A questão da atualização é desumana. A gente sempre tá perdendo alguma coisa. E acho que isso também é legal, então, aquela coisa de que o professor sabia de tudo e tal, caiu”.
Assim, ser um veterano na profissão, como ele, pode dar angústia e ao mesmo tempo estímulo para se aprimorar.
“Eu acho que a principal melhoria é também o principal pecado desse nosso mundo hoje. As coisas ficaram tão acessíveis que quebraram todas as barreiras. A gente hoje tem condições de fazer um passeio virtual no Louvre de casa, o negócio é impressionante mesmo. Agora, por um outro lado também, isso fez com que a nossa vida ficasse muito mais rápida, a gente tem que estar o tempo todo antenado”.
O professor menciona a Síndrome do Medo, tradução da sigla FOMO (Fear of Missing Out), na qual as pessoas apresentam ansiedade constante e necessidade de checar redes sociais e aplicativos informativos o tempo inteiro.
“Não é à toa que saúde mental está na boca de todo mundo”, analisa Pedro.
O uso de Inteligência Artificial nas organizações ou já é uma realidade ou uma pretensão da maioria. Um estudo divulgado no Fórum Econômico Mundial em 2024 aponta que 75% das empresas querem investir em IA nos próximos anos. E os profissionais de comunicação estão na linha de frente das aplicações de ferramentas de IA voltadas ao relacionamento com os diversos públicos. Por exemplo, na comunicação externa a IA pode ser usada em chatbots inteligentes, na análise de dados de clientes e do público geral.
Com a certeza de que a IA pode ser associada a boas práticas na comunicação, Letícia fala da experiência na empresa em que trabalha:
“Sim, definitivamente sinto o impacto que a popularização da IA trouxe para nossas vidas. Aqui, na Ingredion, começamos a usar a IA com mais assiduidade no ano passado, e até agora tem sido uma boa prática para a área de Comunicação Interna”.
Para ela, a IA ajuda em tarefas repetitivas ou que necessitam de um longo tempo de execução, mas ressalta que não quer ficar dependente:
“Tentamos usar a IA da forma mais inteligente possível, pedindo ajuda para realizar trabalhos manuais que tomariam muito nosso tempo, traduzindo textos e frases em outros idiomas, encontrando referências de materiais sobre um determinado assunto que podem nos ajudar, entre outros. Me beneficio da IA o quanto posso, mas busco usar o recurso com sabedoria para não ficar dependente dele e para continuar estimulando meu cérebro a ser criativo por si mesmo.”
Letícia ressalva que sem a inteligência humana, a inteligência artificial não consegue persistir:
“Ainda que a IA saiba muito e tenha à sua disposição uma infinidade de assuntos para consulta, nossa expertise como profissionais da área é o que torna um dado em uma informação relevante. Um dado sozinho muitas vezes não nos diz nada, por isso é preciso que um humano cruze todas as variáveis relacionadas àquele dado para chegar em uma informação confiável e precisa”.
A profissional considera que a IA não chega a ser ameaça:
“Não me sinto ameaçada pela IA nesse momento. Como mencionei anteriormente, penso que o nível de refinamento de análise das IAs ainda precisa melhorar muito para chegar perto do que um ser humano pode fazer, e no final das contas é essa capacidade que realmente importa.”
Já Pedro demonstra preocupação com algumas profissões no futuro, inclusive a de professor:
“Não sei se é ameaça, acho que vai ter espaço para todo mundo, mas vai ter que se reinventar. Que eu tenho clareza de que algumas das profissões vão acabar por conta da inteligência artificial, não tenho dúvida alguma”.
A analista Letícia Ferro sugere a profissionais de comunicação corporativa a sempre buscarem se informar, mesmo que pareça difícil, e a aprender novas habilidades que os ajudarão no futuro:
“Durante minha experiência profissional aprendi que preciso ir além do que sei para conseguir trazer novas ideias e ser vista como uma parceira essencial de trabalho. Ninguém sabe tudo logo de cara, mas querer aprender o máximo possível já é meio caminho andado. Seja fazendo um curso, uma nova faculdade ou navegando pela internet em busca de novidades. Esse conhecimento vai ser muito útil quando você tiver que criar campanhas ou projetos, o que não só vai fazer os olhos dos executivos brilharem, mas também mostrará a importância do seu trabalho”.
Pedro Nogueira acha importante manter-se em constante movimento:
“Não está fácil para ninguém, mas acho que se você investir em você mesmo vai ser mais fácil … Então, não se deixe cair na preguiça, não caia no básico. Tente sempre um pouquinho mais, se aprofunde um pouquinho mais, entenda um pouquinho mais”.
Este conteúdo faz parte da Newsletter Pós na Cásper, uma iniciativa dos cursos de Pós-Graduação lato sensu da Faculdade Cásper Líbero, que informa e divulga as produções realizadas pelos estudantes que desejam aplicar o conhecimento adquirido em suas atividades profissionais nas organizações, ou querem realizar novos projetos, como transição de carreira ou inovação nas funções que já exercem. Iniciativas e perfis de docentes, além de agenda sobre eventos (como aulas magnas e abertas, mesas-redondas, oficinas, rodas de conversa, entre outros) também são o foco da publicação.
Para sugerir pautas para a newsletter, envie um e-mail para [email protected]. Para receber o boletim mensal, inscreva-se pelo formulário abaixo: