Com essa pergunta, Adriano Batista Rodrigues, professor dos cursos de Relações Públicas e Publicidade e Propaganda da Faculdade Cásper Líbero, começou a narrar uma breve retrospectiva de vida. Pernambucano, o professor veio para São Paulo no ano de 1983, com o pai, a mãe e mais três irmãos. Logo quando chegou, com apenas onze anos, sofreu uma grave queimadura e no mesmo ano, o pai retornou a Pernambuco e não voltou mais. Sozinha em uma cidade grande, morando de favor no cortiço da cunhada, a Silvia, mãe de Adriano – primeira referência de vida, segundo ele – resolveu colocar os quatro filhos em um orfanato, com medo do futuro.
Simpático, costuma contar aos alunos que nunca pagou para aprender, graças a uma mistura de sorte com dedicação. Estudou na rede pública – embora trabalhasse desde os quatorze anos em uma pastelaria. Após seis anos na área de Publicidade e Propaganda entrou em um curso superior. Como havia saído da gráfica na qual trabalhava, conseguiu uma vaga para estagiar, ou seja, pagou a instituição superior por apenas um mês. Nesse período, 1995, já era casado e tinha Bruno, o primeiro filho. Com o salário apertado, optou por estagiar ao invés de aceitar qualquer emprego, decisão arriscada.
Contando a partir de 1988, quando fez o primeiro curso técnico, ficou desempregado apenas uma vez, por um mês. De lá para cá, Adriano teve várias e interessantes oportunidades profissionais. Fundou o departamento de Marketing da “Universidade Cruzeiro do Sul”, onde estudava. Curioso, ousado, audacioso, apostou no talento para pedir um cargo assalariado e, por meio do empenho, recebeu um “sim”. Em seis meses, já conseguia ganhar o suficiente para ajudar a família. Nesse período, junto aos estudos, auxiliava Dirceu Roque, professor de Produção Gráfica, e assim, meio “sem querer”, começou a lecionar em 1999.
Após anos de treino, não há quase nenhum resquício da dificuldade na fala do excelente comunicador social. No início, porém, havia a timidez, o nervosismo, o sotaque. Fatos pequenos, mas responsáveis por uma barreira, hoje já completamente superada: a gagueira.
Na vida, alguns anjos aparecem para ajudar e, dentre eles, o publicitário destaca Doutora Dair. A amizade com essa mulher generosa, ofereceu a ele o curso de pós graduação como presente. A bolsa de cem por cento, contribuiu demais para realizar o sonho de fazer pós-graduação em Design Gráfico pela Universidade Anhembi Morumbi.
Pós-graduado, separado, órfão por parte de mãe, Adriano ainda sonhava em estudar em uma universidade pública. Teimoso, persistente, conseguiu fazer mestrado em Artes Visuais pela Unicamp (2009), um dos fatos mais emocionantes da carreira dele.
Experiente, já exerceu a profissão de arte-finalista e diretor de arte, antes de se tornar gestor de sua própria agência de comunicação, a “Doka Comunicação”. Em 2011, atuando como professor, foi convidado a lecionar na Faculdade Cásper Líbero, pelo Professor Doutor Luiz Alberto de Farias, ex-coordenador do curso de Relações Públicas.
Hoje, no campo acadêmico leciona disciplinas teóricas e disciplinas práticas em laboratórios, ministrando aulas de computação gráfica, com os mais diversos softwares. Em Publicidade, ministra a disciplina “Criação e Direção de Arte” e “Laboratório de Produção e Imagem e Laboratório Comunicação Visual I” para o curso de Relações Públicas. Adriano é também pesquisador do CIP (Centro Interdisciplinar de Pesquisa) da Faculdade, com a pesquisa “A revista digital online: convergência, mercado, design e os novos caminhos em busca de um modelo multiplataforma”. São quatro dias por semana de dedicação à Cásper, oscilando entre manhã e noite.
Sonhou em ter duas crianças, mas, hoje, se considera pai de quatro filhos e avô de um menino e uma menina. Mora em casa própria, com a atual companheira, Léia Rodrigues e uma das duas enteadas, criadas por ele com todo o carinho. Adriano teve um excelente padrasto, João Mendes Silva, que casou-se com a mãe de Adriano e cuidou muito bem da esposa e dos quatro enteados. Tratado com muito carinho, zelo e consideração, tenta ser um pouco do que foi João para elas, não só como figura paterna, mas também como exemplo de vida.
O professor termina a entrevista dizendo que basta querer. O caminho é longo, existem muitas barreiras para serem rompidas em uma estrada íngreme. Segundo ele, a força de vontade foi um dos quesitos mais importantes para a conquista do espaço no mercado de trabalho. Recorda sobre livros, roupas, brinquedos, recebidos na infância enquanto morava no orfanato. Confessa amar tanto a vida quanto ama viver. Sente-se feliz e gosta de contagiar as pessoas ao redor. Afirma, assim, a chave do sucesso: “tentar ajudar o próximo, a fim de tornar o mundo um lugar com menos concorrência e mais complacência.”