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Edição nº 6 – 2016

Foto: Ale Fotógrafo

A experiência começa logo na chegada. Dependendo do local onde acontece o evento, os participantes são convidados a dar um passeio pelo jardim ou a experimentar um drink exótico. Logo após esse primeiro contato, os olhos são vendados e a partir daí apenas olfato, tato, audição e paladar são permitidos. As mãos são os únicos instrumentos usados na hora de comer.

Massagem durante a experiência – Foto Equipe Ateliê no Escuro

O intuito é explorar os sentidos e estimular novas formas de percepção ao redor. “A partir do momento que a pessoa não enxerga, ela entrega-se para nós. É emocionante, porque a pessoa perde um sentido e nós ganhamos sua confiança” diz Elis Feldman, criadora do projeto. A inspiração das psicólogas Maria Lyra e Elis Feldman surgiu após uma experiência que elas tiveram em um jantar às cegas no restaurante Dans Le Noir, em Paris. O restaurante buscou referência na exposição Diálogo no escuro, organizada em Hamburgo, na Alemanha. Nela, os visitantes eram guiados por pessoas cegas por um mundo escuro cheio de aromas, sons e temperaturas. Uma exposição sobre a descoberta do invisível, afinal.

Uma das poucas diferenças para a experiência do Ateliê é o fato de os participantes não serem guiados por pessoas cegas. Eles são apenas transportados sensorialmente através da venda em seus olhos. Com a limitação da visão, outros sentidos são intensificados, e a relação entre as pessoas ganha maior proximidade. Os jantares sensoriais começaram em um ambiente privado, feitos para os familiares e amigos de Maria e Elis. Aos poucos a ideia foi ganhando força, fazendo com que a dupla quisesse atingir um público maior. Apesar das referências antigas, hoje as duas psicólogas têm um repertório próprio. Após nove anos, a equipe aumentou e atualmente conta com parcerias de restaurantes e a atuação da psicóloga Gabriela Pistelli e da terapeuta corporal Janaína Audi. Além dos jantares, outros eventos também são produzidos. “A nossa ideia é criar e inspirar novas formas de percepção. Seja do que for: do menu, do nosso corpo, das nossas emoções, do ambiente externo, das relações, dos desafios e das brincadeiras. Sempre tendo o escuro, o silêncio e os sentidos como ferramentas. As experiências podem ajudar a superar questões pessoais. Como estamos tirando todos da zona de conforto, as mobilizações acontecem, mas isso depende muito mais de como cada um recebe e se deixa tocar”, afirma Maria Lyra.

Participante comendo com as mãos – Foto Equipe Ateliê no Escuro.

O custo depende da quantidade de participantes, mas sai em média R$ 185 por pessoa. Cada evento tem um tema específico. A sugestão algumas vezes vem do cliente e outras do chef de cozinha de algum restaurante parceiro. Cores, países, pintores e o cinema são alguns dos pontos de partida de inspiração. Temas como o Congo, o dia dos mortos, mercado árabe e especiarias são alguns exemplos do que já foi feito. “Vejo um movimento em usar mais ingredientes orgânicos e regionais crescendo. Acredito que muitos restaurantes pararam em um estilo de gastronomia que servia pratos requintados e bonitos sem se preocupar com os aspectos nutricionais e com a origem dos alimentos. Mas temos pessoas trabalhando na contramão, como as do Instituto ATA por exemplo” afirma Maria Lyra.

Criado por Alex Atala, o Instituto ATA tem como intuito conscientizar as pessoas sobre o uso de ingredientes naturais pouco conhecidos, em prol de uma culinária mais saudável para quem faz, para quem come e para quem produz os alimentos. Entre algumas iniciativas do projeto está aproximar chefs e produtores para o uso de ingredientes mais sustentáveis; incentivar a utilização de insetos nas receitas culinárias, como por exemplo a formiga saúva amazônica; e estimular o uso da pimenta Baniwa Jiquitaia, produzida por mulheres indígenas. “A relação do homem com o alimento precisa ser revista. Precisamos aproximar o saber do comer, o comer do cozinhar, o cozinhar do produzir e o produzir da natureza; agir em toda a cadeia de valor”, afirma Alex Atala.

Chocalho usado durante o jantar – Foto de Marcelo Ribeiro

Ateliê no Escuro busca proporcionar uma experiência nova através da comida dando valor àquilo que diariamente dizemos não ter, o tempo. A dedicação e atenção são fundamentais no processo. “Com certeza, tudo que for parar para sentir pode ser meditativo e trazer autoconhecimento. As pausas, o respirar fundo e o silêncio trazem isso. O degustar algo (um prato, uma música, um objeto, um poema) sem saber o que é e ter que dar um tempo para aquilo se revelar também é extremamente meditativo. Uma série de preconceitos e condicionamentos se desconstroem e são repensados, despertando outras formas de agir, existir e se relacionar com o corpo e o ambiente”, afirma Maria Lyra.

A última edição do evento, ocorrida em dezembro passado, teve por tema “Raízes crianceiras”, com o objetivo de levar os participantes a reviverem o universo da simplicidade da infância. A programação pode ser acompanhada pelo site: http://www.atelienoescuro.com.br/.