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Edição nº 3 – Junho de 2015

O hábito de comer na rua, vem sendo adotado na medida em que nosso tempo disponível se torna a cada dia mais escasso. Mas isso não significa perder o paladar para uma comida bem feita, ou deixar de ser exigente na escolha do cardápio. Atividade que invadiu as ruas paulistanas, hoje os food trucks dividem a atenção de clientes que variam desde frequentadores de restaurantes tradicionais até consumidores de comida de rua, como os lendários cachorros-quentes e pastéis de feira.

Os lanches: Poboy e Quadrado de Rosbife do Cordel Gastronômico | Crédito: Duda Rizek

Os lanches: Poboy e Quadrado de Rosbife do Cordel Gastronômico | Crédito: Duda Rizek

Quem imaginaria provar um Poboy – sanduíche de lula super crispy e camarão com vinagrete de maçã e limão siciliano – em plena tarde de domingo, pelas calçadas da cidade? O prato, ao lado do Quadrado de Rosbife, é o mais vendido do truck Cordel Gastronômico. “Trabalhamos com sanduíches mais elaborados, que fogem do que é habitualmente oferecido. Tanto o Poboy quanto o Quadrado de Rosbife já receberam prêmios na categoria Melhor Sanduíche Gourmet”, diz Maria Eduarda Rizek, 23 anos, assessora de comunicação do Cordel Gastronômico.

Outra oferta que tem merecido atenção é o Cheesecake no Palito. “A ideia surgiu de uma receita própria, na tentativa de tornar o cheesecake mais acessível, sem perder a sofisticação do produto”, diz Fernando Távora, 31 anos, fundador da marca.

Da carroça ao caminhão

Com tanta novidade a cada esquina, é difícil imaginar que os food trucks (traduzido do inglês como “caminhões de comida”) nasceram há mais de dois séculos, nos Estados Unidos. Na época, eram chamados de chuckwagons –carroças que transportam alimentos. Após a Guerra Civil americana, o criador de gado Charles Goodnight, como diríamos nos dias de hoje, “tunou” sua caranga com gavetas e prateleiras, barril de água e diversos utensílios de cozinha, criando o que chamamos atualmente de food truck. Charles então aproveitou a ausência de estradas de ferro e fez da entrega de carnes, uma oportunidade de negócio

De Nova York a São Paulo

Imagem do food truck Cordel Gastronômico em ponto de São Paulo | Crédito: Duda Rizek

Imagem do food truck Cordel Gastronômico em ponto de São Paulo | Crédito: Duda Rizek

Seja em caminhão, Kombi ou minivan, o formato que hoje vemos pelas ruas se consolidou apenas em 2009, ano em que a recessão nos Estados Unidos atingiu grandes mercados, incluindo o alimentício, deixando chefs e aprendizes de cozinha sem outra alternativa senão reinventar sua forma de trabalho.

Caminhões de comidas étnicas tomaram as calçadas da terra do tio Sam, começando pelas metrópoles que concentram maior número de imigrantes, como Nova York. Tacos e burritos passaram a dividir espaço com opções mais sofisticadas, como sanduíches de peixe e legumes salteados, porções de lagostas marinadas, ou ainda a famosa salada grega, com queijo feta e azeitonas pretas. Pratos bem preparados, em embalagens atraentes e com preço acessível.

Food truck no Brasil

Em razão de a onda de food trucks ser recente no Brasil, ainda não é possível traçar um perfil desses empreendedores. No entanto, observa-se uma forte presença de profissionais de outras áreas, que têm encontrado nesse modelo de negócio jornadas de trabalho mais flexíveis e um rápido retorno financeiro. É o caso de Fernando Távora, 31 anos, proprietário da Cheesecake no Palito. “Trabalhei 15 anos no setor bancário e já ingressei em três cursos superiores diferentes e decidi, finalmente, fazer um curso de culinária no SENAC”, diz o empreendedor.

Para o publicitário Suleiman Hamze, 26 anos, a mobilidade foi um fator determinante na escolha do negócio: “Além de poder oferecer um alimento diferente, a praticidade de me locomover para vários lugares foi uma grande motivação quando decidi abrir o V8 Food Truck”, conta.

Negócios são negócios

O chef Marcos Carioba durante evento de food truck.  Crédito: Duda Rizek

O chef Marcos Carioba durante evento de food truck.
Crédito: Duda Rizek

Com o intuito de controlar o setor e também de legalizar ambulantes que já comercializavam alimentos, no final de 2013 uma Lei regulamentadora entrou em vigor na cidade de São Paulo. Os microempresários passaram, então, a se adequar a exigências que vão do tempo de comercialização até o tamanho do ponto de venda de um food truck pela cidade, passando também pelos parâmetros da vigilância sanitária.

Empreendedores que ainda estão na fase inicial do negócio conseguem se planejar de forma mais tranquila. “Participamos de uma palestra no Sebrae sobre as leis que regulamentam o setor. Foi muito importante para o andamento do projeto. Conseguimos obter todas as informações necessárias antes de colocar o V8 Food Truck nas ruas”, explica Suleiman.

Para “tunar”o truck

O que diferencia um food truck de outro, além do cardápio, é sua apresentação externa. Pinturas, toldos, grafites e acessórios são quesitos básicos para a formatação de um projeto de customização. Com isso, o setor vem abrindo oportunidades de atuação para profissionais das áreas de arquitetura, funilaria, artes e design em geral.

Cheesecake no Palito |Crédito:  reprodução Fernando Távora

Cheesecake no Palito |Crédito: reprodução Fernando Távora

Após a aprovação da Lei em São Paulo, Gislene Viana, proprietária da FAG Brasil – empresa especializada na customização de automóveis – diz que a procura pelo serviço aumentou muito. “Dobramos nosso quadro de funcionários. O faturamento de janeiro de 2014 foi 50% maior que o ano anterior”, revela a empresária. O cenário se repete para a Bumerangue, responsável, por exemplo, pelas kombis adaptadas da empresa Rolando Massinha. “Cada vez mais o cliente tem exercitado a sua criatividade em formatos diferentes, nos produtos e equipamentos, gerando um alto índice de customização”, diz Celso Oliveira – sócio da empresa.

Segundo proprietários que aderiram ao serviço, o investimento para a customização de um food truck pode variar de 35 mil reais a 300 mil, entre acessórios, pintura e maquinário. O que antes era produzido para eventos fechados e pontuais, hoje se estende ao desenvolvimento de cozinhas itinerantes, trazendo mais interessados ao setor.

Eventos e food parks

Butantan Food Park durante evento | Crédito: reprodução instagram.com/butantanfoodpark

Butantan Food Park durante evento | Crédito: reprodução instagram.com/butantanfoodpark

De feirinhas gastronômicas a food parks – locais destinados a oferta de comidas a céu aberto – diferentes negócios vão surgindo a partir desse novo hábito de consumo. Com capacidade para 40 comerciantes, o Butantan Food Park, por exemplo, recebe cerca de 9 mil pessoas em um só domingo, gerando um faturamento entre R$ 9 mil e 12 mil por trucker. Em média, um proprietário de food truck paga de R$ 100 a R$ 750 na diária para participar de eventos como estes.

Durante grande movimentação na Feirinha Gastronômica no Clube Atlético Juventus, no bairro da Mooca, é visível o entusiasmo dos consumidores: “O mais bacana do evento é ter diversas opções de pratos diferentes. Meu favorito, até agora, é o hot dog francês: baguete com salsicha frankfurter, queijo gruyère, molho bechamel e mostarda forte”, afirma Renato Rossato, 32 anos, engenheiro químico. Já Mirella Pizzicola, de apenas 12 anos, que passeia entre os trucks acompanhada do pai, elege o Éclair de Chocolate como melhor doce do evento. “Adoro chocolate e essa é a melhor ‘bombinha’ que eu já comi! A massa é fofa e bem recheada”, afirma Mirella.

Cheesecake no Palito |Crédito:  reprodução Fernando Távora

Cheesecake no Palito |Crédito: reprodução Fernando Távora

A onda dos food trucks tem contribuído para diversificar a oferta de comidas, permitindo que novas opções de pratos, chamados de gourmet, alcancem hábitos populares. Uma nova forma de socialização também surge com o setor: em mesas compartilhadas, diferentes públicos são atraídos pelos cardápios criativos e pratos bem apresentados. “O nosso consumidor é aquele que está aberto a provar sabores diferentes. Geralmente atraímos pessoas curiosas, que buscam novas experiências gastronômicas”, afirma Duda, do Cordel Gastronômico.

Modinha ou não, a verdade é que as comidas sobre rodas já fazem parte da paisagem urbana de São Paulo e se tornam, cada vez mais, uma realidade rentável e saborosa para muitos.