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Edição nº 6 – 2016

O ingresso no ensino universitário está longe de ser democrático. Ter um resultado satisfatório no Enem ou ser aprovado no vestibular da instituição desejada pode ser uma tarefa difícil, principalmente para as pessoas que não tiveram acesso a uma educação básica adequada.

Com o objetivo de ampliar a entrada ao ensino superior para aqueles que não podem arcar com os altos custos dos preparatórios particulares, os cursinhos populares surgiram como uma alternativa para que as pessoas possam estudar para as concorridas vagas universitárias.

Há várias opções gratuitas ou com mensalidades baixas. Uma delas é o Cursinho Conquest, que iniciou suas atividades em 2016 na zona leste de São Paulo e oferece aulas sem custos aos interessados. Por causa da alta procura, os candidatos de baixa renda têm prioridade. O número de vagas oferecido é ultrapassado pelo número de inscrições no início do ano letivo, mas, de acordo com o coordenador e professor Rafael Costa Araújo, “deixamos passar a quantidade de vagas que propusemos, pois ao longo do cursinho há muita desistência”. Essa evasão dos estudantes está ligada às atribuições do dia a dia, que prejudicam a dedicação ao aprendizado que, em geral, está defasado: “a principal dificuldade que temos é o tempo, pois os alunos chegam ao cursinho com conhecimento muito precário e temos que começar do zero, o que torna o processo lento, pois eles não conseguem dar conta de tudo que é proposto”.

A dificuldade em manter a frequência ao longo do ano letivo também é observada por Rhodner Oliveira de Paiva, professor de literatura do cursinho comunitário Educafro, que fica na região central de São Paulo. Embora as aulas e o material didático sejam gratuitos, segundo o voluntário, os estudantes enfrentam problemas financeiros para custear as despesas básicas, como transporte e alimentação, o que leva muitos a abandonar os estudos. Além disso, como muitos trabalham, o cansaço e a falta de tempo desestimulam-nos, o que leva à desistência: “cerca de 70% dos alunos matriculados não terminam o curso. Falta de recursos, tempo ou cansaço são fatores determinantes para a evasão. Há ainda o desinteresse, pois muitos não receberam estímulos necessários durante a formação para ‘tomar gosto’ pelos estudos”.

Apesar dos obstáculos enfrentados por aqueles que desejam ingressar no ensino superior, os cursinhos populares conseguem aprovar um número considerável de alunos em vestibulares de universidades concorridas. O cursinho gratuito da FEA-USP é um bom exemplo – no último ano letivo, cerca de 45% de seus estudantes foram aprovados em disputados processos seletivos.

Graças ao esforço coletivo de professores e coordenadores, em sua maioria voluntários, os alunos que conseguem superar as várias dificuldades pelas quais passam aprendem as matérias necessárias para serem aprovados, deixando para trás o ensino defasado que tiveram. Embora os cursinhos populares não possam sanar os problemas socioeconômicos de seus estudantes – o que nem deve ser sua obrigação –, eles permitem que as pessoas menos privilegiadas economicamente tenham mais oportunidades, tornando o acesso aos cursos de nível superior um pouco mais justo.