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Edição Especial – Junho de 2016

 

Apenas em 2015, cerca de 500 mil pessoas perderam o emprego com carteira assinada, e quase 191 mil empresas fecharam as portas. Segundo o IBGE, o país tem hoje 10,4 milhões de desempregados. E a perspectiva de melhora dos índices não é animadora: estima-se que, até o final do ano, esse número saltará para 12 milhões. Na busca por soluções, profissionais desempregados, ou preocupados em aumentar suas rendas, encontraram em trabalhos não usuais uma fonte possível para driblar os obstáculos econômicos impostos pela crise.

Dentre os empregos alternativos encontrados pelos brasileiros, um deles tem ganhado destaque, e cada vez mais adeptos: trata-se da prestação de serviço de motorista particular oferecido pela empresa multinacional americana Uber. Criada em meados de 2009 nos Estados Unidos, chegou no Brasil no início de 2014, momento que se mostrou ideal para a sua expansão entre profissionais das mais diversas áreas.

Para aderir à Uber, os motoristas têm de cumprir alguns requisitos. Utilizar veículo fabricado há no máximo 8 anos, ter seguro específico exigido pela empresa e apresentar comprovante de antecedentes criminais são alguns exemplos. Uma vez validada a documentação, feita a capacitação online e o cadastro no aplicativo – o que ocorre, em geral, no prazo de uma semana – o motorista pode começar a prestar os serviços. Wilson Veiga, ex-bancário de 31 anos, investiu R$ 170,00 e em cinco dias estava nas ruas. “O processo é muito ágil e organizado. Nunca imaginei conseguir um emprego assim rápido”.

Uma das características mais evidentes do serviço é a flexibilidade dos horários de trabalho, que permite aos motoristas ajustar suas rendas conforme eventuais necessidades. Assim, o serviço se coloca como alternativa tanto para cidadãos desempregados, como para aqueles que, pelas mais variadas razões, pretendem incrementar os ganhos mensais.

Os exemplos de profissionais que, antes, dedicavam-se a atividades diversas – e que viram a Uber como uma solução à crise econômica – não são poucos. Marcel Watanabe, corretor de imóveis desde os 25 anos, conta que encontrou, aos 43, dificuldade em trabalhar no ramo. Por isso, decidiu atuar, nas horas livres, como motorista e complementar seus rendimentos.

Situação semelhante é a de Carlos Freire, 38 anos, professor particular de inglês que perdeu muitos alunos. Com maior folga de horário, aproveitou o tempo extra e as distâncias entre as residências dos alunos. Chega a trabalhar como motorista cerca de 40 horas por mês, o que lhe garante que seus proventos não só sejam mantidos, como também aumentados.

Se para os prestadores dos serviços a alternativa tem se mostrado uma nova e viável forma de renda, para os passageiros também existem vantagens. Dentre elas, a classificação dos motoristas segundo as notas atribuídas pelos próprios usuários do serviço, o que resulta em ganhos de eficiência e segurança.

Além da pontuação, os clientes podem fazer comentários pelo aplicativo caso não tenham ficado satisfeitos. Leticia Gouveia, estudante de 18 anos, afirma que, após uma corrida na cidade de São Paulo, informou à empresa sua insatisfação com o motorista, que havia errado diversas vezes o percurso. Menos de 24 horas depois, a companhia respondeu a mensagem desculpando-se e reembolsou o valor do trajeto. Segundo ela, “o fato de a iniciativa privada se responsabilizar pela prestação de certos serviços tradicionalmente tidos como públicos tem demonstrado uma expressiva melhora na qualidade das atividades”.

Apesar de reconhecerem a importância do serviço no atual cenário brasileiro, muitos dos motoristas não se vislumbram na função nos próximos cinco anos. Gilberto Ferreira, 30 anos, engenheiro e ex-empregado de uma das maiores construtoras do Brasil, afirma que perdeu o emprego no início de 2015, e, encontrou na Uber uma forma temporária de manter a receita de sua família. “Acho interessante a proposta feita pela empresa e consegui que minha renda fosse reduzida em apenas 20%. No cenário atual vejo como algo positivo, mas, a longo prazo, gostaria de voltar a atuar como engenheiro. A vida estressante do trânsito não é para mim”.

Felipe Silva, 34 anos, e três de seus colegas advogados perderam o emprego em janeiro de 2016. Os cortes no escritório foram altos, e o serviço de motorista particular foi a solução para dois deles. Apesar disso, todos continuam encaminhando currículos para que, assim que possível, possam voltar a atuar no ramo.

O perfil da maioria dos motoristas, assim como Gilberto e Felipe, é de profissionais que, embora tenham nível superior, encontram dificuldades em se recolocar no mercado de trabalho. Como alternativa – e temporariamente – aceitaram um emprego diferente como solução.

Sobretudo por ainda não ter a sua regulamentação definida pelas autoridades, os próximos passos da Uber no Brasil são incertos. Porém, uma vez superado esse obstáculo, a deficiência dos serviços públicos no atendimento à população e a falta de perspectiva de melhora no curto prazo devem fazer com que a empresa solidifique sua presença no país, o que, inclusive, trará concorrentes para o setor.