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Edição Especial – Junho de 2016

 

As redes sociais são a maneira mais fácil e completa de expor uma opinião hoje em dia. Você pode falar o que quiser atrás de uma tela e ser julgado por isso. O assunto feminismo é um dos mais discutidos, visto que desperta inúmeras opiniões diferentes. “As redes sociais têm sido importantes para colocar o tema em pauta, que fica mais acessível para as pessoas”, diz Juliana Guimarães, usuária do Twitter. Para Janaína Oliveira, também usuária do microblog, ainda assim é difícil encontrar usuárias que realmente sejam engajadas no movimento e que estejam interessadas em passar o conhecimento adiante. “É importante ser didático sempre que possível. Na maioria das vezes lidamos com pessoas que não conhecem o movimento profundamente”, conta.

Ao observar e pesquisar nas ferramentas de busca das redes sociais, nos deparamos com homens e mulheres que apoiam e rejeitam o feminismo em um teor quase de guerra, onde o termo “feminazi” é bastante usado por aqueles que não se identificam com o ideal feminista. “Sempre tem alguns que se incomodam. Geralmente homens por motivos óbvios. Mas vale a pena continuar falando sobre isso na internet porque recebo muitas mensagens positivas vindas de mulheres, então é o que importa”, relata Juliana. “Não é nada legal ser comparada com nazistas e ler várias vezes em pleno 2016 que você deve voltar para a cozinha, de onde nunca deveria ter saído. Sinto como se não tivéssemos evoluído nada”, completa Raíssa Oliveira, usuária do Facebook.

As hashtags em apoio às mulheres e ao movimento também têm ganhado atenção e repercussão. Uma das mais usadas foi a #meuprimeiroassédio, que ganhou muita repercussão e inspirou marchas de protesto no México e na Argentina. “Fui abusada pelo meu pai na minha infância. Eu tinha uns 9 ou 10 anos e ele me ameaçou caso eu contasse para alguém. Acho que por isso me tornei rude, agressiva e tímida”, relata uma usuária anônima do Twitter. Outra hashtag de bastante repercussão foi #meuamigosecreto, que teve o mesmo propósito de denunciar abusos sofridos por mulheres e acabou virando livro publicado pela página “Não Me Kahlo”, do Facebook, dedicada a lutar pelo feminismo nas redes sociais. Em um caso mais recente, a frase “bela, recatada e do lar” usada por uma revista de grande veiculação nacional para se referir à Marcela Temer, mulher de Michel Temer, chamou muita atenção nas redes sociais pelo seu tom misógino. Mulheres de todo Brasil se juntaram para postar fotos que contradizem a manchete, gerando muitos protestos nas redes sociais.

Ainda no Facebook, existem várias páginas dedicadas ao movimento. A “Diários de Uma Feminista”, criada por Lizandra Souza, tem mais de 200 mil curtidas e uma média de dois milhões de acessos por semana. “Percebi que pelas redes sociais podemos agir e mudar mentalidades, desconstruir ideias machistas, incentivar mulheres a se fortalecerem e tomarem consciência da opressão que sofrem na estrutura patriarcal. Assim, podemos reverter a situação de desvantagem social”. Lizandra também conta que recebe muitas denúncias do Facebook vindas de grupos misóginos que querem derrubar a página por se ofenderem com as publicações. “Uma forma de fugir disso foi criar também um blog, que é mais eficiente que o Facebook em se tratando de garantir o direito dos seus usuários”.

Para algumas meninas, nem sempre a web ajuda a divulgar o verdadeiro objetivo da causa. “Graças ao capitalismo, o feminismo midiático se tornou algo bem liberal, voltado ao âmbito individual e não ao coletivo concentrado em ir à raiz da opressão da mulher”, diz Juliana. “Algumas pessoas usam o nome do movimento apenas para comercializar ou se promover e acabam dando uma ideia ruim do que ele realmente trata”, acrescenta Raíssa.

Não é novidade que mulheres batalhem diariamente para ter direitos iguais aos dos homens, e em 2015 o feminismo na web ganhou mais força e apoio do que nunca. “O final do ano passado ficou conhecido como ‘o ano do feminismo na internet’, pelas várias campanhas que foram lançadas e ‘viralizadas’”, diz Lizandra. “É inegável que com as redes sociais o tema passou a ser mais abordado, sobretudo entre jovens. Houve progressos, se considerarmos que mais mulheres estão tendo contato com o feminismo. A situação semelhante de opressão nos mostra que não estamos sozinhas nesse ‘barco’ e que juntas somos mais fortes”, completa.

Há um longo caminho a ser percorrido em se tratando do movimento. Ainda existem pessoas que não entendem o seu verdadeiro propósito e rejeitam completamente a ideia. Vídeos de mulheres que dizem não ser feministas por não precisarem bancar a vítima e odiar homens acabam “viralizando”, como o de Thamara Maria, que hoje conta com quase um milhão e meio de visualizações e inúmeros comentários negativos. “O feminismo não é um movimento que odeia os homens. Esse é só o meu hobbie”, dispara uma usuária em contrapartida.

Muitas mulheres mudaram de ideia sobre o assunto graças a discussões na internet. Ao ser questionada se já discutiu com alguma internauta que não se considerava feminista e acabou mudando de ideia, Janaína diz: “Sempre rola, né? A mulher pesquisa melhor começa a ver tudo do ângulo de ‘ser mulher’ e vê que a luta é justa”. Para Juliana, isso ocorre quando elas não têm conhecimento do assunto ou então, uma ideia demonizada sobre ele. Mas com uma boa conversa civilizada, tudo se resolve. “A atenção ao movimento tem sido ótima, mas não acabou ainda e não vai acabar por um bom tempo. Mas pode ter certeza que estarei aqui lutando por tudo que merecemos e acreditamos. Não é uma guerra, só queremos justiça”, conclui Raíssa.