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Edição nº 1 – 2014

 Paulo Borges, empresário, promotor de eventos e criador da São Paulo Fashion Week Crédito: site São Paulo Fashion Week

Paulo Borges, empresário, promotor de eventos e criador da São Paulo Fashion Week
Crédito: site São Paulo Fashion Week

O maior acontecimento de moda da América Latina, a São Paulo Fashion Week, encerrou a sua 37ª edição com números expressivos para a economia brasileira: foram gerados R$ 2 bilhões em negócios somente na semana do evento, hoje considerado o 5º maior do mundo. Segundo a ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), é o segmento que mais cresceu no mundo (cerca de 300%) ao longo da última década. Entretanto, com desfiles sofisticados, a São Paulo Fashion Week ainda está longe de ser uma exposição de tecidos, cores e tendências para uso de todos.

A temporada que aconteceu no período de 31 de março a 4 de abril, no Parque Cândido Portinari, Zona Oeste de São Paulo, contou mais uma vez com a presença de renomados estilistas, que transformaram os 850 mil metros do Parque em uma exposição de coleções refinadas, tramados elegantes e modelos um pouco fora dos padrões “normais”.

A São Paulo Fashion Week foi criada em 1996 com o nome de Morumbi Fashion Brasil, pelo empresário e promoter de eventos, Paulo Borges.

Pedro Lourenço, estilista  Crédito: site São Paulo Fashion Week

Pedro Lourenço, estilista
Crédito: site São Paulo Fashion Week

A partir dela marcas internacionais como Versace, Chanel, Gucci, começaram a vir para o Brasil, trazendo uma relevância significativa ao mercado têxtil do país. Desde então, estilistas, produtores, modelos, patrocinadores, jornalistas, agências, indústrias e técnicos se profissionalizaram e ganharam espaço na área. O principal objetivo do evento deixou de ser apenas a divulgação do trabalho dos criadores, destacando também as áreas da organização e da produção de moda no Brasil, a internacionalização dos desfiles e o incremento de novos negócios.

Hoje o evento acontece duas vezes por ano nos meses de março e outubro. Entretanto, apesar de ser um acontecimento muito bem visto pelos críticos de moda e pela imprensa de todo o país, sempre divulgado nos principais sites e canais de mídia focados no ramo, seu acesso é permitido apenas ao público do setor. A população de modo geral não comparece ao evento – o que a impede de conhecer melhor o mundo fashion.

Alexandre Hercovitch, estilista Crédito: site São Paulo Fashion Week

Alexandre Hercovitch, estilista
Crédito: site São Paulo Fashion Week

No ano passado, Paulo Borges fez com que alguns passageiros da linha amarela do metrô de São Paulo acompanhassem alguns desfiles. No dia seguinte, levou o evento ao CEU Casablanca, na Zona Sul da cidade, possibilitando que os moradores vissem de perto algumas coleções. Uma ideia muito bem-vinda, oportuna e estratégica, já que o mundo das passarelas estava vivenciando uma questão polêmica: se moda devia ou não ser vista como cultura. Tal questão se deu pelo fato de os estilistas Pedro Lourenço, Alexandre Herchcovitch e Ronaldo Fraga estarem usando recursos da Lei Rouanet.

Um exemplo de que a moda não precisa estar restrita a um circuito mais glamoroso é a grife 1DASUL. Reginaldo Ferrez, morador do bairro Capão Redondo, Zona Sul de São Paulo, teve a ideia em 1999 de criar uma marca com a identidade de sua cultura, de seu povo, da periferia, para valorizar o seu “gueto” como ele mesmo gosta de destacar. Desempregado, com alguns poucos reais, ele foi até o Brás, comprou algumas camisas e estampou a 1DASUL. O logotipo, segundo o criador, vem do conceito de todos serem 1 na luta pelo mesmo ideal, 1 pela dignidade das periferias.

Sem ajuda de grandes empresários e da mídia em geral, Ferréz conta há 15 anos com o talento, o trabalho e a dedicação de desenhistas, costureiras e vendedores da periferia para criar, confeccionar e vender as peças. Empregando mais de 15 funcionários, que são moradores da comunidade, Reginaldo conseguiu gerar uma economia sustentável para o bairro, dando oportunidade e utilidade a estes trabalhadores.

Ronaldo Fraga, estilista Crédito: site São Paulo Fashion Week

Ronaldo Fraga, estilista
Crédito: site São Paulo Fashion Week

A marca com o tempo se tornou uma resposta do Capão Redondo a toda violência que a ele era creditada. Transformou a região, que muita gente só conhecia pelas páginas policiais, na primeira e única marca criada e mantida na periferia de São Paulo. A 1DASUL produz, por mês, mais de 70 itens, entre eles, camisas, blusas, carteiras, cintos, bonés, toucas e acessórios.
Reginaldo afirma: “A marca vende para muitos estados como Paraná, Minas Gerais e Bahia. E também para os turistas que passam anualmente pela região. Além disso, já exportou algumas peças para a Alemanha e recentemente para o Japão”. Hoje a loja estabelecida no Capão Redondo tem mais de 50 metros quadrados.

Reginaldo Ferrez  Foto: arquivo pessoal

Reginaldo Ferrez
Foto: arquivo pessoal

Para ajudar a manter projetos sociais na região, a marca 1DASUL promove quermesses, festas comunitárias, shows de hip-hop, oficinas e palestras literárias. Todos os sábados, durante o dia inteiro, Ferrez distribui livros e incentiva crianças a trocá-los e conhecer novas histórias. Convida poetas e escritores a recitar poemas e trechos de narrativas clássicas no Espaço Fábrica de Cultura Capão Redondo, que organizou com a ajuda dos moradores da região.

Nesses encontros, Reginaldo faz questão de relatar fatos e acontecimentos que vivencia no bairro. Deles, surgiu a ideia de escrever o livro “Capão Pecado”, que conseguiu editar com o dinheiro da venda de um computador. Depois que o livro foi divulgado na “Ilustrada” da Folha de S. Paulo, ele conseguiu notoriedade da imprensa e passou a participar de Saraus de literatura pelas periferias de São Paulo, em eventos no Itaú Cultural e em programas de TV, sempre mantendo o objetivo de divulgar a marca 1DASUL e o bairro do Capão Redondo.

Logotipo 1DASUL Foto: arquivo pessoal

Logotipo 1DASUL
Foto: arquivo pessoal

Perguntado se aceitaria desfilar no maior evento de moda da atualidade, a São Paulo Fashion Week, Ferrez responde: “Estamos fazendo há 15 anos moda de periferia. Temos que ocupar os espaços, porém com a mesma seriedade e sem perder a identidade de quando tudo começou”.

loja da 1DASUl Foto: arquivo pessoal

loja da 1DASUl
Foto: arquivo pessoal


 

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