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Edição nº 3 – Junho de 2015

 

Moda e arte sempre andaram muito conectadas. E quando a confecção de acessórios é produzida por artesões, por meio de processos minuciosos, conseguimos perceber mais essa semelhança. Foi com esse intuito que a FAAP trouxe o Festival des Mètiers da Hermès para o Brasil. Famosa por organizar mostras como a do fotógrafo de moda Erwin Blumenfeld e do estilista Christian Lacroix, a instituição recebeu no mês de maio o festival que atraiu 16 mil visitantes em dez dias.

A exposição que já foi exibida em vários países do mundo, da Tailândia até Viena, foi criada pela marca francesa Hermès. E traz artesãos da maison para mostrar ao público técnica utilizadas para criação de acessórios, como se estivessem exercendo seu trabalho cotidiano nas oficinas, onde é possível acompanhar desde a estampagem manual dos lenços (chamado de carrès) até criação de relógios e joias. Em todos os processos os artistas explicam passo a passo e intérpretes traduzem para o público.

Náthaly Adamo, estilista, visitou a exposição e conta que foi motivada por curiosidade nos processos de produção. “Comprovar que a maior parte das etapas ainda é feita, hoje, de forma manual me encantou”, afirma.

Os carrés

Da criação das estampas até a chegada dos lenços às lojas são dois anos de trabalho. A artesã Frédérique Colomb, na grife há 15 anos, demora cerca de 700 horas para decalcar o desenho, previamente criado por um designer, separando-o em camadas diferentes de acordo com a cor. Para Colomb: “A beleza do trabalho é a imperfeição, traçar um risco que foi feito pela mão humana e não por uma máquina”.

As camadas são ampliadas e transformadas em grandes placas de metal vazadas. Que posteriormente são sobrepostas a 100 metros de seda, fabricadas de casulos exportados do Paraná para a França, estendidas em uma grande mesa. O artesão despeja tinta, preparada artesanalmente com 65% de água e goma arábica, na placa. E com ajuda de hastes de metal espalha o pigmento sobre as áreas vazadas transportando-o para o tecido.

Chefe do atêlie de lenços da Hermès mostra o processo estamparia no Festival des Mètiers | Crédito: Priscila B. Sant’Anna

Chefe do atêlie de lenços da Hermès mostra o processo estamparia no Festival des Mètiers | Crédito: Priscila B. Sant’Anna

O processo é repetido trocando as placas e completando o desenho. Os carrés podem ter de 13 até 42 cores diferentes. Posteriormente serão secados e lavados com um sabonete neutro enquanto as barras são costuradas a mão com fios de seda tingidos na exata cor do desenho do lenço. Por ser o carro-chefe da marca, a formação dos mètiers responsáveis por estampar os lenços começa na escola de artesão da Hermès e chega à faculdade de Belas Artes francesa. “O tempo que gastam em treinamento e formação dos artesãos para garantir o melhor resultado é impressionante” conta Ana Paula Júlio, empresária de joias, que visitou a exposição.

Kamel Hamadour, chefe da estamparia, diz que não existe estoque de nenhum modelo de lenço, já que eles são desenvolvidos na quantidade exata dos pedidos feitos pelas lojas ao redor do mundo.

Artesão monta máquina de relógio durante o Festival des Mètiers | Crédito: Priscila B. Sant’Anna

Artesão monta máquina de relógio durante o Festival des Mètiers | Crédito: Priscila B. Sant’Anna

A bolsa Kelly

O que mais atrai olhares curiosos na exposição é a confecção de uma bolsa de couro inteira, que demanda cerca de 20 horas de trabalho. Que consiste em costura à mão, aplicação de ferragens e acabamento. Responsável pela montagem das peças, Dominique Silva afirma que a parte mais difícil são as alças da bolsa, já que são gastas horas apenas para fazer seus acabamentos. “Trabalhando na marca, eu redescobri a precisão e a busca pela perfeição”, diz. Tanta minúcia é justificável, já que uma bolsa dessas jamais costuma ser trocada na loja, custando em torno de R$20 mil.

Outra bolsa da marca, chamada de Birkin, demora de três a quinze dias para ser fabricada, chegando a custar algo em torno de R$450 mil. O nome é uma homenagem à famosa atriz e cantora francesa Jane Birkin. Que fez parte da clientela de artistas da marca, assim como a atriz Audrey Hepburn, também consagrada pelo uso dos artefatos Hermès nos anos 1960.

Artesão de bolsas faz acabamento da alça de uma bolsa Birkin | Crédito: Priscila B. Sant’Anna

Artesão de bolsas faz acabamento da alça de uma bolsa Birkin | Crédito: Priscila B. Sant’Anna

O item mais curioso do festival é a sela de montaria, já que a marca surgiu confeccionando peças para cavalo – acessórios que estão presentes no catálogo de produtos até hoje. Na selaria elas são confeccionadas pelo artesão Ricardo Velman e levam cerca de trinta horas para serem montadas, pois demandam simetria perfeita e costura de várias camadas de couro juntas.

O Festival des Mètiers mostra o lado artístico dos acessórios de moda. E a grande afluência de público ao evento comprova que a moda exerce muito fascínio. Fato que levou o MASP a planejar para muito breve uma exposição com seu acervo de moda. E organizar em 2016 uma mostra com o trabalho de vários estilistas.

 

 

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