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Edição nº 6 – 2016

Quando se chega em Amsterdam é possível perceber o clima hospitaleiro dos moradores locais. Além de encantadora por seus canais, bicicletas e flores, a charmosa cidade é reconhecida por seu espírito liberal e cultura.

A capital holandesa localizada na Europa Ocidental, é muito procurada por seus coffeeshops onde o uso de algumas drogas é autorizado. A prostituição também é legalizada e um bairro foi dedicado somente a isso, chamado de Red Light District. Apesar da sua liberalidade, a cidade é muito organizada e rica em cultura, com diversos museus disponíveis a quem interessar.

Muitos artistas renomados já passaram por Amsterdam. Um exemplo é o pintor impressionista Van Gogh, peça importante do local. O holandês que residiu na cidade, tem um museu dedicado às suas obras. Além dele, Rembrandt Harmenszoon van Rijn, considerado um dos maiores pintores da Europa, também tem suas origens de lá.

Parte de trás da casa onde os visitantes não têm acesso. Vista que a Anne Frank tinha de sua janela no anexo.

Outro fator que faz com que o turismo na cidade seja grande é o famoso Anexo Secreto onde pessoas do mundo todo podem conhecer de perto a história da garota judia, Anne Frank.

Ela e sua família se esconderam em uma casa que fica localizada no canal de Prinsengracht entre os anos de 1942 a 1944, para fugir dos nazistas na segunda guerra mundial, quando a Alemanha atacou a Holanda.

Após dois anos escondidos no chamado anexo do prédio, onde funcionava a fábrica de seu pai Otto Frank, a família e mais quatro pessoas foram descobertas e levadas para os campos de concentração. O seu pai Otto, foi o único sobrevivente entre as oito pessoas que ficaram na casa.

A família recebia ajuda de alguns funcionários da fábrica que os mantinham lá dentro. No local, em horário comercial todos tinham que ficar imóveis para que ninguém descobrisse o esconderijo. Não se podia andar, ir ao banheiro e nem comer.

O relato de todos os momentos foi descrito por Anne Frank em um diário que ela ganhou em seu aniversário. O sonho da menina que queria ser escritora e publicar um livro se tornou real após a sua morte. Hoje o seu diário é best-seller mundial.

Anne começou a editar o seu diário após ouvir a notícia, pelo rádio, de que relatos pessoais seriam publicados em forma de livro após o fim da guerra.

“O melhor de tudo é poder escrever todos os meus pensamentos e sentimentos: se assim não fosse, já teria sufocado completamente.” Frase de Anne descrita no livro.

Miep Gies, secretária que ajudou a família, guardou o diário da menina até o fim da guerra, quando o entregou a seu pai Otto, após o seu retorno.

“Espero que o livro de Anne tenha uma influência permanente para o resto da tua vida, e que trabalhes dentro do possível e com uso das tuas capacidades, para a união e a paz.” Resposta de Otto Frank para alguns leitores do Diário de Anne Frank.

Após ler o livro e com uma viagem marcada para Amsterdam, resolvi me aprofundar mais nesta história real.

Além da visita ao museu, que já havia planejado, decidi falar com uma colega de sala da Anne Frank, que sobreviveu ao holocausto e a viu pela última vez, antes de sua morte dentro do campo de concentração.

Nanette Konig, tem 87 anos e hoje reside em São Paulo. Infelizmente não pudemos nos encontrar, mas ela me indicou o diretor do museu da Anne Frank, Ronald Leopold, que me recebeu muito bem em Amsterdam.

“A Nannete também quase morreu mas conseguiu sobreviver. Ela é uma pessoa muito forte e muito inteligente. Hoje ela conta sua história em palestras e museus”. Contou Ronald.

Dentro do museu, em um café, ele pode me contar em uma conversa muito agradável, sobre a importância do local nos dias de hoje e me mostrou a parte de trás do anexo, onde o público não tem acesso. Lá pude observar a vista que Anne tinha de sua janela.

No museu pude aprender mais sobre a sua história. O mais enriquecedor foi o momento de conversa que tive com o Ronald. Para o diretor, o local é tão especial que ele diz não conseguir dizer o suficiente para expressar o seu apreço.

Ronald Leopold – Diretor do Museu da Anne Frank

“É uma honra ser o diretor daqui. Esse lugar não é somente sobre o passado, é muito mais sobre o futuro. O museu tem duas faces, uma sobre o passado onde você pode entender o que houve na época e outra sobre o futuro como um alerta sobre o ódio entre as pessoas, entre as religiões”. Afirmou Ronald.

O edifício foi aberto ao público em 1960. Após a prisão dos oito escondidos em 1944, o esconderijo que ficava atrás de uma estante móvel, passou a ser saqueado diariamente. Em 1945, quando Otto Frank retornou de Auschwitz, o Anexo Secreto estava completamente vazio. Junto com seus funcionários que ajudaram a ele e a sua família a sobreviver durante a guerra, Otto tentou retomar seus negócios.
O prédio estava em péssimas condições e em 1950, quase foi demolido por especulação imobiliária. Graças a alguns conhecidos de Otto Frank e a pressão da opinião pública, o edifício foi salvo.
“O pai dela foi o único que sobreviveu. Em 1960, ele entregou o diário para ser publicado, até então ele não tinha lido. O diário te encoraja a pensar sobre o futuro. Apenas há 70 anos atrás, 60 mil judeus foram mortos aqui. Esta casa é o único museu no mundo em que você pode visitar os espaços onde eles sobreviveram. Esta é a única casa que não foi ocupada, que foi preservada”. Conta Ronald.
O diretor diz que o vazio dos espaços fala muito sobre o pai de Anne, que perdeu toda a sua família, e sobre Amsterdam.

“Tudo em volta é legal, bonito, mas quando você quer realmente entender a cidade, você tem que aprender sobre este vazio, sobre a sombra que pairou sobre esta cidade. Então quando você é o diretor de um lugar como este é um incrível prazer, é ser um observador pelas pessoas jovens”.
Para Ronald, o local é um ponto de encontro de jovens de diferentes raças, culturas e religiões, para manter a consciência sobre tudo o que houve e discutir o que pode ser feito para um futuro melhor, onde coisas assim nunca mais aconteçam.

“Hoje as pessoas estão mais interessadas e preocupadas com o mundo, com o planeta, com as comunidades, preocupadas em construir um mundo melhor e com o futuro. É maravilhoso ver a energia positiva que os visitantes do museu trazem”. Disse o diretor.

O local recebe mais visitas no verão com 1,3 milhões de pessoas no ano e cerca de 4 a 5 mil por dia.
“O museu é muito importante para ensinar algumas habilidades de como viver em conjunto. Nós precisamos renovar a forma de viver em conjunto, estar em contato com as diferenças. Não é tão fácil, precisamos ouvir os outros. É difícil aprender a viver com outras pessoas de diferentes religiões, identidades e valores”.

Perguntei a ele sobre a Europa estar dividida em alguns aspectos e ele acredita que não apenas a Europa, mas o mundo todo, e que o desafio é aprender a conviver com as diferentes pessoas ao nosso redor.

O Diário de Anne Frank pode ser encontrado com traduções para diversas línguas e em vários lugares do mundo.