O Sítio Morrinhos, também chamado de Chácara São Bento, abriga duas exposições de Arqueologia e o Centro de Arqueologia da Cidade de São Paulo e reúne um acervo com centenas de peças encontradas em escavações arqueológicas realizadas na capital paulista.
Localizado no alto do morro na Rua Santo Anselmo, nº 102, Jardim São Bento, zona norte – é rodeado por árvores frondosas, mesmo com a placa de atrativo turístico passa desapercebido pelos transeuntes da movimentada Av. Braz Leme, há aproximadamente de 290 metros de distância. Já os visitantes podem, em meio as árvores, aproveitar a vista parcial da cidade, que compreende o campo de marte, marginal tietê e os prédios do centro.
O conjunto arquitetônico é composto pela casa sede, casa bandeirista típica do período colonial, e construções anexas. Acredita-se que a construção da casa principal seja de 1702, tal desconfiança é por conta de um detalhe: a inscrição desses numerais esculpidos na porta principal. Ampla e alta, pé direito com cerca de 8 m de altura facilita a circulação do ar deixando-a bem arejada. Foi construída em de taipa de pilão, técnica que comprime e soca a em fôrmas de madeira e dispõe em camadas até atingir a espessura desejada. As construções anexas são de alvenaria de tijolos e foram erguidas posteriormente, em meados do século XIX e início do século XX.
O Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) fez uma extensa pesquisa, no ano de 1983, sobre sua história, contribuindo assim com as investigações arqueológicas e arquitetônicas. A historiadora Márua Roseni Pacce, atuou como responsável por essa pesquisa “A descoberta da história daquele imóvel é fruto de um trabalho árduo realizado em conjunto com arqueólogos, especialistas em restauração, e outros profissionais, éramos uma equipe grande” declarou.
“Comecei meu aprendizado no sítio Morrinhos na década de 1980, regressando há pouco tempo para realizar novas investigações. É um trabalho muito gratificante pois o Sítio de é de grande relevância para a história da Zona Norte e São Paulo como um todo” afirma o Dr. Paulo Zanettini, proprietário da empresa Zanettini Arqueologia, coordenador dos projetos arqueológicos executados no local.
Segundo o levantamento os primeiros proprietários, que se têm registro foram D. Antônio Mendes de Almeida, Capitão José de Góes e Moraes, Coronel Luiz Antônio Neves de Carvalho, Francisco Antônio Baruel, Conde de Milleville. Os vestígios descobertos apontaram que, ao longo do tempo, a propriedade foi utilizada não apenas como chácara de descanso, mas também casa sede de fazenda onde eram desenvolvidas diversas atividades rurais como cultivo de arroz e outras lavouras, fabricação de cerâmica, criação de gado e outros animais. Os proprietários utilizavam essencialmente mão de obra escrava.
A propriedade foi penhorada após o Conde não conseguir pagar aos seus credores. E em maio de 1902 foi levado à leilão, sendo arrematado pela Associação Pedagógica Paulista representante do Mosteiro de São Bento, e durante mais de 40 anos os monges beneditinos viveram local.
O Mosteiro, em 1948, loteia a propriedade, no mesmo ano o imóvel foi tombado pelo IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Porém o monumento foi inscrito no livro do Tombo Histórico em 1974 pelo o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT), sendo reconhecido como patrimônio histórico do município.
Em 1952 os religiosos requisitaram os serviços da construtora Camargo Correa S.A. que formalizou o loteamento e batizou a área de Jardim São Bento. No ano de 1971 Sebastião Ferraz de Camargo Penteado, um dos sócios da empresa, doou a área do sítio para a Prefeitura de São Paulo no intuito de tornar público o uso do imóvel, diante da burocracia enfrentada nos processos a doação só foi reconhecida 8 anos mais tarde, em 1979.
A restauração do imóvel, realizada em três etapas, teve início em 1978 e perdurou até o ano 2000. Em 2011 as exposições arqueológicas foram abertas ao público já o Centro de Arqueologia foi inaugurado em 2006, por mês o local recebe entre 200 a 400 visitantes. O acervo tem utensílios domésticos, objetos de cerâmica, pedaços de ferramentas. Uma das peças mais enigmáticas é uma urna funerária encontrada com restos mortais possivelmente de um índio, na região do Brás, no século XIX.
Paula Nishida, diretora do Centro de Arqueologia, conta um pouco sobre o trabalho dos profissionais da sua área “Nós arqueólogos trabalhamos com um contexto, uma somatória de fatores e dados que possam nos informar sobre as populações, sociedades ou grupos que produziram essas peças. Dito assim, considero todas as peças interessantes, principalmente o conjunto de artefatos que representam o Sítio Lítico do Morumbi, pois nos traz a história das populações que habitaram a cidade de São Paulo entre 5 mil ou 6 mil anos atrás e que não é conhecida para a maioria das pessoas”.
Rodolfo Bueno, um dos moradores mais antigos do bairro, relata com nostalgia as idas ao imóvel durante a infância “O Sítio Morrinhos é muito significativo pois me faz recordar doces lembranças da minha infância, quando eu era menino costumava ir até lá na companhia dos meus pais, naquela época havia um caseiro que cuidava do local, não consigo lembrar o seu nome, mas lembro bem do seu jeito simples e prestativo. Ele mantinha, por conta própria, uma pequena granja e de lá tirava o seu sustento com a venda de galinhas, ovos, pintinhos e porcos. Eu adorava ir naquele lugar, ficava observando aquelas árvores lá da frente, e elas continuam lá do mesmo jeitinho que conheci”.
O patrimônio cultural deve ser conservado e apreciado tanto pelo valor estético como por seu valor histórico.