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Edição nº 1 – 2014

O idealizador do tour, Rogério Cantoni, interpreta o fantasma anfitrião do passeio (Crédito: Rhoxxi Turismo/ Paulo Watanabe)

O idealizador do tour, Rogério Cantoni, interpreta o fantasma anfitrião do passeio (Crédito: Rhoxxi Turismo/ Paulo Watanabe)

Visitar cemitérios com túmulos de celebridades e monumentos de mortos é algo comum em alguns países, se tornou uma opção cultural de diversão. Quem nunca quis conhecer o túmulo de Jim Morrison (The Doors) ou até mesmo de Michael Jackson? O cemitério Père Lachaise, em Paris, abriga túmulos de artistas como Chopin, Oscar Wilde e Edith Piaf e se tornou ponto turístico na cidade. Aberto em 1849, o cemitério de Sleepy Hollow, em Nova York guarda a famosa lenda do Cavaleiro sem Cabeça.

Na Polônia é possível realizar uma visita ao campo de concentração de Auschwitz, onde cerca de 1,5 milhão de poloneses foram exterminados na Segunda Guerra Mundial. Visitantes afirmam até verem fantasmas vagando pelas instalações e ouvirem os gritos das vítimas que morreram ali. O Castelo de Bran, na Romênia é o ponto turístico mais visitado por abrigar a lenda do vampiro Conde Drácula. Outro ponto turístico bastante visitado é o Stanley Hotel, no Colorado, que serviu de inspiração para Stephen King escrever O Iluminado. Lá o visitante pode ter experiências sobrenaturais com o fantasma do fundador do local, que supostamente vaga pelos corredores do hotel. Já no Brasil temos o famoso cemitério da Consolação, onde é possível passear por seus corredores calmos e conhecer túmulos de personalidades como Monteiro Lobato e Tarsila do Amaral (e há quem diga que se pode ter um conversa rápida com a artista).

Esses e outros locais se tornaram verdadeiras atrações turísticas para as pessoas que querem fugir de um passeio convencional. O conhecido turismo mórbido tem se tornado cada vez mais famoso em diversos países. Quem não gosta de lidar com o inexplicável? Ou passou a madrugada navegando na internet lendo sobre lendas urbanas? Afinal, fantasmas são figuras que adoram terminar suas frases com pontos de interrogação e deixam sempre aquela dúvida de “será que aconteceu?”.

Sob a perspectiva de mostrar pontos turísticos mal-assombrados e contar lendas urbanas, mas com o foco de criar uma discussão sobre a mente humana, surge um evento cultural, interessante e divertido na cidade de São Paulo: a Haunted Tour. O projeto temático, que antes era em um ônibus de dois andares, nasceu em formato de encenação cultural com um passeio por pontos da cidade que guardam fatos históricos e lendas urbanas, contados sob o olhar de fantasmas. Com isso é criada uma reflexão sobre as inquietações da mente humana e os problemas de uma grande metrópole. Aqui o lúdico toma conta de uma narrativa animada e questionadora que transita entre dois mundos com uma proposta irreverente de city tour.

Rogério Cantoni, jornalista e idealizador do projeto diz que a ideia não é assombrar o público, mas sim fazer uma ponte entre a mente e a reflexão que tenta iluminar os pensamentos daqueles que estão na viagem. O fantasma-repórter Ângelo (interpretado por Rogério) apresenta uma reportagem ao vivo dos pontos mais importantes de São Paulo, contando histórias assombradas e interagindo com os espectadores.

Encenação cultural e o lúdico se juntam para criar uma reflexão divertida (Crédito: Rhoxxi Turismo/ Paulo Watanabe)

Encenação cultural e o lúdico se juntam para criar uma reflexão divertida (Crédito: Rhoxxi Turismo/ Paulo Watanabe)

Por que não um tour assombrado? Foi o que pensou Rogério quando percebeu que os passeios turísticos atuais sempre tinham uma imagem cansativa e sem atrativos. Então com vontade de fazer algo inovador e diferente no ramo, resolveu juntar o lúdico com a informação e criar uma coisa que fosse divertida e curiosa. O passeio, que dura cerca de duas horas, passa pelos lugares mais sombrios da cidade como, por exemplo, o Cemitério da Consolação, Edifício Joelma, Casa de Dona Yayá e o Teatro Municipal. Todos, com suas peculiaridades próprias, guardam histórias e lendas urbanas. Sempre em visita panorâmica, sem a descida dos espectadores, apenas o fantasma-repórter pode conectar o que esta lá fora com quem está dentro da van. “Cultura, história, fatos verídicos, lendas urbanas, inquietações da mente, cidadania, espiritualidade, humor, crenças, religião, tudo ao mesmo tempo. Fizemos uma opção, pois o objetivo do projeto era trilhar um caminho construtivo e, com isso, a forma de trabalharmos o medo”, diz Rogério.

A vontade de expandir o Haunted Tour para outras cidades é grande, porém a falta de patrocínio para que um ônibus seja capaz de rodar de forma itinerante impede o projeto de crescer. A Secretaria Funerária do Município ajudou somente para a cena final, realizada nos portões do cemitério da Consolação, onde estão túmulos de presidentes, artistas e celebridades. Contar com o apoio da prefeitura seria imprescindível para tornar o tour mais dinâmico. “Mas isso depende ainda da cidade se estruturar para o turismo quanto às questões de infraestrutura”, completa Cantoni, já que muitas vezes o tour encontra imprevistos pelo caminho que percorre.

Se os espectadores tem medo? É evidente o interesse de quem embarca nesse tour. Não somente pelo fator cultural, de muitas vezes conhecer lugares que nem mesmo são visitados normalmente, mas sim pelo prazer de estar em contato com aquilo é sobrenatural. Os fantasmas tornam-se figuras carismáticas ao público, fazendo com que a interação aconteça naturalmente e o espectador se torne também parte daquela encenação.

Apesar de tratar do sombrio, com fantasmas e lendas urbanas, Rogério já avisa: a proposta do projeto não é a de um turismo mórbido. O objetivo é conversar com o espectador sobre questões delicadas através de fantasmas bem humorados e suas histórias. “O assombrado tem outra abordagem, o que o torna instrutivo e, ao mesmo tempo uma opção diferenciada”, completa. Mesmo assim, não deixa de ser interessante e assustador de um jeito divertido.

De forma bem-humorada e inteligente, o tour vai além de simples fantasmas e lendas urbanas. A intenção não é assustar (apesar de algumas histórias serem arrepiantes), mas sim de conversar com o espectador sobre problemas do dia a dia fugindo do tradicional city tour. Unindo encenação cultural, as artes, ao lúdico e a história surge uma opção interessante para conhecer aquela São Paulo que só é evidente a noite, quando as lendas assombradas e lugares escondidos aparecem com os medos de cada um. Afinal, todos seremos fantasmas algum dia.

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