Ruas, avenidas e vias expressas lotadas revelam a situação caótica enfrentada diariamente pelos paulistanos ao se locomoverem principalmente em horários de pico. O que pouca gente sabe é que o transporte aéreo compartilha do mesmo problema. A intensidade do tráfego aéreo não se deve apenas à proximidade dos aeroportos de Congonhas, Campo de Marte e Cumbica (Guarulhos), mas também ao intenso movimento de helicópteros.
Em outras cidades o meio de transporte é utilizado principalmente por equipes de resgate e pela Polícia Militar. Já em São Paulo, o maior uso é corporativo, destinado a empresários, executivos e pessoas da alta sociedade, que buscam maior agilidade para realizar negócios e evitar os constantes engarrafamentos das vias de acesso da metrópole. Nos centros financeiros da capital, como as avenidas Paulista e Brigadeiro Faria Lima, por exemplo, basta olhar por alguns instantes para perceber o sobrevoo das aeronaves, que pousam e decolam dos topos dos prédios.
De acordo com informações do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), a capital conta com uma frota de 692 helicópteros registrados legalmente. Os dados da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) apontam ainda dois aeródromos públicos e 177 helipontos privados (áreas homologadas ou registradas, ao nível do solo ou elevadas, utilizadas para pousos e decolagens de helicópteros).
Para Renato Ramos, piloto de helicóptero desde 1990, um dos principais fatores que tem contribuído para o congestionamento nos últimos anos é o aumento da frota. “O congestionamento aéreo tem se agravado e nem mesmo a crise econômica fez com que ele diminuísse. Observo isso nos aeroportos com operações visuais como o Campo de Marte e nos corredores visuais de helicópteros que são bastante movimentados e exigem maior atenção dos pilotos para evitar colisão” declara.
O despachante aduaneiro Sandokan Correia afirma que o helicóptero é o meio de transporte mais apropriado para a cidade de São Paulo, embora haja um visível excesso na malha aérea. “Utilizo o serviço de táxi aéreo com frequência e muitas vezes, ao retornar de viagem, fico orbitando por um bom tempo aguardando autorização para o pouso”.
Arthur Fioratti, diretor da Associação Brasileira de Pilotos de Helicóptero (ABRAPHE), declara que houve alterações nas rotas em São Paulo tanto na capital como no Estado. “Algumas dessas rotas são obrigatórias e controladas por um órgão específico de helicópteros. Outras são sugeridas, a fim de organizar o tráfego aéreo e minimizar o impacto de ruído sobre a cidade. De uma maneira geral a mudança dessas rotas não impacta de maneira significativa o tempo das viagens na cidade, principalmente para aeronaves de maior performance. O ganho em segurança e menor impacto de ruído são muito mais significativos do que um aumento de dois a três minutos em um trecho, quando e se ele ocorrer”, afirma.
Segundo ele, a ABRAPHE tem um papel fundamental no auxílio ao desenvolvimento de novas rotas perante os órgãos competentes e também na divulgação e orientação para que os tripulantes cumpram os percursos preestabelecidos, principalmente aqueles que são opcionais.
Por trás de cada voo efetuado existe o trabalho realizado pelos controladores de tráfego aéreo, que do alto das torres de comando monitoram decolagens e pousos e dão suporte aos pilotos para que voem com segurança.
Controladores atuantes no Aeroporto Campo de Marte comentam sobre os desafios enfrentados: “Minha profissão exige muita responsabilidade, máxima atenção e concentração para evitar falhas, que caso ocorram devem ser reparadas rapidamente. Me cobro muito por medo de errar, pois o meu equívoco pode ser fatal”, afirma a Sargento Talita Diniz, há três anos na função.
Já Thaís Lago, também militar com mais de oito anos de experiência relata que o movimento no aeródromo de Marte é bem intenso e exige muita dedicação. “Ao longo dos anos, percebo que houve uma melhora considerável que trouxe maior segurança ao espaço aéreo brasileiro”.
Willian Kojo, controlador civil há dois anos na função, diz que diante do fluxo intenso é preciso manter o foco. “A responsabilidade de lidar diretamente com vidas é muito grande. Temos um intenso fluxo de aeronaves aguardando nossas orientações, por isso precisamos ficar atentos para não comprometer a segurança no espaço aéreo”.
Conforme informações da ANAC e do Ministério da Defesa, a previsão de implantação de melhorias e soluções para o setor é de oito anos.