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Edição Especial – Junho de 2016

 

Há quem tenha emprego fixo e opte pelo freela para complementar a renda, mas muitos outros veem neste modelo de trabalho sem carteira assinada uma maneira de continuar trabalhando e ganhando um bom dinheiro, com a possibilidade de equilibrar vida profissional e vida social. Em 2013 o publicitário Nicolas Henriques, de 28 anos, deixou pela primeira vez o trabalho formal e decidiu ser freelancer para poder se dedicar mais aos seus projetos pessoais. Atualmente, trabalha com planejamento, tanto para pesquisas de mercado, como estratégico para empresas e agências de publicidade. “Fiquei nove meses freelando, fui para outro emprego fixo onde fiquei um ano e meio. Larguei tudo de novo por conta desse meu projeto, que agora quero ver crescer e, um dia quem sabe, dar grana para eu não ficar mais vivendo assim” conta. “Na verdade, fico num fluxo constante de vida de freela e vida de fixo, buscando dar aquela alinhada entre o tempo dedicado no trabalho que me paga as contas e o trabalho que me dá realização pessoal”.

Há ainda quem busque o trabalho informal também como forma de evoluir na experiência profissional. “O começo da minha vida profissional já como freela me fez crescer valorizando certos aspectos do trabalho a que talvez em um emprego fixo eu não desse a devida importância, principalmente no relacionamento com o cliente e com o resultado final do meu trabalho” diz o fotógrafo Fábio Souza, 26, que logo no início da faculdade começou a trabalhar como assistente fixo em aulas do Instituto Internacional de Fotografia (IIF), em São Paulo, e também em um jornal pequeno como fotojornalista. O primeiro durou apenas alguns meses devido à “falta de afinidade” com o dono do lugar, já no jornal ele ficou só por um ano. Por ironia, logo começou a trabalhar como assistente freelancer no mesmo instituto onde não se dava bem com o chefe, uma vez que o estúdio de lá era frequentemente alugado para outros fotógrafos que ele acabou conhecendo pelo caminho.

A ideia de que o profissional freelancer é totalmente livre para usar seu próprio tempo da maneira que bem entender é, de fato, bem tentadora a princípio, mas também pode ser uma grande ilusão. Ainda que não siga uma rotina de horário comercial considerada “normal”, no fim das contas quem manda mesmo na agenda são sempre eles: os clientes. “Freelar tem dessas de algo ser urgente, num tiro curto. Eu tento espaçar entre um trabalho e outro, ganhando tempo para cuidar dos meus rolês também” conta Nicolas que, num “plano ideal”, busca ter sempre um ou dois dias livres por semana para seus projetos pessoais, o que quase nunca é possível. “É bem comum ficar com o meio da semana vazio, enquanto todas as outras pessoas estão com a agenda cheia, e aí bem na sexta-feira pode pintar um trabalho para o fim de semana. A vida social sofre um pouco nesse sentido” também explica Fábio.

Mesmo sem entrar em detalhes específicos sobre renda, os profissionais garantem que, sim, aparecem trabalhos e clientes, até mesmo em tempos de crise econômica no país. “Muitos orçamentos caem mesmo. Antes se gastava sem pensar muito, hoje os clientes pensam umas seis vezes antes de fechar um trabalho. Há renegociações, mas acaba fechando porque as empresas precisam da imagem dos produtos para continuar vendendo, não podem cortar essa verba se não eles também param”, explica Bruno Leão, 26 anos, e freelancer há quatro. Em fotografia e vídeo gasta-se muito com manutenção e atualização de equipamentos e softwares, e Bruno conta que começou a ter lucro só depois de uns dois anos de muito trabalho, “fazendo tudo que aparecia”. “Hoje eu já atendo a um ramo específico e posso fazer planos mais concretos” diz. Bruno é fotografo para galerias de arte e também trabalha com vídeo, além de ter clientes na indústria têxtil para quem produz catálogos e afins.

Na verdade, nos últimos anos é notável o aumento de profissionais dessa geração em diversas áreas que se encaixam nessa categoria, o surgimento de plataformas de emprego online especialmente votados para a atividade freelancer e sites onde clientes e profissionais podem entrar em contato. Mas apesar da grande oferta de trabalho o fantasma da “instabilidade”, que acaba desencorajando alguns aspirantes a freela, é real. Como a renda não é fixa, é necessário ter disciplina e organização financeira extras, “Gigante!” ressalta Nicolas, que voltou para o trabalho fixo justamente por não ter se organizado enquanto freelava. É importante ter consciência de que em um mês podem surgir muitos trabalhos que te paguem bem e no próximo, nenhum. Também deve considerar o relacionamento dos clientes com os profissionais que, em alguns casos, geralmente empresas, tratam os prestadores de serviço freelancers “como se fossem marcas com alto capital de giro, deixando os pagamentos para 30, 60, até 90 dias depois que o trabalho foi entregue. Isso mata bastante o planejamento” reclama.

Outra desvantagem óbvia é a falta de benefícios, como plano de saúde, e outros direitos garantidos aos profissionais que têm sua carteira de trabalho assinada. “Mas para mim tudo isso é uma questão de estilo de vida”, pondera Fábio. “A falta de plano odontológico, por exemplo, hoje é compensada pelo fato de eu poder passear tranquilo de chinelo pelo meu bairro numa quarta-feira à tarde e, sim, pretendo continuar desse jeito, até porque a minha área tende naturalmente a me dar essa autonomia”. “Não vejo muitas desvantagens, mas, quando existem, admito que são pela minha própria desorganização. Só que eu tenho essa necessidade de ser, digamos, livre. Hoje em dia eu não assumiria um trabalho fixo, essa vida é uma loucura, mas foi o que eu sempre busquei”, diz Bruno.

Em geral, os “prós” parecem encobrir os “contras”, e os profissionais, ainda que enfrentem dificuldades, mostram-se satisfeitos com seus desempenhos e esperançosos com o futuro. Nicolas até arrisca uma previsão: “vejo um caminho no futuro em que as pessoas não sejam necessariamente freelas, mas também não sejam apenas funcionárias de um único lugar. Algo como consultores que trabalham em dois lugares, ou até três, juntando suas expertises para desenvolver projetos, mas num contrato que garanta certa exclusividade com cada um desses lugares. Acho que isso seria uma boa”.