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Edição nº zero – 2013

Formação acústica dos pernambucanos da Banda Voou em aparição na casa da Musicoteca. Crédito: Kátia Rizzo

Formação acústica dos pernambucanos da Banda Voou em aparição na casa da Musicoteca.
Crédito: Kátia Rizzo

Quem vê aquela casa, parecida com tantas outras entre os bairros da Pompeia e da Vila Madalena, não imagina o que está acontecendo ali. Num domingo de sol, eu descobrira. No portão, um dos moradores e colaborador do site Musicoteca me recebera com entusiasmo. Ao entrar, penso: “Parece que está acontecendo uma festa lá atrás”. Mas uma festa feita de burburinhos, pessoas conversando calmamente com suas bebidas em punhos.

Este primeiro anfitrião me mostra a cozinha, anexada a uma sala bem arejada por um quintal de dar inveja a quem mora em apartamento, como eu. Na sala, decorada com sensibilidade de cores e distribuição de objetos, moderna e descolada, estão quatro músicos sentados no chão, um empunhando seu violão, outro com um bongô e outros dois com a voz preparada. Há uma câmera apoiada num tripé apontada para eles. Do lado de fora, mas não sem pertencer ao ambiente, estão aquelas várias pessoas que dão o clima de “festa”, conversando de forma moderada, esboçando sorrisos, enquanto esperam o que estou prestes a lhe contar. O outro morador da casa, que é o fundador do site solicita um minuto de atenção. Ele avisa que vai acontecer uma gravação ali, e pede que, se caso os nossos inconvenientes celulares tocassem, que atendamos com discrição, para não atrapalhar a concentração da “banda”. Um dos músicos tem a palavra. Ele complementa a Banda Voou, de Recife – PE. Este, conta causos e histórias sobre as inspirações e modos sobre como surgiram as letras que escreveram, entre uma canção e outra, com ajuda dos companheiros. Por exemplo, a história de como foi reconhecido num banco de Recife por uma senhora no dia seguinte ao que um videoclipe foi ao ar no Youtube. Esta gravação que acabo de narrar se junta ao acervo do site da Musicoteca. Explico: é um site que disponibiliza para download, álbuns de bandas independentes (sem uma grande gravadora definida e sem os moldes mercadológicos comuns de distribuição de música) com a prévia autorização destes artistas.

Mas a Musicoteca não é só isso. Seu propósito é disseminar bandas contemporâneas, autorais e o mais importante: brasileiras. Segundo o idealizador Web Mota, “o blog começou com críticas musicais e logo ganhou seus próprios leitores que também eram músicos e compositores de suas próprias artes. Um encontro valioso entre a vontade de tocar e a vontade de compartilhar. Essa é a grande força do atual veículo que se tornou a Musicoteca. Uma conexão forte entre o público que gosta da boa música e os melhores artistas brasileiros, sem distinção e preconceitos sonoros”. Na página do Facebook, que já tem mais de 50.000 seguidores, podemos ver fotos, citações, vídeos e trechos inspiradores de músicas. Cada postagem é seguida de várias curtidas, comentários e compartilhada dezenas de vezes. O sucesso está na linguagem: moderna, fácil e ao mesmo tempo bem elaborada, contemporânea e inteligente.

A Musicoteca também investe em coletâneas igualmente disponibilizadas no site para quem quiser. E se você pensou que estas estavam com os dias contados depois da diminuição de vendas de cds, enganou-se. “Re-Trato”, é composta por reinterpretações de 35 canções do grupo Los Hermanos, autorizadas formalmente por seus autores, obteve mais de 500 mil downloads desde abril de 2012, ano em que a banda carioca fez 15 anos de existência. A faixa “Conversa de Botas Batidas”, regravada pelo cantor e compositor Cícero, foi vencedora do Prêmio Multishow na categoria “Melhor Versão” no mesmo ano. Já a homenagem ao cantor e compositor Antônio Marcos, intitulado “Tributo Amor Maior”, lançado em agosto de 2013, conta com 17 canções reinterpretadas por diferentes artistas, muitos deles não independentes, até o momento, beira a marca de 10 mil downloads.

Uma dúvida pode surgir ao leitor agora: “como o site se mantém?” Ao acessar o portal percebemos a ausência de banners publicitários ou qualquer outro tipo de promoção que gere renda. Todo o acervo, a manutenção e a arte deste site, frutos de estudo deste artigo, são mantidos por outra atividade agregada à musica. Além de um portal de disseminação artística e cultural, há a Agência Musicoteca, que de acordo com uma curadoria realizada entre os sócios, bandas e artistas são escolhidos criteriosamente para que sejam agenciados no mercado musical (e independente) de São Paulo (por enquanto). Espaço culturais como Mundo Pensante, Serralheria e unidades do Sesc, são alvos de contratação destes grupos pré-selecionados. Atividade esta que mantém o site e os saraus na casa Musicoteca, de forma que se mantenha, não só uma simples produtora que comercializa shows de artistas, mas que também cumpra o seu papel mais interessante para a música independente hoje em dia.

 

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