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Edição nº zero – 2013

Ser músico no Brasil não é nada fácil. Entre tantos outros obstáculos, estão a desvalorização da categoria, o desinteresse da grande mídia por alguns tipos de música e a consequente falta de espaços para que músicos mostrem os seus trabalhos. Foi pensando nessa realidade que alguns grupos decidiram se unir a fim de transformar esse panorama. Desde o dia 28 de março de 2006, algo muito especial acontece no número 30 da Praça Nossa Senhora de Fátima, na Vila Marlene, São Bernardo do Campo. É lá que grandes músicos se encontram semanalmente para tocar juntos no já famoso Clube do Choro de São Bernardo.

Criado pelo violonista Marcos Murilo de Almeida Passos, o Clube do Choro tem como objetivo reunir e unir músicos e, principalmente, elevar a moral da música brasileira, preservando-a e promovendo-a. No início, era pequenino, na casa do próprio Marcos Murilo, até que começou a crescer, chamar atenção, e ganhar sua própria sede. Em um ambiente descontraído, o anfitrião Marcos Murilo recebe a todos muito bem, nas noites de quinta-feira, a partir das 20h. Já ficaram famosas as deliciosas sopas que ele mesmo prepara e oferece aos convidados.

Qualquer pessoa é bem-vinda para curtir uma boa roda de choro, e a entrada é gratuita. Existe apenas uma regra que deve ser respeitada: entrou na roda, tem que tocar ou cantar! Em 2011, surgiu um outro projeto dentro do Clube do Choro: a organização da primeira Videoteca de Choro do Brasil. Desde então, vídeos em Full HD são produzidos pelo Núcleo Experimental de Cinema, que fica dentro do próprio Clube e tem como coordenadores os cineastas Bruno Passos e Victor Queiroz. Eles documentam as atividades musicais dos instrumentistas “chorões” da região do ABC e de São Paulo e ajudam a manter viva uma parte da nossa história musical e cultural. Essa iniciativa tem hoje o apoio da Prefeitura de São Bernardo do Campo e do Ministério da Cultura.

Marcos Murilo e seu Clube do Choro não estão sozinhos nessa busca pela valorização do músico brasileiro. Em outubro de 2012, os violonistas Fabyo Aoki, Fernando Alves e Rafael Barrera decidiram criar um clube onde violonistas de diferentes níveis, idades e estilos, pudessem tocar, mostrar seu trabalho e trocar experiências. Assim nasceu o Violão e Ponto – O Clube do Violão Solo. Os encontros acontecem todo primeiro sábado do mês, a partir das 19h, no espaço Companhia dos Pássaros, no Anhangabaú, Centro de São Paulo. A entrada também é franca. Cada um desses encontros traz um convidado profissional que compartilha sua história dentro da música, fala sobre suas técnicas e repertório. Esse convidado é escolhido pelo seu talento, competência, destaque e importância no meio do Violão Solo e não precisa, necessariamente, estar em destaque na Grande Mídia.

Acompanhei as duas últimas edições do Violão e Ponto e me surpreendi positivamente. O ambiente era bastante agradável. Lá se encontravam violonistas de diversas idades e competências técnicas. Na minha primeira experiência como espectadora no Violão e Ponto, eles receberam a musicista Andrea Perrone como convidada especial. Violonista autodidata, a gaúcha tem personalidade forte, que se reflete em sua técnica única e em suas composições. Na ocasião, estava lançando seu CD autoral de violão instrumental. Já na minha segunda visita ao Violão e Ponto, Humberto Colácio foi o profissional convidado. Formado em violão erudito, Colácio participou de importantes festivais de violão, inclusive do Koblenz International Guitar Festival, na Alemanha. Em ambas as edições, os músicos convidados, além de tocar, responderam às perguntas de outros violonistas, inclusive alguns muito jovens. Chamou-me bastante atenção essa diversidade. Como o projeto conta com a dinâmica de palco aberto, qualquer um pode tocar antes da entrada do convidado principal.

Giorgio Arthur, de 18 anos, está prestando vestibular de música e encarou a plateia para mostrar seu trabalho e dar um depoimento afirmando que ser violonista profissional e compositor instrumental é o que mais deseja em sua vida. O mesmo aconteceu com o pequeno Gustavo Farias, de apenas 13 anos, que enfrentou o desafio de tocar no mesmo palco onde grandes nomes já tocaram. Robin Fuchs é alemão, está há pouco tempo no Brasil e é apaixonado pelo violão brasileiro. Faz aulas com um dos fundadores do Clube, o violonista Fernando Alves, e, apesar da barreira da língua, já que não fala bem o português, se aventurou a tocar o que aprendeu de música brasileira até agora e contar a sua história. Essa é a magia do Violão e Ponto – O Clube do Violão Solo. A mistura, as diferenças, as experiências díspares, todas convivendo harmoniosamente para um único objetivo: celebrar a música.

Cabe ainda dizer, encerrando essa matéria, que na última edição do Violão e Ponto, na qual estive presente, também estava lá, a princípio anonimamente, Olga Arruda, diretora da Fábrica de Cultura do Governo do Estado de São Paulo, que ficou encantada com o projeto e já propôs uma parceria aos seus fundadores. Esse é mais um caso de projetos criados por pessoas comuns que chamaram a atenção dos órgãos públicos, que decidiram, então, investir na empreitada. Que essa nova parceria entre iniciativa privada e Estado renda bons frutos! Assim como rendeu para Marcos Murilo e o Clube de Choro de São Bernardo.